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Demitida por sua indiscrição, ex-assessora de Trump conta sua história na Casa Branca

Madeleine Westerhout, que foi afastada do cargo por compartilhar detalhes íntimos da família presidencial, agora publica um livro “para que as pessoas tenham uma imagem mais precisa do presidente”

Madeleine Westerhout assiste a um pronunciamento do presidente Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca, em 2 de fevereiro de 2018.
Madeleine Westerhout assiste a um pronunciamento do presidente Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca, em 2 de fevereiro de 2018.The Washington Post (The Washington Post via Getty Im)
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Off the record é a expressão que, no jornalismo, faz referência a informações obtidas de fontes confidenciais ou extraoficialmente, para não ser publicada. Mas também é o título que Madeleine Westerhout escolheu para o livro que acaba de lançar sobre o período em que foi assessora executiva e depois diretora operacional do Salão Oval da Casa Branca sob o presidente Donald Trump. Não é nada surpreendente na cultura norte-americana, tão prolixa em publicações deste tipo, se não fosse o fato de que a indiscrição de Westerhout causou a sua demissão do que descreve como “trabalho dos sonhos”.

Desde que Trump entrou na Casa Branca ela foi sua assessora e depois foi promovida. De seu escritório, situado na sala de espera do gabinete presidencial, ela podia ver quem entrava e saía, para quem o mandatário telefonava —pois era ela que estabelecia esses contatos— e inclusive esteve presente em alguns momentos históricos das decisões ali tomadas. Essa jovem de 29 anos também acompanhava Trump e a sua família em seus deslocamentos a Camp David e Mar-a-Lago, as residências que eles frequentam em Maryland e na Flórida, respectivamente.

Uma carreira ascendente que prenunciava um futuro sem tropeços, até que Westerhout soltou a língua durante um jantar e foi fulminantemente demitida, no final de agosto de 2019. No livro, que segundo ela pode ser lido como um diário, narra o período que passou na Casa Branca, os detalhes da noite que lhe custou seu trabalho e a confusa situação pessoal que viveu depois de ser mandada embora. Já é quase tradição nestes mais de três anos de governo Trump que colaboradores dele sejam afastados de seus cargos e em seguida façam declarações que retratam um líder mais impulsivo que venerável. Mas a indiscreta Madeleine Westerhout não vai por aí. Em declarações à revista People, disse que seu livro pretende “que as pessoas tenham uma descrição mais precisa do nosso presidente”. E acrescentou: “Acredito que ele ama este país e está fazendo tudo ao seu alcance para manter seguros os cidadãos norte-americanos, e só queria compartilhar com as pessoas o presidente Trump que cheguei a conhecer”.

Westerhout com o ex-governador do Texas Rick Perry, em 2016.
Westerhout com o ex-governador do Texas Rick Perry, em 2016. Brendan McDermid (REUTERS)

É difícil saber se a intenção real é consertar erros do passado ou fazer justiça ao chefe, mas o fato é que, durante um jantar com jornalistas, Westerhout se mostrou bastante linguaruda para o cargo que ocupava, compartilhando detalhes íntimos sobre a família Trump. Acabava de retornar de uma viagem com Donald Trump a seu clube de golfe de Nova Jersey quando outro assessor do presidente a convidou para jantar com quatro jornalistas, num encontro não oficial. No livro, ela conta que eventos desse tipo são comuns entre os funcionários da Casa Branca e relata que “ficou claro desde o começo que tudo o que se dizia lá era confidencial”.

A bebida deve ter feito a sua parte, e Westerhout começou a falar demais. Durante o jantar, disse por exemplo que se sentia mais próxima de Donald Trump que as próprias filhas dele, Ivanka, de 38 anos, e Tiffany, de 26. Sobre esta última, fruto do casamento de Trump com a atriz Marla Maples, de quem se divorciou em 1999, a então assessora presidencial disse: “Tiffany é uma moça que tenta encontrar seu caminho”. E continuou contando que a jovem era complexada por seu peso e não gostava de ser fotografada na companhia de sua irmã Ivanka. Terminou dizendo que Donald Trump nunca prestou atenção à sua filha mais nova e que não gostava de ser retratado com ela devido a seu “sobrepeso”.

Agora relata no livro que naquele encontro se sentiu cômoda e pensou que “tinha o controle total”. E continua: “Eu era o centro das atenções, e uma parte de mim estava gostando. Vem da necessidade de aprovação e do desejo de agradar aos outros, que remonta a desde que tenho lembrança”. A confiante funcionária não contava que suas revelações chegariam ao pessoal da Casa Branca através de um jornalista e seriam a causa da sua demissão. Ela não se pronunciou publicamente, exceto por um tuíte em que agradecia pela oportunidade que teve na Casa Branca. Já Trump se manifestou através de seus habituais tuítes, dizendo que Madeleine Westerhout havia lhe telefonado para se desculpar e disse: “Ela teve uma noite ruim. Entendi completamente e a perdoei! Adoro a Tiffany, está indo muito bem!”.

Foi uma forma de se desculpar também com sua própria filha mais nova, com quem as relações não são tão estreitas como o resto da sua prole. Quando Donald Trump e Marla Maples se divorciaram, mãe e filha foram morar na Califórnia e lá a jovem passou a maior parte da vida, muito unida à atriz, mas distante do ramo paterno, radicado em Nova York. Por sinal, falando sobre seu pai, Tiffany comentou à revista Du Jour que não sabia como é a típica figura paterna. “Não é o pai que me levaria à praia para nadar, mas é uma pessoa muito motivadora.”

No livro, a ex-funcionária de Trump afirma que se tornou insensível em seu trabalho, já que parte dele consistia em “dizer não às pessoas para proteger o valioso tempo do presidente”. E conta que certa vez alguém descreveu esse cargo como “um policial de trânsito no cruzamento mais importante do mundo”. Também lamenta a noite que motivou sua saída da Casa Branca: “Por mais que desejasse que aquele jantar não tivesse acontecido e as coisas não tivessem terminado como terminaram, estou muito contente por tudo o que aprendi com aquilo”, disse à revista People.

Westerhout também opina sobre o criticado hábito tuiteiro de Trump, reconhecendo que algumas vezes o ajudou a escrever aquelas mensagens: “Embora possa haver alguma que eu pessoalmente não goste, acho que prefiro ter alguém que revele honestamente o que está pensando e fazendo a ter alguém que faça outro discurso para a plateia”. Diz que o presidente não é muito fã dos jornais, prefere negociar pelo telefone, se diverte com cada um dos tuítes que lhe ocorrem e “se conecta aos outros em um nível muito pessoal”, pelo que notou da observação diária. Desmente quem diz que não lê, porque na opinião dela está “constantemente” lendo e afirma que “tem mais energia” que os demais membros da Ala Oeste da Casa Branca. Admite que votou em outro candidato em 2016 e que demorou a compreender o atrativo de Trump, mas afirma que o vê como “um grande líder, pai e marido, que só quer saber de olhar para frente”.

Madeleine Westerhout voltou para sua casa na Califórnia, não tem um novo trabalho e nega que seu livro tenha sido feito como um mea culpa integral. Mas o presidente fez o possível para elogiá-lo, e ela espera que o futuro lhe “traga muita paz”.

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