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A poderosa “família de lutadoras” de Kamala Harris: “Minha mãe não era levada a sério, por isso me apresento”

Filhas de uma pesquisadora de câncer e ativista dos direitos civis de origem tâmil, a candidata à vice-presidência dos EUA na chapa democrata e sua irmã, a advogada Maya Harris, fizeram de suas vidas uma luta pela igualdade de direitos

Biden e Harris se apresentam como companheiros de chapa nesta quarta-feira.
Biden e Harris se apresentam como companheiros de chapa nesta quarta-feira.CARLOS BARRIA (Reuters)
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FILE - In this July 15, 2020, file photo President Donald Trump walks on the South Lawn of the White House in Washington after stepping off Marine One. Trump’s pledge to rollback an Obama-era effort to eliminate racial disparities in America’s suburbs is drawing harsh criticism from fair housing advocates, who call it a blatant attempt at racial politics and an appeal to white votes before the November election. (AP Photo/Patrick Semansky, File)
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Quando Gopalan Harris, uma pesquisadora de câncer de mama, se mudou de Nova Delhi para Berkeley (Califórnia, EUA), em 1958, participou ativamente de sit-ins, manifestações e protestos pacíficos contra a Guerra do Vietnã ao lado do marido, Donald Harris, um jamaicano que acabaria como professor catedrático em Stanford. Gopalan decidiu dar às duas filhas nomes de deusas hindus: a primeira, Kamala (pronuncia-se Ká-ma-la, como se fosse proparoxítona e tivesse acento no primeiro “a”), se tornaria a primeira mulher de ascendência asiática e não branca a ser candidata à vice-presidência pelo Partido Democrata ao lado de Joe Biden em 2020; a segunda, Maya Lakshmi, se tornaria advogada e ativista de direitos humanos que foi diretora da ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis) na Califórnia, assessora de Hillary Clinton na campanha de 2016, ativista pela reforma policial e companheira de viagem de Kamala em sua corrida presidencial.

“Não deixem que as pessoas lhes digam quem vocês são, são vocês que devem dizer às pessoas quem são vocês”, aconselhava repetidamente Gopalan às filhas. Foi ela que decidiu criá-las em um bairro negro de Berkeley para que se vissem como mulheres negras e se orgulhassem disso. Também as levava a cada dois anos à Índia e preparava receitas hindus para que as filhas tivessem consciência de onde vinham e estivessem conectadas com suas origens.

Todas essas anedotas sobre a influência política do ativismo da família reforçaram o discurso inclusivo no aspecto racial da campanha presidencial de Kamala Harris quando a senadora da Califórnia enfrentou Joe Biden como pré-candidata à presidência. Um dos vídeos mais virais depois de ter sido confirmada como segunda na chapa democrata, aliás, foi postado no Twitter pela irmã, que recordava a mãe (que morreu em 2009) e garantia que “ela e nossos ancestrais estão sorrindo hoje”. Isto é o que Kamala Harris recorda no vídeo:

“Minha mãe, que criou a mim e a minha irmã, era uma mulher orgulhosa. Era uma mulher indiana com um forte sotaque. As pessoas a olhavam por cima do ombro por causa do sotaque. Não a levavam a sério e questionaram sua inteligência por causa dele. Mas minha mãe sempre provou que estavam errados. Uma e outra vez. E por quem foi minha mãe e pelo que ela acreditava, pelas habilidades que ela tinha para sonhar e trabalhar para tornar isso possível; pelo fato de minha mãe nunca ter pedido permissão a ninguém para que lhe dissessem que era possível é a razão pela qual me apresento como candidata à presidência dos Estados Unidos.”

Kamala Harris contou ao The Washington Post que quando se tornou procuradora e decidiu não aplicar a pena de morte a um homem acusado de matar um policial enquanto patrulhava, uma decisão que despertou a ira do setor policial e de alguns democratas, sua mãe lhe enviou um cartão para o escritório que dizia apenas “Coragem!”. No dia em que oficializou sua candidatura à presidência dos Estados Unidos, ela o fez em Oakland, no mesmo lugar onde dez anos antes espalhou as cinzas da mãe.

O legado do que Harris chama de “família de lutadoras” continua presente. A filha de sua irmã Maya, sua sobrinha Meena Harris, também é advogada, dirige a Phenomenal, uma plataforma de ativismo social feminista, e escreveu um best-seller infantil, o livro Kamala and Maya: Big Idea [grande ideia], uma história que homenageia as irmãs Harris e sua capacidade de “transformar comunidades”.

Ontem a própria Meena, depois do anúncio de que Kamala Harris será candidata à vice-presidência pelos democratas, tuitou: “Está sendo muito emocionante explicar para a minha filha de quatro anos junto com minha mãe o que está acontecendo”. O matriarcado das Harris tem outra geração garantida.

Nesta quarta-feira, Harris e Biden apresentaram sua chapa como de “reconstrução” dos EUA. Os dois compareceram a um centro esportivo em Wilmington, a cidade onde o candidato presidencial reside e onde está confinado nestes meses como uma medida preventiva pela pandemia. O ex-vice-presidente observou que nas 24 horas anteriores à sua aparição, sua equipe de campanha alcançou um recorde de arrecadação de fundos. “Acho que sei por que isso aconteceu”, acrescentou, olhando para Harris, em seu primeiro ato de campanha conjunta para a eleição de 3 de novembro. A senadora da Califórnia, de 55 anos, enfatizou que os Estados Unidos estão “clamando por liderança” e que eles estão “prontos para começar a trabalhar”.

“Kamala sabe governar”, disse Biden, que fará o juramento aos 78 anos se vencer e se definiu como um “presidente de transição”, sugerindo que aspira apenas a um único mandato de quatro anos. Uma Harris emocionada agradeceu a confiança e acusou o presidente Donald Trump. Ela atacou a má gestão do presidente republicano em face da crise do coronavírus, que levou os EUA ao pior cenário econômico desde a Grande Depressão. “[Trump] está tornando cada desafio ainda mais difícil de resolver. Temos a oportunidade de escolher um futuro melhor em apenas 83 dias“, acrescentou Harris. O ex-vice-presidente também culpou o presidente pelas críticas à senadora após anunciar na terça-feira que ela foi escolhida. “Alguém está surpreso que Donald Trump tenha problemas com uma mulher forte?”, questionou o ex-número dois de Obama.

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