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Assassinato de testemunha em caso de corrupção envolve ex-presidente equatoriano Bucaram

Ex-mandatário foi detido e está em prisão domiciliar depois da revelação de alguns áudios nos quais prometia tirar o falecido da prisão

O ex-presidente do Equador, Abdalá Bucaram, durante entrevista à Efe, em 2017.
O ex-presidente do Equador, Abdalá Bucaram, durante entrevista à Efe, em 2017.Alejandro Bolívar (EFE)

Um falso agente da DEA preso pelo Equador em junho foi encontrado morto sábado passado em sua cela. Havia sido espancado. Em seu depoimento à Procuradoria-Geral, disse que o filho de um ex-presidente equatoriano, implicado em um caso de corrupção hospitalar, vendera insumos médicos a ele e a seu colega, outro falso agente de nacionalidade israelense também detido. Um dia depois de sua morte, vários áudios foram divulgados nos quais esse mesmo ex-presidente, Abdalá Bucaram, falava com o israelense assassinado na prisão prometendo-lhe proteção. Ele garantia que poderia tirá-lo da prisão quando seu caso chegasse a um tribunal da província de Guayas. E na manhã de quarta-feira a polícia entrou na casa de Bucaram em Guayaquil e, em uma operação televisionada, levou preso o ex-presidente. O juiz concedeu-lhe finalmente uma medida de prisão domiciliar na manhã de quinta-feira.

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A Procuradoria-Geral foi questionada por não ter solicitado a tempo proteção para a testemunha. As autoridades carcerárias e a polícia também foram criticadas pela morte de um réu que se encontrava sob custódia do Estado. E o corpo judicial também foi criticado por conta das declarações explícitas do ex-presidente sobre sua capacidade de influenciar os juízes.

– Vamos ver, Tom, vamos concretizar isso. Vou tentar que meus amigos te recebam hoje lá dentro [na prisão] e vou tentar fazer com que até segunda-feira o advogado Walter Vallejo vá até aí para ser seu advogado. Um abraço, Tom – diz Bucaram em um dos áudios.

– Tenho sua palavra de que ninguém vai tentar me matar? Nada disso? (sic) – pergunta a testemunha israelense com forte sotaque estrangeiro.

– Sim, já conversamos sobre a palavra e mantenho minha palavra: no tribunal eu te tiro daí.

Com uma voz preocupada, Shy Dahan –que no processo judicial consta como Sheinman Tomer– compartilha seus medos com Bucaram e este o tranquiliza. “Como posso tirar meu filho sem tirar você? Você me dá a mão e eu te dou a mão”, diz o ex-presidente. Depois da divulgação da conversa, Bucaram –que voltou ao Equador em 2017 depois de passar 20 anos exilado no Panamá para evitar duas condenações de 10 anos por peculato que acabaram prescrevendo– esclareceu que, na realidade, não tem influência na Justiça e que só estava fazendo um exercício de “defesa técnica” com o agora falecido. Com seu depoimento, Dahan havia implicado Jacobo Bucaram, um dos três filhos de Abdalá que também estão sendo investigados por um esquema de corrupção na venda de material médico a hospitais durante a pandemia de covid-19.

Antes de prestar depoimento, Dahan foi preso em um controle de rotina na costa equatoriana por não poder justificar a origem dos 321.600 dólares (cerca de 1,726 milhão de reais) que tinha em dinheiro. Quis contornar o problema apresentando uma credencial da DEA (Agência Antidrogas norte-americana) que se revelou falsa e acabou admitindo à Procuradoria-Geral que esse dinheiro lhe fora entregue por Jacobo Bucaram –fugitivo– por 21.440 caixas de material médico.

A Justiça equatoriana abriu diversas investigações por superfaturamento na compra de exames de covid-19 e outros insumos em hospitais públicos, entre elas a que deve apurar se as caixas que foram encontradas na primeira busca realizada na casa do ex-presidente são do mesmo lote das usadas na rede pública de saúde.

– Depois da audiência, o juiz deve se pronunciar e te levar ao tribunal. É aí que nós iremos lutar, onde vamos conseguir e negociar com o tribunal, entendeu? – repete na mesma conversa gravada por Dahan da prisão.

– Você certeza que conhece os juízes (sic)?

– “Como não! Meu advogado também os conhece”.

As revelações desencadearam fortes críticas aos órgãos de controle e, ao mesmo tempo, uma série de reações nas instituições do Estado que precederam a prisão do ex-presidente. A ministra de Governo, María Paula Romo, disse que não cairia na armadilha política de responder às acusações de perseguição alegadas por Abdalá Bucaram antes de sua captura. A Procuradoria-Geral anunciou uma investigação sobre a morte da testemunha na prisão, mas justificou que Dahan não havia sido incluído no programa de proteção porque ele mesmo e o outro falso agente preso se recusaram. O Conselho da Magistratura, diante das suspeitas da existência de juízes realmente sob controle do esquema, apresentou uma denúncia à Procuradoria-Geral e, posteriormente, suspendeu um juiz que, apesar do assassinato da testemunha israelense, preferiu que seu companheiro não prestasse depoimento antecipado, mas que esperasse para fazê-lo em uma audiência prevista para esta quinta-feira.

O presidente Lenín Moreno também manobrou diante da repercussão dos acontecimentos e decretou estado de exceção em todo o sistema penitenciário, referindo-se ao risco de “convulsão social” e ao controle interno exercido pelas gangues criminosas. Horas depois dessa decisão, a polícia prendeu Abdalá Bucaram sob a acusação de crime organizado, mas antes de ser apresentado ao juiz o ex-presidente passou mal e foi levado a um hospital. Seu advogado disse que havia sofrido um pré-infarto.

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