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Biden decola nas pesquisas contra um Trump enfraquecido pela crise

Novo surto de coronavírus acrescenta problemas ao presidente, que acelera sua campanha

Joe Biden coloca uma máscara na quarta-feira após acabar sua fala em um comício em Lancaster (Pensilvânia).
Joe Biden coloca uma máscara na quarta-feira após acabar sua fala em um comício em Lancaster (Pensilvânia).Matt Slocum (AP)
Amanda Mars

A múltipla crise pela qual passam os Estados Unidos apresenta sua conta a Donald Trump aumentando nas pesquisas seu concorrente democrata em relação às eleições presidenciais de novembro. O ex-vice-presidente Joe Biden, que se mantém confinado pela pandemia de coronavírus e reduziu ao mínimo os atos externos, tem 10 pontos de vantagem em relação ao presidente, de acordo com a média das pesquisas elaborada pelo Real Clear Politics. A quatro meses das eleições, é a maior distância entre os dois desde o começo do ano. O novo surto do vírus acrescenta problemas ao republicano, que multiplicou sua agenda.

Quando se olha às pesquisas de 2020 sempre volta à lembrança o ano de 2016 cujos resultados nas urnas questionaram as sondagens. A vantagem de Hillary Clinton nacionalmente se manteve até o final, mas terminou derrotada frente a um candidato que parecia impossível, o histriônico magnata Donald Trump. A democrata ganhou em votos, por quase três milhões, mas a eleição nos Estados Unidos é indireta e, ao se traduzir cada cédula em votos eleitorais (ponderados por territórios), perdeu. A derrota em Estados importantes como Michigan, Pensilvânia e Wisconsin decidiu sua sorte.

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Hoje, o modelo eleitoral é o mesmo, mas as pesquisas e o cenário não são equivalentes. No âmbito nacional, a distância entre Clinton e Trump era menor nessa mesma altura na média do site Real Clear Politics: em 25 de junho de 2016, a ex-secretária de Estado liderava por seis pontos (43% a 37%), enquanto quatro anos depois, a diferença nesse mesmo dia —quinta-feira— entre Biden e o presidente chegou a dez pontos (51% a 41%). E os números nos Estados essenciais de 2016, que foram mais duvidosos para Clinton, também estão começando a sorrir ao ex-vice-presidente da era Barack Obama. Biden vence nos três que liquidaram Clinton e perde em Ohio.

O Centro de Política da Universidade de Virgínia também mudou sua nota sobre a Pensilvânia, do empate a favorável a Biden (de onde é originário), e a da Flórida, de controle republicano a empate. Ainda assim, Miles M. Coleman, analista da instituição, diminui as expectativas sobre o mais do que provável candidato dos democratas. “Acreditamos que essas últimas pesquisas mostram um aumento um tanto quanto artificial a Biden. Em parte, se deve à grande exposição de Trump e a pouca de Biden, que não é um candidato brilhante e sim propenso às trapalhadas. Mas essa situação mudará quando a eleição estiver mais próxima e as preferências dos eleitores forem mais claras”, afirma. “Biden está na frente, não há dúvida, mas os números estão um pouco inflados”, frisa.

Uma das últimas pesquisas, elaborada pelo The New York Times e o Sienna College, apresenta uma liderança de até 14 pontos de Biden em relação a Trump, de 50% a 36%, arrasando entre os eleitores negros e hispânicos e aumentando a vantagem entre os jovens e as mulheres. O democrata vence o republicano por 22 pontos no eleitorado feminino, 74 pontos no afro-americano e diminuiu a diferença com Trump entre os brancos. Segundo essa pesquisa, o magnata nova-iorquino supera Biden por somente um ponto entre os brancos em geral, mas mantém 19 entre os que não têm diploma universitário.

As essências de 2016

A história norte-americana diz que os presidentes que vão às urnas costumam ganhar a reeleição, que os presidentes de um só mandato —o democrata Jimmy Carter e o republicano George Bush pai— são mais incomuns do que os de dois. Mas a história topou em 2020 com eleições fora de qualquer parâmetro, com a pior pandemia em um século, que colocou meio mundo em pausa; com uma crise econômica que não era vista desde a Grande Depressão e uma onda de mobilizações sociais, detonadas pelo repúdio ao racismo, que lembram as de 1968. As pesquisas e os precedentes não permitem prever o que pode acontecer nas eleições de 3 de novembro, em que a participação, além disso, será muito castigada pelo coronavírus e as medidas para detê-lo.

Trump perdeu o trunfo eleitoral da bonança econômica, ainda que continue sendo visto nas pesquisas como melhor gestor econômico do que seu rival democrata, de acordo com pesquisas da CNN e do The Wall Street Journal deste mês. Mas tem imagem ruim como comandante em meio à crise sanitária —que já custou 120.000 vidas ao país— e as tensões sociais.

O republicano optou por ser o presidente da “lei e da ordem”, evocando a mensagem de Nixon em 1968, e agitando as essências de 2016: o repúdio à imigração e a reivindicação da identidade branca americana. Encontrou um novo mote na onda de protestos e atos de vandalismo contra estátuas da América escravista e do passado colonial. “Autorizei o Governo federal a prender qualquer pessoa que ataque e destrua um monumento, estátua e qualquer outra propriedade federal nos EUA, o que de acordo com a lei de preservação e homenagem de veteranos pode significar até 10 anos de prisão”, escreveu na quarta-feira em sua conta do Twitter.

No sábado passado, em seu comício de Tulsa (Oklahoma), também anunciou —sem base— que proporia uma lei para que “quem queimar uma bandeira norte-americana fique um ano na prisão”, apesar do Supremo Tribunal determinar em 1989 que fazê-lo é um ato protegido pela primeira emenda da Constituição, a do sacrossanto direito à liberdade de expressão. Teve poucos participantes, mas entusiasmou seu público. As eleições não são ganhas somente com as bases e Trump pouco fez para seduzir os moderados nesses três anos e meio de Governo. Por outro lado, em um corpo a corpo, a energia do republicano apaga Biden. As campanhas de ambos e outros candidatos se dão hoje por canais completamente diferentes, mas à medida que o outono se aproximar se encontrarão.

Convenções políticas díspares

Tanto Donald Trump como Joe Biden ainda devem ser confirmados como candidatos oficiais de seus partidos nas convenções que serão realizadas em agosto. Os democratas anunciaram na quarta-feira que a maior parte dos eventos de sua convenção ocorrerá virtualmente para evitar os contágios do coronavírus e pediram aos delegados e representantes que votarão a candidatura para que fiquem em casa. O ex-vice-presidente aceitará a indicação em um ato em Milwaukee (Wisconsin), local inicialmente escolhido para a festa democrata. Trump, pelo contrário, quer um evento em grande estilo. Brigado com o governador democrata da Carolina do Norte por suas ordens de distanciamento, promoveu a mudança a Jacksonville, na Flórida. Parte da atividade ocorrerá em Charlotte, pelo contrato assinado, mas Trump fará o discurso de aceitação em um grande pavilhão de Jacksonville.

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