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Marquinhos encara o desafio de ser o capitão de uma seleção estremecida pela Copa América pandêmica

Zagueiro do PSG chega à segunda Copa América como um dos líderes do elenco de Tite e a missão de ter mais sucesso que os seus antecessores na zaga. “O primeiro a chegar e o último a sair nos treinos”, lembra preparador físico da base do Corinthians

Marquinhos Copa América Brasil
Marquinhos comemora gol marcado contra a Venezuela.NELSON ALMEIDA (AFP)
Diogo Magri
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Foi do zagueiro Marquinhos, 27 anos, o primeiro gol da seleção brasileira na Copa América 2021. Aos 22 minutos do jogo contra a Venezuela, o camisa 4 teve a categoria para dominar a bola dentro da pequena área e bater de canhota, ao mesmo tempo em que vibrou e uniu o abraço de seus companheiros com a autoridade de um dos capitães do grupo. Três anos após ficar no banco quando o Brasil perdeu para a Bélgica no último Mundial, o zagueiro se tornou o grande destaque da retaguarda do time de Tite. No auge da carreira, ele joga sua segunda Copa América com o status de líder entre os selecionados, a reputação de um dos melhores de sua posição no mundo e a missão de superar uma geração de defensores que, apesar do talento indiscutível, não chegou perto do hexacampeonato mundial, como Fernandinho, David Luiz e Thiago Silva. Caso tenha sucesso continental de novo —ele já foi fundamental no título sul-americano com a seleção em 2019—, Marquinhos terá mais credenciais que os seus antecessores para ser protagonista na Copa de 2022.

Nascido no bairro de Imirim, zona norte de São Paulo, Marquinhos se criou no Corinthians dos oito aos 18 anos de idade. Passou por todas as categorias de base, foi campeão do principal torneio sub-20 do país —a Copinha de 2012— e subiu ao time profissional a tempo de fazer parte do elenco campeão da Libertadores no mesmo ano. Com menos de 20 jogos pelo Corinthians, o defensor foi negociado aos 18 anos com a Roma. E um ano atuando na capital italiana foi suficiente para que o brasileiro já fosse vendido novamente, desta vez por 31,4 milhões de euros (quase cinco vezes o valor de sua primeira transferência) para o Paris Saint-Germain, que já despontava como novo clube bilionário da Europa. No ano que chegou na França, em 2013, também estreou pela seleção brasileira aos 19 anos.

O PSG sabia que tinha comprado um dos zagueiros mais promissores do mundo, mas o sucesso não foi imediato. Colocado na sombra de defensores mais prestigiados pelo clube francês, como Thiago Silva, David Luiz e Kimpembe, Marquinhos ainda ficou marcado pela goleada histórica sofrida pelo Paris contra o Barcelona, em 2017, quando foi um dos maiores alvos de críticas da torcida local. O brasileiro precisou jogar fora de sua posição, como volante ou lateral-direito, para reconquistar espaço, ganhar o respeito dos companheiros e conquistar a admiração dos ultras parisienses. Passou de reserva a referência do elenco. Em 2020, após a saída de Thiago do time, Marquinhos foi eleito pelos próprios companheiros o capitão do PSG.

De contestado pela torcida, ganhou um bandeirão próprio na arquibancada do estádio Parc des Princes e passou a ser o principal porta-voz dos jogadores. Foi o brasileiro quem falou à imprensa sobre imagens de uma festa entre jogadores do PSG que foram publicadas após uma derrota do time para o Borussia Dortmund, no ano passado. “Foi um erro divulgar imagens como essas. Agora, o aniversário em conjunto estava previsto antes do jogo. Não é questão de resultado. Pedimos desculpas ao torcedor que se sentiu desrespeitado, mas ninguém aqui está de brincadeira”, disse na época. “Não me espanta ele ser esse líder porque sempre foi uma coisa natural dele. É um cara que sabe se impor e resolver muito bem esse tipo de situação”, opina Edesildo Silva, o Didi, preparador físico das categorias de base do Corinthians. Didi trabalhou com Marquinhos no sub-13 em 2007, no sub-15 em 2009 e no sub-20 em 2012, quando foram campeões da Copinha.

Marquinhos capitaneando o PSG pela Champions, em abril de 2021.
Marquinhos capitaneando o PSG pela Champions, em abril de 2021.AFP7 vía Europa Press (Europa Press)

O preparador físico relata uma passagem em que o zagueiro, ainda na base do time paulista, mobilizou seus colegas para rasparem o bigode do motorista do ônibus do clube no dia do seu aniversário. “Ele é uma pessoa divertida, mas muito profissional em campo. O primeiro a chegar e o último a sair nos treinos”, relata Didi. “Quando tínhamos que demonstrar um exercício no treino, ele era sempre o escolhido”, conta. Leandro Idalino, membro da comissão técnica que venceu a Copa São Paulo de 2012 com Marquinhos como capitão corinthiano, relata outro episódio para exemplificar a postura do zagueiro. “Quando acabava o treino, ele ia para o paredão do CT treinar a perna esquerda, já que é destro. Sempre foi muito focado nos pontos em que precisou melhorar”, diz ele.

O profissionalismo e a qualidade de Marquinhos se refletem na seleção brasileira. Convocado antes dos 20 anos de idade, foi capitão do time de Tite pela primeira vez em 2017 e, durante as Eliminatórias para a Copa de 2018, era o zagueiro titular ao lado de Miranda. No Mundial, porém, perdeu o lugar para Thiago Silva e só entrou nos acréscimos da vitória contra o México, pelas oitavas de final. Retomou a posição no pós-Copa e foi titular na campanha campeã na Copa América de 2019, o primeiro título de Tite à frente da seleção. “É uma evolução natural, tanto na seleção quanto no clube, de um atleta que sempre se dedicou muito e hoje está no auge. É um zagueiro completo, que está na prateleira mais alta do futebol mundial”, opina Idalino. “É gratificante acompanhar o crescimento de alguém que trabalhou conosco mesmo à distância”, completa Didi.

Além de titular absoluto de Tite, Marquinhos foi capitão do time na última partida antes da criticada edição de 2021 da Copa América, agendada de última hora para o Brasil. No dia em que os atletas se manifestaram, através de um comunicado nas redes sociais, para se posicionar sobre a realização da competição no país —se colocando contra a organização, mas confirmando que jogariam—, Marquinhos foi o único jogador a falar com a imprensa sobre o assunto. “Em momento algum negamos vestir essa camisa. A partir de agora vamos ver o que vai ser decidido. Existe uma hierarquia. Sabemos do nosso papel”, disse ainda na saída de campo. Depois, ao lado de Tite, reforçou que “todos têm o direito de ter sua opinião política, mas que faça em casa, não com a camisa da seleção”. Apesar de surpreender com a declaração quando a expectativa era de uma posição mais contundente por parte dos jogadores, a postura do zagueiro evidenciou seu papel como um dos líderes entre os selecionados.

Colega de Marquinhos em clube e seleção, Thiago Silva esteve entre os melhores zagueiros do mundo em sua geração. Hoje, aos 36 anos, ele ainda faz parte do grupo de Tite e acabou de ser campeão europeu pelo Chelsea. Mas já são três Copas do Mundo no currículo, duas como capitão, nas quais o zagueiro não evitou as eliminações brasileiras. Em sua geração, ele e outros defensores ficaram marcados como vilões pelas derrotas —Felipe Melo e a expulsão em 2010 contra a Holanda; David Luiz e o 7 a 1 para a Alemanha em 2014; e Fernandinho e o gol contra na derrota para a Bélgica em 2018 são os três exemplos que aconteceram nas Copas jogadas por Silva. Tudo indica que, no Mundial de 2022, Marquinhos herdará a responsabilidade de evitar outra derrota como maior nome da defesa brasileira. Antes, um bicampeonato da Copa América como titular pode ajudá-lo em sua missão.

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