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Maracanã quebra recorde de renda na final da Copa América e vaia Bolsonaro

Presidente entrou em campo para entregar medalhas, posou para a foto com a taça e foi vaiado por parte do público que gerou arrecadação superior a 38 milhões de reais

Bolsonaro posa com a taça ao lado dos jogadores da seleção.
Bolsonaro posa com a taça ao lado dos jogadores da seleção.Victor R. Caivano (AP)
Rio de Janeiro -

A final da Copa América rendeu ao Maracanã o recorde absoluto de arrecadação no futebol brasileiro. Com 58.504 pagantes, o duelo entre Brasil e Peru acumulou uma receita de 38,7 milhões de reais. O montante supera o valor embolsado pela organização do torneio na abertura da competição – a vitória da seleção sobre a Bolívia, no Morumbi, havia proporcionado 22,4 milhões de faturamento. Nesse cenário de euforia e público elitizado, o presidente Jair Bolsonaro havia tratado sua presença no evento como um termômetro de sua aprovação ao lado do ministro Sérgio Moro, pressionado pelos vazamentos de mensagens da época em que ainda atuava como juiz da Operação Lava Jato.

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Porém, o teste de popularidade aventado pelo presidente, que chegou a dizer que o “povo” iria determinar se eles estavam certos ou não, revelou um ambiente hostil à figura de Bolsonaro no estádio. Quando o chefe de Estado brasileiro pisou no gramado para participar da cerimônia de premiação, as vaias logo abafaram os aplausos na arquibancada. Em um dos setores mais nobres do Maracanã, ao lado das cabines de imprensa, um grupo de torcedores chegou a puxar gritos com xingamentos ao presidente enquanto outros tentavam responder ensaiando um coro de “mito”, sem sucesso.

Bolsonaro entregou medalhas aos jogadores juntamente com o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, e o presidente da CBF, Rogério Caboclo. Assim que encerrou o rito de premiação, ele caminhou em direção aos jogadores que haviam acabado de erguer o troféu. A receptividade com a delegação dos campeões foi mais calorosa que a da torcida. Alguns o reverenciaram cantando “mito, mito, mito”. No meio dos atletas, o presidente se ajoelhou sobre o gramado e fez pose para os fotógrafos. Apenas Casemiro, que observava o grupo escorado em um estande da Conmebol, preferiu não participar da foto. O zagueiro Marquinhos também ignorou Bolsonaro durante a entrega das medalhas. No entanto, após a partida, explicou que não foi proposital e que já havia cumprimentado antes o presidente. “Nós o respeitamos. É o chefe da nação”, disse o zagueiro do PSG. Casemiro saiu do estádio sem dar declarações à imprensa sobre a atitude.

Eleito o melhor jogador do torneio, o capitão Daniel Alves, que já tinha dito não se incomodar com uma eventual aparição de Bolsonaro na festa do título, manifestou incômodo com as vaias ao mandatário. “O presidente é a maior autoridade de seu país. Como cidadão brasileiro, tenho que respeitar o presidente da República. Se gostam ou não gostam, não é o lugar de opinar. Porque ele foi eleito pelo povo. As pessoas votaram. Ele não comprou o direito de ser presidente. Eu desejo que ele melhore nosso país, aumente a esperança dos nossos cidadãos. E que as pessoas saibam que o respeito é o princípio de tudo.”

O técnico Tite, que em outras oportunidades afirmou que não gostaria de visitar Jair Bolsonaro em caso de título da seleção na Copa América, foi evasivo tanto na hora de cumprimentar o presidente quanto ao falar sobre sua presença no gramado com os jogadores. Na entrevista coletiva depois da final, um representante da organização do torneio tentou censurar pergunta a respeito do tema, alegando que jornalistas deveriam tratar apenas sobre a competição. Tite foi breve ao responder o questionamento: “Sei que isso acontece”, disse, referindo-se genericamente ao envolvimento de políticos e autoridades em comemorações de título. “Mas fico tão envolvido no futebol que isso não me afeta. Meu foco é no futebol, dentro do campo. É nisso que eu fico envolvido. As outras situações ficam à parte.” O treinador não saiu na foto com Bolsonaro.

Antes da final, Bolsonaro compareceu a outros dois jogos da seleção na Copa América, incluindo a abertura no Morumbi. Diante da Argentina, pela semifinal, ele já havia dividido as arquibancadas do Mineirão entre vaias e ovações ao dar uma meia volta olímpica no gramado, fato que gerou reclamação da Associação de Futebol da Argentina (AFA) à Conmebol. Dessa vez, mesmo em seu reduto eleitoral, o Rio de Janeiro, os sinais de desaprovação do público na arquibancada soaram mais contundentes que os de reverência. De acordo com a última pesquisa XP/Ipespe, a popularidade do presidente apresenta queda inclusive entre as classes mais altas, que ganham acima de cinco salários mínimos por mês e representam a fatia mais expressiva da plateia presente no estádio carioca neste domingo.

Moro não foi o único a acompanhar Bolsonaro nas tribunas do Maracanã. Integravam a comitiva presidencial outros ministros como os da Economia, Paulo Guedes, o de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o da Segurança Institucional, general Augusto Heleno, deputados do PSL, parlamentares aliados e um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro. Neymar, que foi cortado da Copa América por lesão, dividiu espaço com as autoridades. Apesar da ausência em campo do maior craque, a seleção conseguiu sagrar-se campeã invicta do torneio continental numa noite em que, mais uma vez, o acirrado clima de animosidade política invadiu o terreno do futebol.

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