O capitão Daniel Alves busca o 40º título de sua carreira com vitória na Copa América
O lateral insubstituível da seleção de Tite superou ausência na Copa do Mundo e driblou os obstáculos da idade para se tornar um dos destaques do torneio sul-americano
No dia 11 de maio de 2018, a CBF anunciou que Daniel Alves não disputaria a Copa do Mundo da Rússia. Três dias antes da convocação do treinador Tite para o Mundial, o médico da seleção Rodrigo Lasmar visitou o lateral-direito em Paris para avaliar se a lesão no ligamento direito, sofrida numa partida pelo PSG em oito de maio, tornaria possível sua recuperação até a Copa. Com a negativa, parecia o fim da linha do jogador de 35 anos na seleção, uma vez que sua presença no Mundial de 2022 seria improvável pela idade e o ciclo pós-Rússia já deveria ser pensado na renovação para os quatro anos seguintes. Um ano depois, contrariando as expectativas, Daniel voltou a ser intocável na lateral-direita do Brasil. Capitão, destaque da Copa América e sem um substituto à altura, ele se mostra preparado para jogar e quebrar recordes na Copa no Catar, quando terá 39 anos.
Depois de adotar o revezamento da faixa de capitão na Copa do Mundo, quando ela passou pelos braços de Marcelo, Thiago Silva e Miranda, Tite escolheu Daniel Alves como único representante durante a Copa América. Ele teve participações discretas nos primeiros jogos contra Bolívia e Venezuela, marcou um gol na goleada por 5 a 0 contra o Peru, foi bem contra o Paraguai e brilhou contra a Argentina, sendo eleito como o melhor em campo da semifinal no Mineirão. "Não estou aqui para calar nenhuma boca, apenas para fazer o meu trabalho e corresponder às expectativas que são criadas em cima de mim", declarou o lateral após a vitória contra os rivais.
Se for convocado para defender o Brasil na Copa de 2022, aos 39 anos, Daniel será o jogador mais velho a participar de um Mundial pela seleção masculina. "Sei a idade que eu tenho e o que ela representa no futebol, mas aprendi que as pessoas querem resultados. Eu me concentro nisto, não no que vão pensar de mim". O vigor físico demonstrado no torneio sul-americano pelo lateral, que não foi substituído em nenhuma partida, mostra que jogar a próxima Copa é possível, sobretudo por conta dos substitutos. No Mundial do ano passado, Danilo e Fágner foram convocados para a lateral. O primeiro começou como titular, mas perdeu a posição para o segundo, que por sua vez não foi páreo no duelo contra Hazard no jogo que custou a eliminação do Brasil para a Bélgica. Mesmo com 30 anos, Fágner voltou a ser convocado para a reserva de Dani na Copa América, o que demonstra a escassez de jogadores da posição preparados para suceder o titular.
"Foi a junção da minha força mental com a minha condição física que me trouxe aqui", afirma o capitão. Depois de lesionar o joelho, Alves aproveitou a estrutura do PSG para estar 100% na Copa América. Se recuperou em novembro e, desde então, jogou 32 das 37 partidas da equipe francesa, esbanjando vitalidade e impressionando seu treinador na seleção. "Se não fosse o PSG, ele não chegaria nesse estágio aqui", confessou Tite após a semifinal. O lateral, no entanto, já anunciou que não permanecerá em Paris na próxima temporada.
Como capitão, Daniel Alves levantará a taça da Copa América caso o Brasil vença o Peru na decisão desse domingo, às 17h (horário de Brasília), no Maracanã. Seria o 40º título da carreira do jogador, o maior vencedor do futebol mundial. A premiação dos campeões no Rio de Janeiro, conforme funciona o protocolo diplomático de eventos da Conmebol, deve contar com a presença do presidente Jair Bolsonaro. O político participou discretamente da abertura da competição, contra a Bolívia, e apareceu nos gramados do Mineirão chacoalhando uma bandeira do Brasil no intervalo da vitória contra a Argentina. Ao EL PAÍS, Daniel rechaçou qualquer problema em receber das mãos de Bolsonaro a taça da América. "Ele é o nosso presidente e devemos respeitá-lo. Nós [jogadores], assim como ele, representamos uma nação. O respeito numa sociedade é o primeiro passo a ser dado para construir um país realmente grande".
Retrospecto justifica favoritismo do Brasil
Daniel Alves tem razões para acreditar que ele erguerá a taça de campeão no domingo. Além de ter goleado os peruanos na fase de grupos, o Brasil defende contra eles a invencibilidade de nunca ter perdido uma Copa América que jogou como sede. Em 103 anos de torneio sul-americano, essa é a quinta vez que o país o recebe. Em 1919, 1922, 1949 e 1989, a seleção brasileira conquistou metade dos seus oito títulos – até 1997, quando foi campeão na Bolívia, o Brasil só havia levantado a taça quando jogou em casa.
Na primeira vez, em 1919, somente quatro seleções disputavam o torneio: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai. Depois dos uruguaios ganharem em 1916 (Argentina) e 1917 (Uruguai), a edição de 1918 estava marcada para o Rio de Janeiro, mas foi postergada em um ano por conta de um surto de gripe espanhola que atingiu a cidade. Há 100 anos, o Brasil venceu Chile, Argentina e empatou com Uruguai no estádio das Laranjeiras, forçando um jogo extra com os atuais bicampeões. Depois de 150 minutos de partida – o regulamento não previa pênaltis, então foram jogadas duas prorrogações –, os brasileiros terminaram campeões ao vencer por 1 a 0, gol de Friendenreich.
Três anos depois, o torneio voltou ao Rio de Janeiro para comemorar o centenário da Independência do Brasil. Por conta de um mau começo da seleção no campeonato, a organização do campeonato interferiu ao escalar árbitros brasileiros nas partidas em que Uruguai e Paraguai precisariam perder nas últimas rodadas, a fim do Brasil ter chances de ser campeão. Com os dois resultados a favor dos anfitriões, uruguaios abandonaram o torneio em protesto e coube ao Brasil vencer o Paraguai no jogo desempate por 3 a 0 para faturar o bi.
A Copa América só voltou ao Brasil em 1949, já mais elaborado e com oito participantes. Em sistema de pontos corridos, a seleção, que tinha como base o time que seria vice-campeão na Copa do Mundo de 1950, terminou empatada em pontos novamente com o Paraguai. Em mais um jogo de desempate, desta vez no estádio São Januário, a seleção brasileira foi campeã com um sonoro 7 a 0. A última vez que a Copa América visitou o país foi em 1989, já em sua fase mais moderna. Disputada em duas fases de grupos, o Brasil chegou à última rodada da fase final precisando vencer o Uruguai no Maracanã, que recebia 130.000 pessoas. Comandada pela dupla Bebeto e Romário, que conquistaria o mundo cinco anos depois, a seleção venceu por 1 a 0, gol de Romário, e faturou o tetracampeonato.
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