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Revolta de jogadores da seleção e denúncia de assédio contra presidente da CBF colocam Copa América na berlinda

Atletas brasileiros estão insatisfeitos com a realização do campeonato e buscam apoio de jogadores de outros times para boicote. Pressão para que Rogério Caboclo deixe o comando da confederação aumenta

O técnico Tite dá instruções aos jogadores da seleção durante o treinamento na Granja Comary para as eliminatórias da Copa do Mundo de 2022,  contra o Equador e Paraguai. Teresópolis, Brasil.
O técnico Tite dá instruções aos jogadores da seleção durante o treinamento na Granja Comary para as eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, contra o Equador e Paraguai. Teresópolis, Brasil.Lucas Figueiredo/CBF HANDOUT (EFE)
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Cercada de polêmicas pela realocação de última hora no Brasil, onde a pandemia de coronavírus está descontrolada, a Copa América 2021 ganhou dois novos problemas no final desta semana. Jogadores da seleção brasileira se insurgiram contra o campeonato e deixaram claro que não gostariam de participar, de acordo com informações divulgadas pela imprensa brasileira. E o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, foi acusado de assédio moral e sexual por uma funcionária e viu a pressão para que deixe o cargo aumentar. A realização do torneio no Brasil foi considerada uma vitória de Caboclo.

Na última quarta-feira, a CONMEBOL anunciou o calendário do torneio, que ocorrerá entre 13 de junho e 10 de julho. A previsão é que sejam disputadas 28 partidas no Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia e Cuiabá.

Alisson, Thiago Silva, Marquinhos, Danilo, Casimiro e Neymar são os jogadores que lideram a revolta da seleção pela participação nos jogos da Copa América e estão em contato com atletas de outros times participantes para que haja um movimento organizado de boicote ao evento, segundo informações da ESPN. Nas outras seleções, nomes de peso como Luis Suárez e Edinson Cavani, do Uruguai, se mostram contra a realização do torneio, mas jogadores de equipes menos tradicionais ainda apresentam dúvidas sobre tal decisão.

O motim dos jogadores brasileiros teria começado porque os atletas —que já se encontravam na concentração da Granja Comary para as eliminatórias da Copa do Qatar — teriam se inteirado sobre a realização do campeonato no Brasil através da imprensa, quando se esperava que o evento fosse cancelado diante da chegada da terceira onda da pandemia no país, que já matou mais de 470.000 pessoas. Além disso, os atletas se queixam do tratamento despendido pelo alto escalão da CBF, que não dialogou com o time sobre os novos rumos do campeonato, considerado de menor importância se comparado com as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022.

Por causa da pandemia de coronavírus, a Copa América, que deveria ter sido realizada no ano passado, acabou sendo adiada para este ano. E foi programada para datas muito próximas às das eliminatórias da Copa, o que desagradou os jogadores, que reclamam do ritmo intenso e dos curtos intervalos entre as partidas. Inicialmente, Argentina e Colômbia se dividiriam como sedes do campeonato. Mas os dois países acabaram recusando o evento —os argentinos por conta da pandemia e os colombianos pelos protestos no país. O Brasil prontamente se disponibilizou, apesar de estar enfrentando uma crise sanitária descontrolada e protestos contra Bolsonaro. O presidente brasileiro viu no evento a possibilidade de recuperar sua imagem desgastada.

A tensão entre o alto escalão da CBF e os atletas vem se agravando desde a última terça-feira e ocorre às vésperas de dois importantes compromissos da seleção: nesta sexta enfrenta o Equador e na próxima terça o Paraguai nas Eliminatórias para a Copa do Qatar. Casimiro, o capitão da partida desta sexta, foi proibido de falar com a imprensa. Na entrevista coletiva desta quinta-feira, o técnico Tite — que com sua equipe se posicionou totalmente à favor dos jogadores — compareceu sozinho, não negou a crise dentro da CBF e disse que tanto ele quanto os atletas só se manifestarão sobre o tema após as partidas das Eliminatórias, apesar de a decisão já haver sido tomada.

Especula-se que após o jogo de terça-feira, Tite apresentará seu pedido de demissão. Caso isto ocorra, o nome cotado para substituir o atual técnico da seleção é Renato Gaúcho, que deixou o Grêmio em abril deste ano e desde então está sem clube.

A desistência da seleção brasileira em participar da Copa América poderia culminar na suspensão da equipe do Campeonato, ou até mesmo — em uma medida extrema— a desfiliação do time. Isso porque, o estatuto do Conmebol prevê que os membros associados à entidade são obrigados a disputar as competições organizadas por ela e o não cumprimento pode acarretar em penalidades às equipes. No entanto, há casos em que seleções desistiram de participar do evento e não foram penalizadas de forma grave, como em 2001 quando a Argentina não disputou o campeonato que ocorreu na Colômbia.

Para agudizar a crise vivida pela seleção brasileira, nesta sexta-feira uma funcionária da CBF apresentou uma denúncia contra o dirigente Rogério Caboclo, acusando-o de assédio moral e sexual. No documento protocolado junto à Comissão de Ética da CBF e à Diretoria de Governança e Conformidade, a mulher, que trabalha na instituição há mais de oito anos, diz ter provas de abusos que vem sofrendo por Caboclo desde abril de 2020. A página Globo Esporte, que teve acesso à denúncia, narra sucessivos comportamentos abusivos de Caboclo, como quando o presidente da CBF perguntou à funcionária se ela se “masturbava”. Em outra ocasião, o dirigente teria tentado forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de “cadela”. Segundo o site, a funcionária teria dito que em todas as ocasiões em que estas situações ocorreram Caboclo estaria sob o efeito de álcool e que ele pedia que a funcionária escondesse bebidas em lugares previamente combinados, para que o dirigente pudesse beber ao longo do expediente. A denunciante também afirma que os abusos eram de conhecimento de outros diretores. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, integrantes da diretoria da CBF agora tentar convencê-lo a renunciar ao cargo.

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