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Insuflados por Bolsonaro, apoiadores do presidente aderem a atos por voto impresso nas eleições 2022

Presidente volta a colocar em dúvida a realização da próxima disputa eleitoral e é rebatido pelo TSE, que reafirma que urnas eletrônicas são auditáveis e seguras. No protesto em São Paulo, sobra apoio ao presidente, mas falta convicção sobre a insegurança eleitoral levantada por ele

Manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo, neste domingo, 1 de agosto.
Manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo, neste domingo, 1 de agosto.AMANDA PEROBELLI (Reuters)
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Bolsonaro não tem provas sobre fraude de urnas, mas insiste em ilação já desmentida por TSE
View of voting machine at a polling station in Igarape Miri, Para state, Brazil on November 15, 2020, during the first round of municipal elections amid the new coronavirus pandemic. - Brazilians voted Sunday in municipal elections that will test the strength of the country's rightward shift under President Jair Bolsonaro, with the coronavirus pandemic looming large -- and likely denting turnout. (Photo by TARSO SARRAF / AFP)
Com as urnas não se mexe
Uma urna eletrônica.
Entenda a polêmica em torno da PEC do voto impresso

O sol gelado da tarde deste domingo, 1 de agosto, animou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que pintaram de verde amarelo três quarteirões da avenida Paulista, no centro de São Paulo. Não chegaram perto do 1 milhão de manifestantes, como previu o presidente em sua live semanal na quinta-feira passada, mas fizeram barulho. No intervalo de pouco mais de três horas, bolsonaristas gritaram seu apoio a favor da implementação do voto impresso nas eleições de 2022. Horas antes, em Brasília, Bolsonaro se dirigira aos manifestantes que estavam concentrados em frente ao Congresso Nacional e, por meio de uma videochamada, novamente ameaçou a realização do pleito no ano que vem. “Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleição”, disse. “Nós mais que exigimos, podem ter certeza, juntos porque vocês são de fato meu Exército —o nosso Exército— que a vontade popular seja expressada na contagem pública dos votos”, afirmou na mesma videochamada, segundo reportado pela Folha de S.Paulo.

Não faltaram palavras de ordem como “ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”, e “Brasil acima de tudo, Deus acima de tudo”. Já a convicção de que o voto eletrônico é, de fato, um problema, não era unanimidade entre os manifestantes ouvidos pelo EL PAÍS. Muitos bolsonaristas admitiram que jamais desconfiaram do sistema eleitoral brasileiro, apesar de terem comparecido ao protesto convocado pelo presidente. É o caso do vendedor ambulante Fábio Fernandes, 44 anos, eleitor de Bolsonaro. Até hoje, nunca tinha desconfiado da urna eletrônica. Mas sou a favor do que for melhor para o Brasil”, diz. Ele, que vendia faixas e bandeirinhas na manifestação deste domingo, diz que prefere não comercializar seus produtos nos protestos da esquerda porque, segundo ele, “sempre dá confusão”.

“Desconfiança da urna é problema secundário. O voto já é auditável pela urna eletrônica. O problema não é tanto se a urna é segura ou não”, afirma Frederico Viotti, do católico Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, que organiza um manifesto online por maior transparência na contagem dos votos. “Nunca tinha pensado antes sobre o voto impresso”, diz um militar aposentado que foi à manifestação com sua filha e prefere não se identificar. Diante dos “indícios apresentados pelo presidente”, no entanto, ele começou a reavaliar sua posição sobre a segurança das urnas eletrônicas.

Enquanto bolsonaristas defendiam o voto impresso nas ruas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi ao Twitter novamente esclareceu que os votos eletrônicos já são auditáveis, refutando, assim, as acusações da extrema direita. O órgão afirmou que as urnas eletrônicas imprimem boletins com os votos de cada seção eleitoral, que podem ser auditáveis por qualquer cidadão no dia da votação.

A disputa em 2014 entre o tucano Aécio Neves e a petista Dilma Rousseff parece ser o divisor de águas no discurso bolsonarista sobre fraude. “Votei no Aécio, as pesquisas davam Aécio, mas o resultado foi sinistro”, diz a engenheira aposentada Marlene Ligiera, 70, que compareceu ao protesto com seu marido Luiz Roberto Ligeira, 72. Sem máscaras para se proteger do coronavírus, o casal, que se diz da direita conservadora “por Deus, pela família e pela pátria”, afirma que não tomou vacina contra a covid-19 porque tem medo dos efeitos colaterais. “Acredito que é só ter uma alimentação saudável que o sistema imunológico vai funcionar direito”, diz a aposentada.

Esse discurso, entretanto, não era maioria. O negacionismo contra a vacina ou contra o coronavírus não teve lugar de destaque no protesto deste domingo, apesar de uma placa solitária criticando o chamado “passaporte sanitário” — Projeto de Lei 1158/21, que está em análise na Câmara dos Deputados— e dizendo que “vacinação obrigatória é estupro”.

STF no centro das críticas

Bonecos simulam os ministros do STF no protesto de apoiadores de Bolsonaro neste domingo, na avenida Paulista.
Bonecos simulam os ministros do STF no protesto de apoiadores de Bolsonaro neste domingo, na avenida Paulista.AMANDA PEROBELLI (Reuters)

Na pauta dos manifestantes, estava a crítica ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Pelo que a gente vê na internet, eles passam por cima da Constituição”, afirma Marlene, que não vê TV — há cinco anos, não tem mais o aparelho em casa. “Por que [Luís Roberto] Barroso está com medo do voto auditável”, repete um manifestantes que também prefere não se identificar, em referência ao magistrado do STF que também é presidente do TSE. Os discurso é o mesmo utilizado por Bolsonaro em sua live da semana passada, com mentiras já esclarecidas pela Corte, repetido em coro nas ruas, ainda que parte dos manifestantes admitam que não tinham incertezas sobre as urnas eletrônicas até o presidente insistir no discurso conspiratório.

Como em outras manifestações, havia faixas em apoio a uma intervenção das Forças Armadas. “Eles já passaram alguns recados, mas ainda estão na deles. É pouco, a gente quer uma coisa mais enérgica”, afirma um militar que prefere não se identificar.

“Se não tiver voto impresso, não sei o que pode acontecer”, afirma a motorista Eliane Pires, 51. Filha de militares, ela foi às ruas exigir o voto impresso “para que a esquerda não volte” ao poder. “Antes de Bolsonaro, a gente não tinha voz”, diz ela, que também se informa apenas pela internet e defende uma ação mais enérgica dos militares. “Quem comanda o Exército é o presidente. Eles estão aí para colocar ordem”. Seu marido, o contabilista Ednilson Pacheco, 52, afirma que muita coisa que é falada sobre o regime militar é mentira. “Tinha democracia na ditadura”, diz.

As principais críticas do casal ficam com o governador de São Paulo, João Doria Júnior “Nossa vida está melhor do que no Governo do PT. Mas não está fácil, as coisas estão muito caras. Muita coisa é culpa do Doria, que se elegeu em cima do Bolsonaro”, afirma a motorista, que admite que ela também pode mudar de opinião. “Talvez a gente possa estar errado.”

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