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Governadores elevam pressão sobre Bolsonaro enquanto Brasil mira caos no pior momento da covid-19

Secretários de Saúde pedem toque de recolher nacional e fechamento de bares. Presidente insiste em negacionismo e abre nova frente de conflito com os Executivos dos Estados

Homem com roupa de proteção passa diante das tumbas com vítimas da covid-19 no cemitério de Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM), em 25 de fevereiro.
Homem com roupa de proteção passa diante das tumbas com vítimas da covid-19 no cemitério de Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM), em 25 de fevereiro.MICHAEL DANTAS (AFP)
Felipe Betim

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BRA50. SAO PAULO (BRASIL), 26/02/2021.- Decenas de pasajeros desembarcan del tren en la estación Luz hoy, en el centro de Sao Paulo (Brasil). Un año después del primer caso de coronavirus, que fue además el primero de América Latina, la pandemia sigue fuera de control en Brasil, con 250.000 muertos y un presidente que se niega a reconocer su gravedad, mientras la nueva cepa amazónica se extiende en silencio por el país. Desde el 26 de febrero de 2020, cerca de 10,4 millones de brasileños han padecido la covid-19, aunque se estima que el número real es hasta dos o tres veces mayor. EFE/ Sebastião Moreira
Na iminência do colapso dos hospitais, São Paulo fica sem plano B para obter leitos contra a covid-19

Um ano depois do primeiro registro de covid-19, e com mais de 10,5 milhões de casos e de 255.000 óbitos pela doença, o Brasil se encontra no pior momento da pandemia de coronavírus, com uma concentração de mortes maior do que em 2020 em várias cidades e com UTIs cada vez mais disputadas por pacientes cada vez mais jovens. Todas as capitais brasileiras possuem uma ocupação de leitos de UTI superior a 60%, sendo que em ao menos 17 delas a taxa já supera os 80%, segundo levantamento da Fiocruz. O país mira o caos numa situação política igualmente instável: o presidente Jair Bolsonaro segue firme em seu boicote às medidas de distanciamento, entrando constantemente em choque com governadores dos Estados, inclusive os aliados. Boa parte dos chefes dos Estado e seus secretários de Saúde se uniram para cobrar o Planalto por recursos para leitos, por medidas de coordenação nacional contra a pandemia e para rechaçar o discurso de Bolsonaro contra o isolamento social. Com a população cansada de confinamento e sem auxílio emergencial para os informais e vulneráveis, ninguém quer arcar sozinho com os custos políticos e financeiros de novos fechamentos na economia.

Nesta segunda-feira, os secretários estaduais da Saúde divulgaram uma carta que dá conta do mal-estar com o Governo Bolsonaro. “A ausência de uma condução nacional unificada e coerente dificultou a adoção e implementação de medidas qualificadas para reduzir as interações sociais que se intensificaram no período eleitoral, nos encontros e festividades de final de ano, do veraneio e do Carnaval”, escreveram. Apesar dos números crescentes e dos alertas dos epidemiologistas, nenhum dos gestores estaduais e municipais que agora encaram o colapso impuseram novas restrições severas de circulação no final do ano passado, como aconteceu no inverno europeu na Espanha, na Alemanha ou na França. Nem o exemplo do Reino Unido, que voltou a fechar o país em lockdown para conter a propagação da nova cepa, nem o segundo colapso de Manaus em janeiro ―também com a identificação de uma nova cepa― fizeram as medidas se endurecerem por muito tempo.

Os secretários de Saúde criticam agora medidas tomadas por seus próprios governadores. “O relaxamento das medidas de proteção e a circulação de novas cepas do vírus propiciaram o agravamento da crise sanitária e social, esta última intensificada pela suspensão do auxílio emergencial”, afirmam. Agora, eles demandam um conjunto de ações, voltadas sobretudo para as cidades com taxa de ocupação de UTIs acima de 85%, a serem implementadas em todo o território nacional. Entre elas está um toque de recolher nacional entre 20h e 6h, o fechamento de praias e bares, além de barreiras sanitárias em aeroportos e meios de transporte interestadual.

Há poucas esperanças de que Bolsonaro seja capaz de coordenar esses esforços ou que pare de bombardear os governadores que a tomarem. Na última semana, o presidente mentiu sobre “os efeitos colaterais de máscaras” e, em viagem ao Ceará, pregou o fim de qualquer medida de isolamento social. “A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos este mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho visto em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois’ não deu certo e não vai dar certo. Não podemos dissociar a questão do vírus e do desemprego”, afirmou. O presidente anunciou mais uma vez que o auxílio emergencial deve voltar a ser pago por mais alguns meses ―o tema está pendente de votação no Congresso― e desafiou os governadores que instituirem restrição de circulação a pagar o programa com recursos estaduais. “Daqui para frente, o governador que fechar seu Estado, o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do Presidente da República essa responsabilidade.”

Bolsonaro também divulgou em suas redes sociais no fim de semana as cifras referentes aos repasses do Governo Federal aos Estados. A reação veio também nesta segunda-feira com uma carta assinada por 17 governadores —tanto de partidos da oposição, como o baiano Rui Costa (PT) e o maranhense Flavio Dino (PCdoB), quanto de políticos aliados, como o goiano Ronaldo Caiado (DEM) e o fluminense Cláudio Castro (PSC). No documento, eles contestam os dados divulgados por Bolsonaro e afirmam que o Governo promove “má informação” e “conflito”. Dino anunciou que vai ao STF questionar a divulgação feita por Bolsonaro.

De acordo com os governadores, as cifras são referentes a repasses constitucionais, ou seja, valores previstos na arrecadação de impostos. “Situação absurda similar seria se cada governador publicasse valores de ICMS e IPVA pertencentes a cada cidade, tratando-os como uma aplicação de recursos nos municípios a critério de decisão individual”, informa a carta. “Adotando o padrão de comportamento do Presidente da República, caberia aos Estados esclarecer à população que o total dos impostos federais pagos pelos cidadãos e pelas empresas de todos Estados, em 2020, somou 1,479 trilhão de reais”, prossegue o documento.

Choro, festa de idosos e medidas de restrição

Nas rede sociais, viralizou nesta segunda-feira uma entrevista do governador da Bahia, Rui Costa (PT), dando conta da gravidade da segunda onda. O petista intensificou na semana passada o toque de recolher e, no fim de semana, suspendeu atividades não essenciais em algumas regiões do Estado. Emocionado, ele falou: “Temos que pensar quantas vidas humanas uma bebedeira vale. Quantas vidas humanas você vai ser responsável por ir em uma festa? ‘Ah eu tenho direito de ficar bêbado, de encher bares, de ir para paredão’. Seu direito é superior a dor de mães e pais que perderam filhos?”, questionou. “Vi hoje um pai chorando porque perdeu filha de 16 anos, então... é isso...”, completou, com a voz embargada.

Assim como Costa, outros governadores de Estados vêm decretando medidas que se assemelham a um toque de recolher nas madrugadas e tentando redobrar a fiscalização, mas nada tão rígido como na Europa. De acordo com o Governo de São Paulo, 286 estabelecimentos foram autuados entre sexta-feira e domingo, o primeiro final de semana do chamado “toque de restrições” decretado por Doria na última semana. Em dos estabelecimentos multados na capital paulista ocorria um baile da terceira idade com 190 idosos.

No Estado mais rico do país, o diagnóstico das autoridades não deixa dúvidas: “A pandemia retornou com velocidade e característica clínica diferentes da primeira onda. São pacientes mais jovens, com condição clínica mais comprometida. Pacientes que acabam permanecendo por período prolongado na UTIs. Esses aspectos fazem com que tenhamos ocupação crescente de leitos”, informou Jean Gorinchteyn, secretário estadual de Saúde durante coletiva nesta segunda-feira. De acordo com ele, 60% dos pacientes com covid-19 estão em leitos de terapia intensiva —o oposto do que acontecia na primeira onda, quando 60% estavam nas enfermarias e 40% nas UTIs.


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