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O inferno astral dos Efromovich, presos pela Lava Jato após a quebra da Avianca

Os empresários são acusados ​​de fraude por meio de contratos de estaleiro com subsidiária da Petrobras

Germán Efromovich na redação de EL PAÍS Brasil durante entrevista em julho.
Germán Efromovich na redação de EL PAÍS Brasil durante entrevista em julho.Lela Beltrão
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FILE - In this March 17, 2020 file photo, aircraft from the Avianca airline sit parked at La Aurora airport in Guatemala City. Avianca’s Chief financial officer Adrian Neuhauser said the airline is asking various governments, including Colombia’s, for help in ensuring it has liquidity to operate during its Chapter 11 proceeding, which could last up to 18 months.  (AP Photo/Moises Castillo, File)
Avianca, a primeira vítima de um setor na corda-bamba na América Latina
Avianca majority shareholder German Efromovich gestures during a news conference in Bogota, Colombia, February 5, 2020. REUTERS/Estevan Vega NO RESALES. NO ARCHIVES. REFILE - CORRECTING TITLE
Falência da Avianca no Brasil expõe limites da ambição dos irmãos Efromovich
Germán Efromovich en la redacción de EL PAÍS, en São Paulo.
Germán Efromovich, da Avianca: “Empresas terão de fechar até vir outra onda de investimentos”

Os últimos dois meses não foram fáceis para os irmãos José e Germán Efromovich, acionistas da Avianca Holdings. Em 14 de julho, a justiça decretou a falência da companhia aérea Avianca no Brasil. E, na manhã desta quarta-feira, 19 de agosto, a Polícia Federal prendeu os irmãos em uma operação vinculada à Operação Lava Jato, alheia à empresa. Os irmãos foram detidos em São Paulo por supostas fraudes em contratos do estaleiro Ilha S.A(EISA), pertencente aos executivos, com a estatal Transpetro, uma subsidiária da Petrobras responsável pelo transporte de combustível e importação e exportação de petróleo e derivados. Os investigadores suspeitam de corrupção e lavagem de dinheiro na compra e venda de navios.

A Transpetro teria sofrido uma perda de 611,2 milhões de reais por contratos com o EISA ―controlada pelo Grupo Synergy , vinculado aos irmãos―, entre adiamentos, suspensão de dívida, irregularidades nos acordos, entrega irregular de um casco de navio Panamax e falta de entrega de outros três navios.

A suspeita é que os empresários pagaram 40 milhões de reais em troca de um contrato de 857 milhões para prover navios. Segundo os investigadores, os subornos teriam sido depositados mediante diversas transferências a contas bancárias no exterior. Em uma tentativa de dissimular os pagamentos, empresas vinculadas ao estaleiro e o executivo teriam assinado um contrato de investimento falso em uma terceira empresa estrangeira de petróleo, também pertencente aos Efromovich, no Equador, que previa o pagamento de uma multa de 28 milhões de reais em caso de cancelamento do contribua.

O Ministério Público Federal (MPF) informou que a Justiça estava de acordo com a prisão dos investigados, entretanto, posteriormente, a ordem foi convertida em prisão domiciliar por causa da pandemia de covid-19. A Polícia Federal também levou a cabo seis ordens de busca e apreensão em Alagoas, Rio do Janeiro e São Paulo.

A nova etapa da Lava Jato chega pela delação de Sérgio Machado, ex-presidente da empresa estatal e agora colaborador da Justiça. Em 2016, Machado ressaltou que, entre 2008 e 2009, quando era presidente da Transpetro, solicitou vantagem indevida a Efromovich, pedindo 2% do valor dos contratos relativos à construção de quatro navios, assinados entre o EISA e a estatal. De acordo com a delação de Machado, Efromovich disse, inicialmente, que não daria “apoio político”, mas deu uma alternativa para que Machado pudesse ter um retorno financeiro equivalente ou superior. Segundo a versão da delação divulgada na época, o acionista da Avianca Holding indicou que estaria disposto a apresentar investimentos não relacionados à estatal, em que Machado poderia ter um retorno da mesma magnitude. No documento do MPF, entretanto, diz que foi Efromovich a propor um acordo de investimento em uma empresa do Equador.

O próprio Machado indicou na delação que o negócio teria sido feito em sociedade com seu filho, o empresário Expedito Machado Neto, que teria viabilizado um acordo de investimento em campos de petróleo terrestres na Equador. O documento do MPF também menciona o outro filho do executivo da Transpetro, Sérgio Firmeza Machado, que nesse momento era o número dois do Credit Suisse no Brasil. Na denúncia, Machado afirma que o filho Sérgio Firmeza só teria revisado os termos do acordo com Efromovich, sem encontrar nada ilegal.

Em uma entrevista ao EL PAÍS em julho deste ano, Efromovich detalhou as circunstâncias que o levaram a ser mencionado na delação. Afirmou que nunca pagou propinas, mas confirmou que em duas ocasiões seus negócios se cruzaram com os dois filhos do denunciante. “Sérgio Machado tem dois filhos. Um deles era executivo do Credit Suisse em São Paulo”, diz. Segundo ele, o executivo do banco teria tornado possível um negócio, mas sem detalhar qual tipo de negócio estava respaldado por um acordo com o GE [um dos gigantes no mercado de motores de aviões]. “Veja, ele era banqueiro. Fez o negócio. E preciso saber de quem é filho?”. Quanto a Expedito, Efromovich confirmou que ele tinha um fundo de investimento que fez um negócio com sua petroleira no Equador. “Parece que usaram o fundo para lavar dinheiro e outras coisas que eu não sabia”, disse.

Em nota, a Transpetro informou que desde o começo das investigações colabora com o MPF e envia toda a informação relevante aos órgãos competentes. “A empresa reitera que é vítima nesses processos e dá todo o apoio necessário às investigações da Operação Lava Jato”, disse. A reportagem não conseguiu entrar em contato com os irmãos e seus representantes.

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