_
_
_
_

Dallagnol escapa, no último minuto, de julgamento que pode tirá-lo da Lava Jato

"Sabemos que regimes autocráticos, governantes ímprobos e cidadãos corruptos temem um Ministério Público independente", diz Celso de Mello na decisão para suspender o processo no Conselho do MP

Deltan Dallagnol durante apresentação em Curitiba.
Deltan Dallagnol durante apresentação em Curitiba.Paulo Lisboa (Getty)
Rodolfo Borges
Mais informações
Horacio Cartes e Dario Messer.
Megadoleiro diz que ex-presidente do Paraguai lhe deu 600.000 dólares para financiar sua fuga da Justiça
Deltan rejeita concorrer a promoção que poderia tirá-lo da Lava Jato
Ministro Gilmar Mendes, em seu gabinete no STF, no dia 15 de outubro de 2019.
Gilmar Mendes e a Lava Jato: “Deu-se poder para gente muito chinfrim, mequetrefe”

O decano no Supremo Tribunal Federal (STF) tirou o procurador Deltan Dallagnol das cordas. Horas antes de o coordenador da força-tarefa da Lava Jato ser submetido a um julgamento que poderia afastá-lo do comando operação, o ministro Celso de Mello foi contundente ao suspender os processos conduzidos no âmbito do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). “Sabemos que regimes autocráticos, governantes ímprobos, cidadãos corruptos e autoridades impregnadas de irresistível vocação tendente à própria desconstrução da ordem democrática temem um Ministério Público independente”, escreveu o decano, que deixa o STF em novembro, ao completar 75 anos.

Dallagnol é acossado formalmente pelos pares por suas declarações públicas. Em novembro passado, recebeu uma advertência por ter criticado o STF durante uma entrevista à rádio CBN. Nesta segunda-feira, em sua primeira vitória judicial do dia, o ministro Luiz Fux, também do STF, suspendeu com base no direito à liberdade de expressão a validade dessa advertência, que poderia servir de agravante para os dois processos que seriam julgados pelo CNMP na manhã desta terça-feira, não fosse a decisão de Celso de Mello.

Os processos disciplinares que não mais poderão ser apreciados nesta terça tratam de reclamações apresentadas pelos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Kátia Abreu (PP-TO). A primeira o acusa de ter interferido no processo de eleição para a presidência do Senado ao tuitar contra emedebistas, enquanto a segunda questiona o acordo firmado pela Lava Jato com a Petrobras para destinar 2,5 bilhões de reais recuperados pela operação a uma fundação gerida por procuradores. O processo de Kátia Abreu pede o afastamento de Dallagnol da Lava Jato com base no “interesse público”.

Mello responde diretamente a esse pedido em sua decisão: “A remoção do membro do Ministério Público de suas atribuições, ainda que fundamentada em suposto motivo de relevante interesse público, deve estar amparada em elementos probatórios substanciais, produzidos sob o crivo do devido processo legal, garantido-se o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, sob pena de violação aos postulados constitucionais do Promotor Natural e da independência funcional do membro do Ministério Público”.

Mais cedo, logo após a decisão de Fux, Dallagnol comentou em seu perfil no Twitter os processos disciplinares de que é alvo. “O Conselho Nacional do Ministério Público decidirá se vai me afastar da Lava Jato a pedido de um investigado, com a justificativa de que atenderia ao interesse público. Mas esse julgamento nada tem a ver com qualquer irregularidade nas investigações da Lava Jato”, escreveu. “O que está em jogo não é apenas o meu futuro ou o da Lava Jato. O exemplo que vai ficar será um recado para o futuro de promotores e procuradores. Eles poderão trabalhar contra a corrupção de modo combativo como trabalhei, sem medo de sofrerem retaliações?”, questionou.

A vida de Dallagnol ―e da Lava Jato― virou de cabeça para baixo depois que mensagens de telefone vazadas pelo The Intercept Brasil jogaram uma sombra de dúvidas sobre a sua conduta e a do então juiz e hoje ex-ministro da Justiça Sergio Moro na condução da operação. A chegada ao comando da Procuradoria Geral da República de Augusto Aras, um crítico dos métodos da Lava Jato, reforçou a pressão sobre a força-tarefa. As críticas públicas de Aras aos procuradores da força-tarefa pavimentam o caminho do julgamento em que a Segunda Turma do STF pode cancelar as decisões de Moro nos processos que dizem respeito ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por alegada imparcialidade.

As decisões desta segunda-feira, contudo, expõem a divisão no STF em relação à Lava Jato. Espera-se que o voto de Celso de Mello determine o veredito sobre a conduta de Moro em relação a Lula ―os ministros Cármen Lúcia e Edson Fachin já votaram favoravelmente a Moro, e espera-se que Gilmar Mendes, o crítico mais vocal da operação no STF, e Ricardo Lewandowski votem com defesa do ex-presidente. Além disso, quem assume a presidência do STF a partir de setembro é Luiz Fux, um entusiasta da operação.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_