São Paulo enfrenta alta taxa de ocupação de UTIs e promete zerar fila de testes para coronavírus até o fim de abril
Governo acaba de receber 725.000 testes, do total de 1,3 milhão comprados. Está previsto que leitos começarão a lotar em maio. “Há já uma pressão sobre o sistema público de saúde”, diz David Uip
O Estado de São Paulo, epicentro da pandemia de coronavírus no Brasil, pretende zerar a fila de testes para a doença até o dia 24 de abril. O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB) em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 15 de abril, e detalhado ao longo do dia pela equipe da Secretaria Estadual de Saúde. Em suma, a promessa de zerar a fila se deve à compra de 1,3 milhão de testes rápidos da Coreia do Sul, dos quais 725.000 chegaram já nesta semana. A administração estadual tem pendente analisar 13.397 testes de coronavírus. Nesta quarta, foram liberados 1.451 testes e outros 2.370 aguaram liberação, enquanto que, paralelamente, o sistema recebeu 1.319 testes novos. Até o mesmo dia o Governo estadual confirmou 11.043 casos da Covid-19 e 778 mortes pela doença.
Atualmente, uma média de 2.000 testes são processados diariamente, mas a expectativa é a de que a capacidade de processamento aumente para 5.000 na próxima semana e 8.000 na seguinte, conforme os laboratórios vão certificando seus aparelhos, segundo explicou o secretário de Saúde José Henrique Germann. Para que esse aumento de produtividade ocorra, foram credenciados 34 novos centros, enquanto que outros 10 estão concluindo essa etapa.
Até o momento, o teste disponível em São Paulo e no resto do país é o RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), que detecta o RNA do vírus em uma amostra de sangue ou secreção nasofaríngeo —coletado por uma espécie de cotonete pelo nariz ou pela boca. Devido à pouca quantidade desses testes, a orientação do Ministério da Saúde é a de que apenas as pessoas que apresentam sintomas graves da doença sejam testadas. “O que há é uma não notificação, porque 80% dos casos são assintomáticos e os indivíduos nem vão ao posto de saúde”, explicou o infectologista David Uip, coordenador da equipe técnica de combate ao coronavírus em São Paulo. Além disso, como existe uma fila de testes, acredita-se que o quadro apresentado diariamente seja uma fotografia da pandemia de dias atrás.
Os kits de testes rápidos oriundos da Coreia do Sul ajudarão não só a detectar quais pacientes foram infectados pela Covid-19 como também a medir a evolução da epidemia no Estado, com a realização de inquéritos soroepidemiológicos. Contudo, Uip faz ponderações sobre a eficácia do novo teste, que identifica o vírus a partir da produção de anticorpos. Como estes demoram para ser produzidos pelo corpo da pessoa, o teste pode gerar o que especialistas chamam de falso negativo.
“O teste PCR indica se o vírus está circulando no organismo da pessoa. O teste rápido não tem um bom nome, porque ele só tem esse nome porque demora só 10 minutos para ser realizado. Mas ele só funciona depois de muito tempo que o indivíduo teve contato com o vírus e o seu organismo já produziu os anticorpos para combatê-lo", explicou. “Então, o teste não é rápido, ele é lento. A gente tem que ficar esperando pelo menos oito ou dez dias para dar um resultado. Pode ser muito útil para fazer a avaliação sobre como está a imunidade populacional”, concluiu.
“Estresse” no sistema público
A equipe do Governo paulista também apresentou dados que indicam uma quase lotação de leitos de UTI e de enfermaria de hospitais estaduais. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, uma unidade estadual pública de referência, tem todos os seus 30 leitos de UTI já ocupados, mas Uip garante que outros 20 serão abertos nas próximas duas semanas. No mesmo centro, 80% dos leitos de enfermaria estão ocupados.
Já o Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, viu um aumento de 77% para 83% de ocupação nos leitos de UTI. Os também públicos Hospital Geral de Pedreira e o Vila Nova Cachoeirinha têm, respectivamente, 87% e 86% de ocupação de leitos. “Há já uma pressão sobre o sistema público de saúde”, contou Uip. Ele acrescenta que o estresse na rede pública deve ocorrer no fim de maio, quando a ocupação de leitos de UTI deve chegar a até 95%.
Considerando que o tempo de permanência de um paciente nos leitos de UTI é de até 15 dias, Germann fala que uma “primeira reserva” de mais de 2.000 vagas —já disponíveis e com todos os recursos alocados— devem ficar lotadas no mês de maio caso a taxa de isolamento das pessoas não supere os atuais 50%. Uma segunda reserva de vagas, com outros 2.000 leitos —ainda sem recursos alocados e que serão ativados conforme o avanço da pandemia em São Paulo— conseguiria atrasar o “estresse” do sistema estadual de saúde para julho. Atualmente, 1.143 pacientes estão internados em UTI em todo o Estado, que também registrou um aumento de 81,7% nas notificações de mortes pelo coronavírus na última semana.
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