“Na política tudo muda”, diz Bolsonaro sobre pasta de Segurança Pública
Presidente discutiu ao longo da semana a recriação da pasta da Segurança, o que tiraria a área de Sergio Moro. Nesta sexta, descartou, “no momento” a mudança
O presidente Jair Bolsonaro afirma, agora, que não pretende recriar “no momento” o Ministério da Segurança Pública, conforme vinha discutindo ao longo da semana. A mudança tiraria poderes de seu ministro mais popular, Sergio Moro, e gerou repercussão negativa entre os apoiadores dele e insatisfação por parte do próprio ex-juiz da Lava Jato. Na manhã desta sexta-feira, ao chegar na Índia, onde participará de compromissos oficiais, Bolsonaro afirmou que a “chance [de mudança] no momento é zero.” Mas ponderou: "Não sei amanhã. Na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Não há essa intenção”, disse.
A relação entre Bolsonaro e o ex-juiz da Lava Jato passa por conflitos desde o ano passado, quando Moro foi contrário à suspensão do Supremo Tribunal Federal (STF) do uso de dados detalhados do Coaf em investigações ao responder a uma petição feita pelo filho do presidente, Flavio Bolsonaro. Recentemente, o presidente também ignorou a posição de Moro e deixou de vetar a criação da figura do juiz de garantias no pacote anticrime aprovado pelo Congresso. A fritura de Moro (jargão usado quando o político passa a ser desprestigiado) acontece na mesma semana em que ele concedeu uma entrevista ao Roda Viva, na qual tentava colar uma imagem de lealdade ao presidente Bolsonaro. Moro é o ministro mais popular da gestão Bolsonaro e é mais bem avaliado nas pesquisas que o próprio presidente —segundo Datafolha publicado em dezembro do ano passado, 53% avaliam sua gestão no ministério como ótima ou boa.
A ideia de dividir seu ministério ganhou força depois que um grupo de secretários de Segurança Pública se reuniu com Bolsonaro na quarta-feira e pediu o retorno da pasta que existiu apenas durante um ano e meio, na gestão de Michel Temer (MDB). No período, o ministério da Justiça foi dividido em dois. Sob o guarda-chuva da Segurança Pública ficaram as polícias Federal e Rodoviária Federal, a Força Nacional de Segurança e o Departamento Penitenciário Nacional, responsáveis por 88% do Orçamento do antigo Ministério da Justiça. A Justiça era a responsável pela Fundação Nacional do Índio, os programas de refugiados e de direitos humanos.
O General Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, esteve presente na reunião de Bolsonaro com os secretários. Diante da repercussão negativa, tentou amenizar a situação no Twitter e partiu em defesa de Bolsonaro. “O mesmo já aconteceu quando o Congresso passou o COAF da Justiça para o Banco Central. Os mesmos que, hoje, mentem ser de interesse do presidente recriar a Segurança, acusaram o mesmo de enfraquecer Moro no caso Coaf”, afirmou na rede social.
Nem Sergio Moro, que segundo o próprio Bolsonaro seria contrário à mudança no ministério, nem seus subordinados estiveram no encontro com os secretários. “Há interesse de parte de setores da política. Nós simplesmente aceitamos recolher as sugestões, educadamente dizemos que vamos estudá-las, e os ministérios continuam sem problema”, explicou Bolsonaro nesta sexta-feira. O presidente ainda ponderou que, no momento em que convidou Moro para compor seu Governo, ainda não havia fundido Segurança Pública e Justiça na mesma pasta, mas mensagens e entrevistas de Bolsonaro à época demonstram que, quando o convite foi feito, já havia a ideia de que as pastas seriam unidas.
Uma das condições postas na mesa pelo ex-juiz para virar ministro foi justamente ter seus poderes ampliados. A ideia de Moro era assumir uma gestão que avançasse principalmente em duas frentes: o pacote anticrime e as chamadas 10 medidas contra a corrupção, propostas pelo Ministério Público. Agora, um possível rateio no seu ministério lhe retiraria poder político e influência no combate à corrupção. Também tiraria de Moro a área que o ministro mais tem usado para enumerar seus feitos. As ações de combate ao tráfico de drogas e armas e a redução no índice de homicídios são hoje seus principais temas, inclusive nas redes sociais.
Ao tomar conhecimento sobre a possibilidade de perder influência no Governo, Moro fez um movimento político valioso nesta quinta-feira. Em tempos em que as redes sociais são essenciais para eleições, abriu uma conta no Instagram, terreno onde Bolsonaro, seu chefe e possível adversário em 2022, tem quase 15 milhões de seguidores. Em três horas Moro atingiu a marca de 125.000 adeptos.
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