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Coluna
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Sergio Moro rumo à disputa eleitoral

Ex-juiz afirma que afirma que Jair Bolsonaro é “uma pessoa muito digna”

Sergio Moro, en um evento no Paraná.
Sergio Moro, en um evento no Paraná.RODOLFO BUHRER (REUTERS)
Juan Arias

Ex-juiz da Lava Jato, o ministro da Justiça do Governo, Sergio Moro, que declarou que o ex-presidente Lula pertence ao seu “passado”, afirma, ao mesmo tempo, que o presidente Jair Bolsonaro é “uma pessoa muito digna” —o mesmo que que avaliam, segundo ele, “todos que o conhecem de perto”. Já Bolsonaro, que começa a se apaixonar pelo ex-juiz da Lava Jato, diz que na política Moro “está indo bem pra caramba”. Eles até parecem querer disputar juntos a reeleição em 2022.

O encontro de Moro com Bolsonaro, tão criticado, não tinha começado com o pé direito. Chegou-se inclusive a pensar que Moro sairia do Governo. Hoje tudo parece ter mudado, e o ministro da Justiça não descarta concorrer como vice do mandatário, embora destaque, de forma diplomática, que seria melhor que continuasse como tal o general Hamilton Mourão, uma pessoa que disse “respeitar bastante”. Mas acrescentou que essa possibilidade de ser o próximo candidato a vice nas urnas deverá ser construída “lá na frente”, e que cabe ao presidente escolher. Será que já está tudo decidido?

Bolsonaro também está aprendendo a nadar nas águas da política e sabe que hoje as pesquisas dão mais votos a Moro que a ele mesmo. Desperdiçará essa chance? Votos são votos. “E quantos vices, além do mais, acabaram sendo presidentes do Brasil?”, poderá estar pensando Moro.

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Restam poucas dúvidas, portanto, de que o ex-juiz se prepara para as urnas. Quanto mais ele nega com as palavras, mais perto aparece, em seus gestos e simbolismos, sua aproximação da política, algo que assombra os próprios profissionais dessa arte. Até o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que havia iniciado mal sua relação com Moro, lembrando que ele era apenas um “empregado do presidente”, hoje comenta, surpreso, que Moro “está aprendendo muito rápido a ser político”. Foi significativo o sorriso do ministro quando, dias atrás, numa reunião no Senado, ele foi apresentado de forma equivocada como “senador Moro”. O ministro comentou, lisonjeado: “É que eu tenho vindo tantas vezes aqui que estou virando senador.”

De uma relação inicial conflituosa, Bolsonaro agora tece elogios ao ministro, dizendo que, no campo político, “está indo bem pra caramba” e que ambos estão aprendendo a fazer política. Uma admiração que parece ser recíproca. Se alguém no início se perguntava o que Moro faria se episódios de corrupção aparecessem no Governo e se o caso Marielle se complicasse, Moro acaba de se antecipar.

Sabendo, de fato, que não deixará de haver escândalos de corrupção no Governo Bolsonaro, o ministro da Justiça se apressou maquiavelicamente em dizer que “sempre é possível haver casos de ilegalidade em qualquer governo”. Disse em seguida que o que ocorreu, porém, com os Governos do PT é que foram “esquemas sistemáticos de suborno e corrupção incrustrados na administração pública”. E acrescentou que as lideranças do novo Governo estão “dando um exemplo” nesse campo.

Cabe maior elogio ao Governo Bolsonaro? Ao mesmo tempo, o ex-juiz da Lava Jato justifica assim sua presença cada vez mais forte no novo Governo de extrema direita com o qual se identifica em sua tese de pulso firme contra os bandidos, que, na linguagem de Bolsonaro, “sempre serão melhores mortos do que vivos”.

Mas ainda falta um último passo para a plena inserção de Moro no Governo Bolsonaro. Ele precisará sair ileso das Forcas Caudinas do Supremo Tribunal Federal (STF), que deverá julgar se anula ou não suas sentenças contra o ex-presidente Lula, a quem levou à prisão.

Se Lula for inocentado pelo Supremo com as sentenças anuladas, Moro sofrerá um grave revés de credibilidade que poderia frustrar sua carreira política. Até o momento, nesse jogo enigmático de linguagem mariana, cuja semântica deveria ser mais estudada, já adiantou, com sua proverbial frieza: “Lula faz parte do meu passado e acho que do passado do país”. Uma profecia ou um desejo inconsciente? Assim, Lula pertenceria ao passado do Brasil enquanto ele e o novo Governo Bolsonaro seriam seu presente e seu futuro.

Será?

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