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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

E se tivéssemos um duelo entre Lula e Bolsonaro ou Lula e Moro nas urnas em 2022?

Para isso, deveria ser anulada a sentença que o condenou em segunda instância, o que, segundo a lei da Ficha Limpa, o impossibilita de disputar qualquer cargo público

Apoiadores do ex-presidente Lula comemoram decisão do STF, em Brasília.
Apoiadores do ex-presidente Lula comemoram decisão do STF, em Brasília.STR (AFP)
Juan Arias
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O terremoto criado pelo STF ao impedir a prisão após a condenação em segunda instância se presta a milhares de hipóteses sobre o futuro político deste país, já que não seria impossível, dentro do quebra-cabeças jurídico em que se encontra neste momento o caso Lula, que este possa ficar livre para poder disputar as eleições de 2022. Para isso deveria ser anulada a sentença que o condenou em segunda instância, o que, segundo a lei da Ficha Limpa, o impossibilita de disputar qualquer cargo público.

Portanto, o cenário de Lula duelando com Bolsonaro ou Moro na eleição presidencial de 2022 já não é impossível. E nesse caso estaríamos perante as eleições políticas do século não só para o Brasil, mas também para o mundo. E isso por dois motivos. O primeiro porque a prisão sofrida por Lula até agora repercutiu em todo o mundo, a tal ponto que se pediu a ele o Nobel da Paz, e sua prisão foi comparada à de Mandela, o líder carismático da África do Sul. Foi visto como vítima de uma conjuração política que o impediu de se candidatar no pleito vencido pelo ultradireitista Jair Bolsonaro. Na época as pesquisas eleitorais davam Lula como ganhador em todos os cenários.

Seria, além disso, não só a possibilidade de que Lula resgatasse nas urnas o que segundo ele lhe foi injustamente negado em 2018, já que considera sua condenação como política e sempre se declarou inocente dos crimes pelos quais foi condenado, como também de comprovar que Bolsonaro ganhou as eleições só porque não deixaram Lula disputá-las. E se nas próximas isso for possível outra vez?

Que Bolsonaro ou Moro, ou ambos, estarão entre os candidatos de 2022 poucos duvidam. Saberemos então se é verdade que o Brasil mudou a ponto de ter sido entregue nas mãos de um autoritário de extrema direita, ou se isso ocorreu apenas porque se buscava uma alternativa à esquerda, que andava exangue com Lula na prisão.

Lula já confessou que sairá da prisão “mais de esquerda do que quando entrou”. Ele sabe muito bem que nunca foi de esquerda, é mais um ex-sindicalista pragmático, com um olfato único para entender o grito dos milhões de desamparados do Brasil que pediam um lugar no tabuleiro político e social. Foi sem dúvida o político mais hábil dos tempos modernos, com uma incrível capacidade de metamorfose para se adaptar ao que pedia a rua.

Hoje Lula vai sair da prisão não sei se mais de esquerda ou não, mas seu olfato político lhe mostra que o Brasil tem um eleitorado que se decidiu por uma candidatura autoritária e direitista, em detrimento da esquerda. Uma decisão que revolucionou e dividiu o país com gente que já se arrependeu de seu voto nas urnas, e o mundo progressista em geral que viu assombrado este país mergulhado de repente em um clima de esgarçamento politico e social, mas que ainda não encontrou um líder que o represente.

Lula sabe que, se lhe deixarem disputar as eleições de 2022, o pleito novamente vai ser enfrentado por um bloco que vai da direita à extrema direita, passando pelo centro e a esquerda. E por isso já começa a se precaver para entrar na disputa com a bandeira clara da esquerda, já que as águas no Brasil assim estão divididas.

A saída de Lula da prisão pode revolucionar todos os equilíbrios políticos deste momento, porque Lula é imprevisível. É impensável imaginar onde poderia conduzir um possível duelo em que enfrentaria Bolsonaro, visto no exterior como um extremista de direita que arremete contra os direitos humanos e quer trocar a Constituição pela Bíblia, ou Moro, considerado por Lula como o verdugo que o condenou injustamente para afastá-lo da política. O que é certo é que seria um terremoto.

A grande incógnita é se Lula seria seguido em seu duelo não só pelos seus do PT, mas também por toda a esquerda progressista e até por todos os que hoje confessam que votaram em Bolsonaro só porque não queriam que o PT voltasse a governar. Talvez por isso Lula tenha se antecipado em dizer que sai da prisão mais de esquerda do que antes. Sabe que em 2022 o duelo só pode ser entre os valores da extrema direita e o dos progressistas que continuam apostando na defesa da democracia, que hoje parece ameaçada de dentro pela família de Bolsonaro.

O que não faltará à política brasileira com a saída de Lula da prisão e sua possível recuperação dos direitos civis para voltar a disputar as eleições é emoção. De qualquer modo, nunca será igual se em 2022 o carismático ex-presidente, que continua jurando sua inocência, ainda estiver impedido de sair à arena. Não será igual para o Brasil nem tampouco para o exterior onde hoje este grande país, rico de tudo menos de estabilidade política, é visto ao mesmo tempo com apreensão e esperança.

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