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Derrota de premiê socialista abre caminho para convocatória de eleições antecipadas na Espanha

Independentistas votam com direita para derrotar orçamento proposto por Governo Sánchez. País, que deve saber data da eleição na sexta, mergulha em novo ciclo convulso

María Martín
Pedro Sánchez nesta quarta.
Pedro Sánchez nesta quarta. ULY MARTIN (EL PAÍS)

O Governo progressista da Espanha acaba de ativar a contagem regressiva e deve convocar eleições gerais antecipadas. Muitos elementos têm pesado na decisão, mas o não do Parlamento à proposta de Orçamento para 2019 parece ter sido o golpe definitivo. O presidente socialista Pedro Sánchez, que subiu ao poder em junho após vencer uma moção de censura que acabou com o Governo conservador de Mariano Rajoy, admite assim que não tem como terminar a legislatura sem aliados suficientes e de mãos atadas financeiramente. Sánchez renuncia a uma agenda com maior investimento social e contenta, ao mesmo tempo, o clamor de uma direita que tomou as ruas do país no último fim de semana levando bandeiras da Espanha para exigir um presidente eleito pelas urnas.

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Os próximos meses se apresentam convulsos. Na sexta, Sánchez deve anunciar, segundo fontes do Governo, a data da nova eleição na qual os espanhóis irão votar para escolher deputados –no sistema parlamentarista espanhol, o chefe de Governo é eleito pela Câmara. A escolha deve ser provavelmente em abril. Além disso, já há uma data eleitoral no calendário próximo: em 26 de maio, serão eleitos prefeitos, os equivalentes a governadores estaduais e representantes no Parlamento europeu. Tudo isso com o conflito da Catalunha pairando em uma atmosfera de crispação política sem precedentes, a desmobilização da esquerda e diante do crescimento da direita mais radical. Esta última é a grande novidade da política espanhola: a ascensão de um partido político amante da caça, partidário de abolir as leis que protegem as mulheres da violência machista e capaz de falar abertamente nos palanques que é hora de expulsar todos os imigrantes irregulares. O novo tom surpreende numa Espanha que pouco tempo atrás era considerada um oásis frente os discursos nacionalistas, xenófobos e antieuropeus que em outros países vizinhos, como Itália, desafiam os valores do continente.

Catalunha tem sido peça chave para explicar o auge de Pedro Sánchez, mas também sua precipitação à incerteza política. Os votos de dois partidos catalães (Esquerda Republicana da Catalunha e o Partido Democrata Europeu Catalão) que defendem a independência da região foram fundamentais para que Sánchez chegasse ao poder naquela moção de censura do primeiro de junho. Ainda que Sánchez não negociou contrapartidas com os partidos catalães, estes preferiam um governo de esquerda para iniciar uma nova etapa de diálogo depois que as relações com o Executivo de Madri ficaram profundamente deterioradas durante a etapa do conservador Mariano Rajoy. Para Sánchez, os independentistas eram um sócio determinante no objetivo de aprovar um orçamento considerado “letal” e “ruim para a economia” pelos líderes conservadores da oposição. Apenas a esquerda da coligação Unidos Podemos comemorava e defendia um projeto que contemplava medidas voltadas aos mais pobres, como a universalização da sistema de saúde ou a luta contra a pobreza infantil. A parceria com os independentistas ficou, no entanto, pelo caminho.

Em troca do "sim" ao orçamento, os catalães exigiam fórmulas para avançar na autodeterminação que o Governo não estava disposto a abraçar. Enquanto isso, a oposição, contrária a qualquer concessão aos independentistas, elevava a pressão e o tom contra um premiê cada vez mais acuado. No horizonte, ainda, esteve sempre presente o julgamento que nesta terça-feira sentou no banco dos réus 12 processados por promover, a partir das instituições catalãs, o referendo independentista que foi celebrado ilegalmente em outubro de 2017, uma data já histórica na crônica política espanhola. O Ministério Público pede para os líderes independentistas penas de até 25 anos de cadeia, sob a acusação de que lideraram uma rebelião contra o Estado espanhol. O julgamento vai demorar ainda mais três meses. Seu curso e seu desfecho marcará, segundo todos os analistas, o rumo futuro da política no país e das relações com a Catalunha.

A aposta sobre para qual lado virará a balança nas próximas eleições presidenciais é como jogar uma moeda para o ar. As pesquisas dizem neste momento que o PSOE de Pedro Sánchez seria a primeira força política com 24% dos votos. Na sequência, está o conservador Partido Popular (PP) (21%), o centro-direitista Ciudadanos (18%), o esquerdista Unidos Podemos (15%) e, por fim, a ultradireita de Vox (11%). As pesquisas vislumbram um momento de direita. A soma de PP, Ciudadanos e Vox poderia chegar a 49% dos votos e teria três pontos mais que nas últimas eleições presidenciais de 2016, informa Kiko Llaneras. A soma de PSOE e Podemos, por sua vez, ficaria abaixo de 40%, perdendo quatro pontos em relação ao últimos pleito. A vitória da direita parece aparentemente provável, mas está longe de estar certa. Se o resultado das pesquisas se confirmar, o PSOE conseguiria 105 vagas na Câmara de Deputados, o PP 86, Ciudadanos 65, Podemos 41 e Vox 26. Estes números deixariam a soma de PP, Ciudadanos e Vox à beira da maioria necessária de 176 deputados, mas não a asseguraria. Um cenário no qual a direita não somasse o suficiente abre alternativas de acordos liderados pelo PSOE, que de novo, poderia precisar dos sócios que essa semana o deixaram cair. 

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