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Três mortos e 114 desaparecidos em um naufrágio no Mediterrâneo central

Marinha italiana leva três sobreviventes à ilha de Lampedusa

Daniel Verdú
Bote cujos integrantes foram resgatados no Mediterrâneo em 15 de janeiro de 2019.
Bote cujos integrantes foram resgatados no Mediterrâneo em 15 de janeiro de 2019.JON NAZCA (REUTERS)

O Mediterrâneo central se transformou mais uma vez em um enorme cemitério para os imigrantes que tentam chegar à Europa. Uma embarcação de borracha, a bordo da qual 120 pessoas zarparam de Trípoli, naufragou na manhã de sexta-feira. Sem praticamente nenhuma ONG patrulhando a área, pela política de portos fechados e a criminalização dos trabalhos de resgate feita pelo Governo italiano, três horas se passaram antes da chegada de um avião da marinha militar italiana. Somente sobreviveram, que se saiba até agora, três pessoas (dois sudaneses e um gambiano), levadas em estado grave de hipotermia à ilha de Lampedusa na tarde de sexta por um helicóptero. Existem 117 desaparecidos.

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A busca de sobreviventes, em uma área a 45 milhas de Trípoli, em plena zona SAR (zona de busca e resgate em que nenhum barco estrangeiro pode entrar sem permissão das autoridades líbias), durou toda a noite. Mas não foi possível sequer encontrar os restos da embarcação de borracha. De acordo com matéria do La Repubblica, entre os desaparecidos estão dez mulheres, das quais uma estava grávida e dois eram crianças, uma de somente dez meses.

A situação esteve muito confusa até o último momento. No começo informou-se que existiam 20 desaparecidos, os que foram avistados por ar na balsa que estava afundando. “Infelizmente a dimensão da tragédia é muito mais grave do que parecia. Havia certa confusão sobre o número de sobreviventes, mas nos confirmaram que 120 partiram na balsa”, disse Flavio Di Giacomo, representante da OIM (Organização Internacional para as Migrações). Di Giacomo disse também que os sobreviventes relataram que após onze horas de navegação o bote de borracha em que viajavam começou a murchar e pouco a pouco as pessoas foram caindo no mar.

A ONG alemã Sea Watch, que entrou em conflito com o Governo italiano há duas semanas pela proibição de desembarcar os 49 imigrantes que havia resgatado e que levava a bordo de dois de seus navios após mais de 15 dias, informou na sexta-feira que um de seus aviões de controle avistou o bote com 25 pessoas a bordo. Não adiantou nada.

Esse último naufrágio ocorre justamente em um momento em que há só um barco humanitário, o Sea Watch 3, que além disso estava longe da área, patrulhando o Mediterrâneo, uma vez que o barco da ONG espanhola Open Arms está bloqueado na Espanha pelas autoridades e o Sea Eye está à procura de um porto para trocar a tripulação.

A retirada forçada dos barcos de regate das ONGs que operavam no Mediterrâneo pelo fechamento dos portos iniciado pela Itália causou um apagão total na vigilância da região, de modo que é difícil saber o que exatamente está acontecendo em alto mar. Além disso, a suposta mudança dos trabalhos de resgate à Guarda Costeira da Líbia foi um fracasso: por falta de recursos e, em muitos casos, vontade.

As chegadas à Itália caíram mais de 80% em 2018. Em 2018 chegaram por mar à Itália 28.210 pessoas, contra as quase 120.000 que o fizeram em 2017. Nesse mesmo ano, entretanto, morreram afogadas no Mediterrâneo tentando chegar à Europa 2.242 pessoas, contra 3.139 de 2017 e 5.143 de 2016.

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