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Estante EL PAÍS: de relançamento à estreia na lista de leitura para agosto

Pedro Mairal, Isabella Figueiredo Lesley Nneka Arimah e Ariano Suassuna são alguns dos autores indicados

Detalhe da capa do 'Auto da Compadecida'
Detalhe da capa do 'Auto da Compadecida'Divulgação
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Em agosto, a estante EL PAÍS vai do relançamento de um clássico, Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, à estreia de uma autora, a nigeriana Lesley Nneka Arimah, que vem fazendo sucesso com seu livro de contos O Que Acontece Quando Um Homem Cai do Céu. Também há investigação jornalística com o livro reportagem O Pior dos Crimes, que revisita o caso do assassinato de Isabella Nardoni; a história da amizade entre os escritores de literatura fantástica J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis; a poesia do século XVIII de Domingos Caldas Barbosa; e mais literatura com a portuguesa Isabela Figueiredo, o argentino Pedro Mairal e o brasileiro Caio Fernando Abreu.

Auto da Compadecida

Ariano Suassuna

Nova Fronteira

“Reza a lenda que certa vez um crítico teatral abordou Ariano Suassuna e o inquiriu a respeito de alguns episódios do Auto da Compadecida. Disse ele: ‘Como foi que o senhor teve aquela ideia do gato que defeca dinheiro?’ Ariano respondeu: ‘Eu achei num folheto de cordel’. O crítico: ‘E a história da bexiga de sangue e da musiquinha que ressuscita a pessoa?’ Ariano: ‘Tirei de outro folheto’. O outro: ‘E o cachorro que morre e deixa dinheiro para fazer o enterro?’ Ariano: ‘Aquilo ali é do folheto, também’. O sujeito impacientou-se e disse: ‘Agora danouse- mesmo! Então, o que foi que o senhor escreveu?’ E Ariano: ‘Oxente! Escrevi foi a peça!’. Essa história, contada por Bráulio Tavares, é um dos anexos contidos na nova edição do Auto da Compadecida, a principal obra do paraibano Ariano Suassuna. Chamada de “edição definitiva” pela editora Nova Fronteira, a publicação traz ilustrações inéditas feitas pelo filho do autor, Manuel Suassuna, além de contar com pequenos ajustes deixados pelo próprio Ariano em suas anotações. Baseado em romances e histórias do Nordeste, a peça, de 1955, retrata o drama vivido pelo povo nordestino, tendo o medo da fome, da miséria e a seca como parte dos protagonistas. Mas sem perder a graça e a leveza. A obra foi encenada pela primeira vez em setembro de 1956, no Teatro Santa Isabel, no Recife. Em 1999, os personagens principais, João Grilo e Chicó, ganharam vida na televisão, interpretados por Matheus Nachtergale e Selton Mello. E um ano depois, fora editada para o cinema. Uma obra sexagenária que vale a revisita. Por MARINA ROSSI

Caderno de Memórias Coloniais

Isabela Figueiredo

Todavia

Em Portugal, há a noção ainda cultivada por ex-colonos retornados à Europa de que as Colônias portuguesas levaram desenvolvimento e prosperidade para a África. Isabela Figueiredo, filha de imigrados, ela própria nascida em Moçambique, faz um ajuste de contas com essa história. O que aparece nas páginas de seu livro, um relato em primeira pessoa do passado colonizador português, é um brutal apartheid social e econômico em que o branco manda e o negro, este sim moçambicano, obedece. Figueiredo fala do racismo que presenciou em sua própria casa e do ódio dos colonos à população da capital Maputo, antiga Lourenço Marques. Mas nada é simples em seu relato e ele se confunde com a memória às vezes carinhosa, às vezes ressentida, que tem de seu pai. É assim um reencontro não apenas com a história colonialista de Portugal, para onde foi enviada sozinha com pouco mais de dez anos depois da queda do salazarismo, mas também uma reanálise de suas relações familiares e da descoberta de seu corpo. Por ANDRÉ DE OLIVEIRA

A Doença

Domingos Caldas Barbosa

Editora 34

Resgatado pelos pesquisadores Lúcia Helena Costigan e Fernando Morato, A doença é um registro explícito das relações de poder e compadrio da sociedade portuguesa do fim do século XVIII. O poema é escrito em estilo épico por Domingos Caldas Barbosa (1740-1800), filho de um alto funcionário português e de uma escrava angolana, que nasceu no Rio de Janeiro, mas fez sua carreira como violeiro em Portugal. Domingos emigrou para estudar direito em Coimbra, mas a morte de seu pai o deixou desamparado. Para fugir da miséria, o animador de saraus literários buscou abrigo entre a família dos Vasconcelos e Sousa, como qualquer profissional liberal tinha de fazer à época. É entre louvações sem fim à família que o patrocina que Domingos conta, sob o pseudônimo de Lereno Selinuntino, sua história, que joga luz sobre o período em que o marquês de Pombal deu as cartas enquanto primeiro-ministro de Portugal. Por RODOLFO BORGES

J.R.R. Tolkien & C.S. Lewis – o dom da amizade

Colin Duriez

Harper Collins

Duas das mais expressivas obras da literatura de fantasia mundial nasceram juntas. Ou quase isso. A história da parceria entre os autores de O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia é contada pelo jornalista inglês Colin Duriez em J.R.R. Tolkien & C.S. Lewis – o dom da amizade. Duriez inicia o relato sobre a vida dos dois autores britânicos em suas respectivas infâncias e avança nas duas histórias simultaneamente – o que torna a narrativa um pouco confusa nos trechos em que a alternância entre as duas vidas não está bem marcada. Além de permitir acesso ao intercâmbio literário entre Lewis e Tolkien – este último provavelmente não teria escrito a obra que se tornaria um estrondoso sucesso cinematográfico sem o incentivo do amigo –, o livro serve como uma introdução mais leve e breve para as obras dos dois. Mais conhecido por As Crônicas de Nárnia, que também ganhou muita popularidade após sua versão no cinema, Lewis tem uma obra filosófica de cunho religioso – e era ateu até conhecer Tolkien. Por RODOLFO BORGES

A Uruguaia

Pedro Mairal

Todavia

A uruguaia do título é a promessa de outra vida de Lucas Pereyra, um escritor quarentão envolto em problemas financeiros e emocionais. Alguns milhares de dólares de duas editoras estrangeiras é a chance de concretizar a promessa. Para receber o dinheiro, o protagonista do livro abre uma conta em um banco uruguaio, onde não será taxado como na Argentina. A ideia é a seguinte: passar um dia no Uruguai, pega o dinheiro e voltar com ele escondido do fisco argentino. No meio do caminho, encontrará a uruguaia Guerra, sua promessa de outra vida. Nada sai como esperado, contudo. No curto romance, que tem a duração da aventura de Pereyra, há ação, humor e desilusão. A divertida história, que reflete os dramas de uma geração, foi traduzida para quase uma dezena de idiomas e ganhou o prestigiado prêmio espanhol Tigre Juan. Agora, o autor Pedro Mairal, que é apontado como um dos novos nomes da literatura latino-americana, também trabalha em uma adaptação do livro para o cinema. Por ANDRÉ DE OLIVEIRA

O Pior dos Crimes

Rogério Pagnan

Record

Ao se aprofundar no assassinato de Isabella Nardoni, uma menina de cinco anos, o repórter Rogério Pagnan, transita por dezenas de pontos que não foram abordados na investigação da Polícia Civil de São Paulo, nem pelo Ministério Público e muito menos pela frágil defesa dos condenados pelo homicídio. No livro-reportagem O Pior dos Crimes, o autor consegue se aprofundar nas vidas dos dois condenados pelo caso, o pai da menina, Alexandre Nardoni, e a madrasta dela, Anna Carolina Jatobá. Não os pré-julga. Não diz se são culpados ou inocentes. Mas demonstra uma série de falhas durante todo o processo em um dos casos com a maior cobertura midiática do país. Pagnan destaca a vaidade de um promotor de Justiça, o desespero de policiais em darem uma resposta à sociedade ansiosa por vísceras, o despreparo de peritos da Polícia Técnico Científica e as brigas entre os defensores dos réus que não conseguiram convencer os jurados de suas teses. É uma intensa apuração sobre um crime que ocorreu dez anos atrás. Quase ninguém escapa das críticas, nem mesmo a imprensa, da qual ele faz parte há mais de duas décadas. Uma verdadeira aula de jornalismo. O livro é o primeiro de Pagnan, que durante sua carreira foi vencedor do Grande Prêmio Folha de Reportagem (2012) e do Prêmio Latino-americano de Jornalismo de Investigação (2017), organizado pelo Instituto de Prensa y Sociedad e pela ONG Transparência Internacional. Por AFONSO BENITES

Contos Completos

Caio Fernando Abreu

Companhia das Letras

Caio Fernando Abreu é o retrato de uma geração que continua encantando e inspirando outras mesmo depois de sua morte, em 1996. Nesta coletânea de seus contos, publicados entre as décadas de 1970 e 1990, o leitor tem a chance de, pela primeira vez, ler esta obra completa, passando por seis livros Inventário do Irremediável (1970), O Ovo Apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos Mofados (1982), Os Dragões Não Conhecem o Paraíso (1988) e Ovelhas Negras (1995). Além dos seis livros presentes na compilação de mais de 700 páginas, a edição ainda tem a presença de mais dez textos avulsos, sendo três inéditos. São os anos de chumbo da Ditadura Militar que emergem de sua linguagem poética e, às vezes, fantástica. A reunião dos contos de Fernando Abreu é uma ótima notícia para (re)conhecer esse autor. Por ANDRÉ DE OLIVEIRA

O Que Acontece Quando Um Homem Cai do Céu

Lesley Nneka Arimah

Kapulana

lesley Nneka Arimah nasceu no Reino Unido, viveu na Nigéria e hoje está nos Estados Unidos. O Que Acontece Quando Um Homem Cai do Céu é seu livro de estreia. São doze contos que vão do fantástico à distopia, passando por temas como memórias da guerra na Nigéria, relações familiares, embate entre tradições familiares e costumes de sociedades ocidentalizadas. A publicação, lançada no ano passado, tem sido elogiada por público e crítica. O New York Times Book Review comparou os contos de ficção científica de Arimah à obra de Margaret Atwood ao levantar questões feministas e relativas ao meio-ambiente. A editora Kapulana, responsável pela publicação brasileira, é especializada em buscar autores fora do radar no país. Até agora, já lançaram títulos de autores do Brasil, Angola, Moçambique, Nigéria, Portugal, Quênia e Zimbábue. Por ANDRÉ DE OLIVEIRA

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