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Caso Lula monopoliza as redes e dá oxigênio à estratégia do PT

Tentativa frustrada de liberar ex-presidente provocou mais de um milhão de menções ao petista no Twitter em um único dia. Partido explora controversa participação de Sérgio Moro no episódio

Felipe Betim
Dirigentes do PT em reunião em São Paulo após guerra de decisões sobre Lula.
Dirigentes do PT em reunião em São Paulo após guerra de decisões sobre Lula. Marcelo Chello (EFE)

A guerra jurídica aberta pela libertação ou não do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no domingo gerou uma onda em cima da qual o Partido dos Trabalhadores agora trata de surfar. Em meio a um cenário eleitoral ainda incerto em que alianças partidárias começam a ser costuradas quase sempre com a condicionante "sem Lula", os holofotes se voltaram mais uma vez para o ex-presidente, que monopolizou o noticiário. Nas redes sociais, as menções a Lula foram campeãs absolutas entre os pré-candidatos a presidente, segundo a análise da consultoria Atlas Político. Para o PT foi um fôlego em uma hora necessária. O partido insiste que vai lançar o ex-presidente ao Planalto, apesar da provável impugnação de sua candidatura pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)  por causa da lei da Ficha Limpa. A disputa legal serve para tentar manter coesa uma militância com líder ausente e minimizar as vozes que pedem, até mesmo no partido, que um plano B para Lula seja escolhido já. Nesta segunda-feira, durante entrevista na sede da legenda em São Paulo, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, voltou a dizer que essa possibilidade nem sequer está em discussão e prometeu que a candidatura do ex-presidente será registrada no dia 15 de agosto em meio a um grande ato. "Não vamos arredar o pé", garantiu.

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Todo o lance do fim de semana teve direção político-jurídica, e não o protagonismo dos advogados titulares da defesa do petista. O pedido de habeas corpus assinado pelos deputados federais petistas Paulo Pimenta, Paulo Teixeira e Wadih Damous não resultou na libertação de Lula, mas acabou expondo o juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, e integrantes do próprio Tribunal Regional Federal 4ª região (TRF-4), que se desdobraram — e angariaram críticas — por terem extrapolado o papel que lhes cabia para impedir que o ex-presidente fosse solto, mesmo que por algumas horas.

A jogada do trio petista foi aproveitar que o desembargador Rogerio Favreto, filiado até 2010 ao PT, estava de plantão no TRF-4 para conseguir um alvará de soltura nas primeiras horas de domingo. Moro, juiz de primeira instância que condenou o ex-presidente no caso triplex, se envolveu no caso emitindo documento para questionar a competência de Favreto. Mesmo estando de férias em Portugal, Moro articulou com a Polícia Federal que Lula continuasse preso até que o relator do caso na segunda instância, o magistrado João Pedro Gebran Neto, que tampouco trabalhava naquele dia, se manifestasse para impedir sua soltura. O desfecho veio das mãos do presidente do tribunal, o desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, que agiu para manter o petista preso. Toda essa sequência de fatos, que despertaram um país ainda na ressaca da eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia, foi usada para reforçar o argumento do PT de que o ex-presidente vem sendo vítima de uma perseguição por parte de setores do Judiciário que não medem esforços para mantê-lo longe da disputa eleitoral.

Nesta segunda, a aposta no discurso apareceu redobrada — ignorando, obviamente, que não apenas Moro, mas também o desembargador Favreto, estão na berlinda dos juristas. "Consideramos absolutamente grave o que aconteceu ontem. Estamos num aprofundamento da instabilidade institucional do país, um rompimento da ordem democrática, quando a primeira instância do judiciário não aceita uma decisão judicial. Quando a Polícia Federal, um órgão do Executivo, não executa uma ordem judicial. Isso é um ataque ao devido processo legal. E isso é dirigido ao presidente Lula, que é a grande vítima da situação", disse Gleisi Hoffmann. "Lula esteve praticamente na porta da Polícia Federal para sair. Havia um comboio de carros para retirá-lo de lá. Infelizmente um conluio da Polícia Federal com o juiz Sérgio Moro e dois desembargadores do TRF-4 impediram ele de sair", acrescentou. A senadora do Paraná também assegurou que os próximos dias servirão para reforçar o abaixo-assinado pela liberação do ex-presidente — "mostrou-se que é viável essa liberdade", disse ela — e para realizar atos, inicialmente marcados para os dias 13 de julho e 10 e 15 de agosto, para mobilizar a militância e lançar medidas emergenciais a serem adotadas por um eventual Governo petista.

Hoje foi um dia de tráfego atípico nas páginas que debatem política no Facebook (Gráfico 1). A movimentação foi...

Gepostet von Monitor do debate político no meio digital am Sonntag, 8. Juli 2018

Os próximos lances sobre o caso de Lula devem vir dos tribunais superiores, mas o episódio de domingo foi o bastante para alimentar temores de uma campanha eleitoral mergulhada na incerteza e nas mãos de um Judiciário imprevisível e que parece tão polarizado politicamente como boa parte do país. O zigue-zague só não teve maiores efeitos, inclusive na variação do dólar no Brasil, por causa do feriado em São Paulo, que impediu o funcionamento da principal Bolsa brasileira. Para o economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito, o movimento deve ser lido como "bom" pelos investidores que temem que Lula, e seu discurso contra as reformas liberais, seja vitorioso nas urnas. "A reação firme e imediata do aparelho judiciário para suprimir a libertação de Lula nos informa mais uma vez que não haverá espaço para ele sair antes das eleições e assim trabalhar em auxílio do seu candidato (mantemos nossa leitura de que Lula não reúne as prerrogativas de ser candidato, segundo o entendimento do TSE)", escreveu Perfeito a clientes.

Recorde de engajamento

A batalha dominical deixou um saldo para Lula nas redes sociais. A conclusão é da consultoria Atlas Político, que afirma que o nome do ex-presidente conseguiu em um só dia mais menções e tweets do que nas duas semanas anteriores somadas. Só o Twitter registrou 1.148.790 menções; em segundo lugar vem o presidenciável ultraconservador Jair Bolsonaro, com 110.573 menções. Nas duas semanas anteriores até o domingo, foram 867.433 menções sobre Lula contra 724.534 de Bolsonaro e 256.054 do presidente Michel Temer. Esse pico de interações significou, por exemplo, que o petista conseguiu em torno de 6.600 seguidores neste domingo, mais do que todos os demais candidatos.

Entretanto, o Atlas Político explica também que esse engajamento político se dividiu quase pela metade entre apoiadores e detratores do ex-presidente. Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, uma plataforma de monitoramento das redes sociais gerida por especialistas da Universidade de São Paulo (USP), as páginas de direita no Facebook somaram 6,6 milhões de interações (curtidas, comentários e compartilhamentos) em suas postagens enquanto as de esquerda somaram 4,3 milhões e as da imprensa 2,4 milhões. As páginas Brasil 200, Vem Pra Rua e República de Curitiba são as vencedoras de compartilhamentos, com postagens como "Deixe seu parabéns ao juiz Sérgio Moro. Lula NÃO será solto".

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