_
_
_
_

‘Dietland’, a série feminista do momento, não se submete ao patriarcado

Série baseada no best-seller de Sarai Walker tem como protagonista uma mulher de 130 quilos, uma guru antidietas e um grupo terrorista chamado Jennifer. Todas com um objetivo: derrubar o patriarcado

As protagonistas de 'Dietland'.
As protagonistas de 'Dietland'.

Seu nome é Alicia Kettle, mas todo mundo a chama de Plum (ameixa, em inglês). De cara, a explicação é sugestiva “porque sou suculenta e arredondada”, mas a magia se rompe quando imediatamente acrescenta “também conhecida como gorda. Eu posso dizer isso”. É esse o espírito da protagonista de Dietland, a série que desde o início de junho está sendo exibida pela Amazon Prime e que não para de ganhar seguidores.

Plum pesa 130 quilos e trabalha respondendo cartas desanimadoras que as leitoras da revista Daisy Chain enviam à diretora, a mais que perfeita Kitty Montgomery. Completa seu salário com os doces que vende na cafeteria de seu amigo Steven (personagens interpretados por Joy Nash, Julianna Margulies e Tramell Tillman respectivamente). Seu objetivo vital é juntar dinheiro suficiente para submeter-se a uma cirurgia de redução do estômago e poder levar uma vida "normal" quando estiver livre de todos os quilos que estão sobrando.

“Só quero poder sentar-me em um avião e não ter que pedir desculpas à pessoa que se senta ao meu lado”, exclama em determinado momento. Não pretende converter-se em uma das supermodelos que saem na revista para a qual escreve –de casa, não se encaixa na redação–, mas quer deixar de sentir os olhares depreciativos que a sociedade lhe dirige. “Quero que deixem de dizer o quanto sou bonita de rosto para depois me darem conselhos sobre o que deveria fazer com meu corpo.”

Mais informações
Lições do feminismo 'geek'
Nas novas séries, já não se trata mais apenas de se concentrar na mulher
O vocabulário feminista que todos já deveriam estar dominando

Mas um dia a vida de Plum muda quando entra em contato com Verena Baptist, a filha de uma estrela das dietas que utiliza o dinheiro de sua herança para consertar os danos causados pela mãe. A redentora a convida a trabalhar com ela em seu projeto, chamado Novo Método Baptist. Paralelamente, aparece um “grupo terrorista” chamado Jennifer, que se dedica a matar homens responsáveis por estupros e maus-tratos de gênero para depois jogá-los das alturas. It’s Raining Men.

A introdução vai até aqui –não é fácil resumir o enredo– de Dietland sem começar com os spoilers, embora seja possível que haja gente que já soubesse desde antes da estreia como a história evolui. A série é baseada no romance homônimo de Sarai Walker.

“O livro foi contratado quando a ideia da série era somente um projeto remoto do qual não se tinha certeza de que iria sair em frente, como tantos outros projetos audiovisuais baseados em livros”, explica por e-mail Diana Acero, editora da Carmot em conjunto com Amaya Basañez e Héctor González. “O romance chegou a ser um grande sucesso nos Estados Unidos, seus direitos foram vendidos a vários países (Reino Unido, França, Austrália, Coreia do Sul, República Tcheca, Israel, Turquia....) e as críticas da mídia eram muito boas. As dos leitores norte-americanos estavam muito polarizadas: ou o odiavam ou o amavam; tinha todos os ingredientes para se tornar um long-seller. Para arrematar, ao longo de 2017 ocorreram vários casos na Espanha de abusos contra mulheres iguais aos descritos no livro, por isso Amaya [diretora editorial da Carmot] não teve nenhuma dúvida da relevância de publicar o livro.”

Plum, em uma cena de ‘Dietland’.
Plum, em uma cena de ‘Dietland’.

Diana Acero afirma que na editora estão contentes com a adaptação do romance para a TV, algo que em muitas ocasiões é desastroso. “O livro é complicadíssimo de adaptar porque tem várias tramas que, além do mais, avançam ou retrocedem no tempo. Há partes oníricas de pesadelo nas quais você não sabe se o que acontece é real ou não, e a diretora soube representar isso à perfeição na série. É verdade que se permite certas licenças de partes que não são exatamente iguais ao livro, como os personagens masculinos, que no romance mal aparecem. Mas precisamente por isso é uma adaptação à televisão.”

E antes de ver o capítulo-piloto imaginaram que a série seria no mínimo aceitável, depois de saber que Walker faria parte da equipe de roteiristas e que a diretora seria Martí Noxon. “Nós nos declaramos fãs incondicionais desde seus tempos em Buffy, a Caça-Vampiros. Participou de algumas das séries mais relevantes dos últimos tempos, como Mad Men e UnReal, e dirigiu um filme para a Netflix, O Mínimo para Viver, no qual se vislumbra seu interesse por vários dos temas que viria a desenvolver em Dietland.”

Noxon conhece muito bem os danos que o sistema exerce sobre as mulheres (ela recuperou-se de uma anorexia e foi vítima de um estupro). Em entrevista à Newsweek, disse que quando leu Dietland em 2016 começou a refletir sobre o sentimento de raiva e vingança: “Não posso deixar de me perguntar por que nós, mulheres, não nos levantamos em armas (...) Não sou uma extremista e acho que o Jennifer vai longe demais, sua violência é exagerada, mas a pergunta filosófica é se quando você está começando uma revolução a violência pode ser necessária.”

De sua parte, Joy Nash –Plum nas telas– não é nova nem na profissão nem na questão da vergonha do próprio corpo (#bodyshaming) ou a gordofobia. Apareceu em séries como Twin Peaks e The Mindy Project, mas seu nome se tornou viral nos Estados Unidos em 2007 com o curta A Fat Ran, um arrazoado muito divertido contra a autocompaixão e os preconceitos. “Quando você vir uma pessoa gorda, olhe em seu rosto e sorria. Deveria fazer isso com todo mundo, mas não se esqueça de fazer isso também com os gordos.” Em Dietland ela dá o mesmo conselho de novo, embora com métodos um tanto mais contundentes: no final, empreendeu uma revolução.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_