‘Pantera Negra’: Wakanda tem o poder
Filme faz um apreciável esforço em ser responsável com as implicações raciais de seu personagem
Poucos meses separaram o nascimento do primeiro super-herói negro na Marvel da fundação do movimento Black Panther (os Panteras Negras) no contexto de uma América convulsionada pela luta pelos direitos civis da comunidade afro-americana. Um nome idêntico ligava duas respostas muito diferentes em relação a uma mesma realidade: Stan Lee e Jack Kirby chegaram antes do que Huey P. Newton e Bobby Seale imaginando um espaço fictício — Wakanda — que não coincidia exatamente com a utopia marxista-leninista que os Panteras Negras quiseram alcançar pela ação direta.
Como bem sabe todo fã de histórias em quadrinhos, a Marvel é conhecida popularmente como a Casa das Ideias, denominação que convém assumir em suas conotações mais platônicas: se personagens como o Homem-Aranha e os X-Men proporcionaram ao leitor adolescente suas fantasias de poder sob medida — sob a desconexão adolescente existe um potencial secreto —, o Pantera Negra acrescentava uma inflexão racial à formula construindo o paradoxo consolador de uma nação africana imaginária que ocupava uma bolha invisível de enorme tecnologia e domínio econômico dentro do Terceiro Mundo. Se o gesto de Lee e Kirby era revolucionário ou contrarrevolucionário é algo que não seria fácil de elucidar.
‘Pantera Negra’
Direção: Ryan Coogler.
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira.
Gênero: ficção científica. Estados Unidos, 2018.
Duração: 134 minutos.
Estreia no Brasil: 15 de fevereiro.
O prólogo do filme Pantera Negra, que estreou no Brasil em 15 de fevereiro, é uma espetacular emulação digital de animação criada com areia, longa que faz um apreciável esforço em ser responsável tanto com as implicações raciais de seu personagem como com as mudanças coletivas de sensibilidade de seu nascimento até o presente. É meritório que a presença de personagens brancos nessa história seja praticamente residual, ainda que os amantes dos excessos imaginativos das primeiras histórias de Jack Kirby se ressentirão do impedimento ao desvio delirante que isso impõe, junto com a necessidade de integrar esse filme no cânone cinematográfico, o fato de centrar a trama em um conflito dinástico.
O diretor Ryan Coogler, que tornou completamente seu Creed: Nascido para Lutar (2015), não parece se movimentar aqui com a mesma margem de liberdade, mas seu gosto pelas longas tomadas consegue se manifestar nas cenas de Busan e na partida de basquete da cena de introdução. Alguns traços de etno-kitsch, que por vezes lembram algum videoclipe de Miriam Makeba e em outras alguns fragmentos de O Rei Leão (1994), são compensados por ideias eficazes — o combate no túnel que desativa periodicamente os superpoderes — e pela solvência do sentido do espetáculo.
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