“Para o mercado, não importa só a candidatura de Lula, mas seu capital político”
Ibovespa entra em euforia com condenação, risco país cai e ações de firmas brasileiras disparam. Analista e consultoria ressaltam que novela jurídica é longa e que petista terá peso em eleição
Recorde histórico na Bolsa de São Paulo, queda do risco país do Brasil, alta das ações de empresas brasileiras no exterior, inclusive da Petrobras. O quadro nesta quarta-feira após à confirmação da condenação unânime, em segunda instância, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção, revela a euforia do mercado pela possibilidade de que o líder petista fique fora da corrida presidencial. Na análise de ganhos menos imediatistas, no entanto, o cenário fica mais complexo: nem toda alta é por causa de Lula e, considerando o aspecto risco político, nada é tão promissor assim nas eleições brasileiras do ponto de vista do mercado que anseia por reformas liberais e diminuição do gasto público brasileiro.
Analistas ponderam que a novela jurídica de Lula ainda tem meses pela frente e que, mesmo que Lula não seja candidato, ele terá um peso grande na corrida. Segundo a consultoria norte-americana Eurasia, a decisão unânime proferida pelo TRF-4 ainda não enterra a candidatura de Lula, mas deve acelerar a conclusão do processo. A consultoria reduziu nesta quarta-feira, entretanto, as chances do petista participar das eleições. A Eurasia falava numa probabilidade de 30% a 40% do ex-presidente concorrer à presidência e, agora, estima 30%. "Nós reiteramos nossa visão de que mesmo que Lula for impugnado, seria um erro ver essas eleições como relativamente livres de risco quando analisadas as chances de um candidato pró-mercado ser capaz de aprovar reformas fiscais profundas."
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, concorda e diz o mercado respirou aliviado com a condenação de Lula em segunda instância, mas que ainda há muitas incertezas pelo caminho quanto às eleições. "Não importa apenas a candidatura do Lula, mas sim seu capital político. Até outubro muita coisa ainda pode acontecer e não sabemos quem ele vai apoiar, ele é um líder muito carismático. E não sabemos também qual seria a reação gerada caso ele seja preso neste ano", explica. A Eurasia, em seu boletim a clientes, vai a mesma linha: "Se Lula deixa a corrida, as chances de um candidato reformista crescem, mas candidatos no campo esquerdista fora do PT tem mais chance de se beneficiar com votos de sua base de apoio, como candidato populista de esquerda Ciro Gomes (PDT)".
Outra questão a ser levada em consideração é a de que nem toda euforia se deve a Lula, mas ao jogo de apostas que cresce em meio à grande liquidez nos mercados internacionais. Segundo André Perfeito, a tendência para os próximos dias é de que a bolsa continue em alta, influenciada por uma conjuntura internacional positiva. “A expectativa dos investidores hoje esteve totalmente relacionada ao julgamento do ex-presidente Lula, mas o fluxo de capital estrangeiro segue aumentando desde a segunda quinzena de dezembro”, afirmou Régis Chinchila, analista da corretora Terra Investimentos, à agência Reuters.
Um dia histórico para Ibovespa
A condenação do ex-presidente no caso tríplex por 3 votos a 0, sem divergência de pena, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, era o placar mais desejado pelos agentes financeiros, já que o resultado é o que mais complica as chances do petista. Os investidores operaram todo o dia bastante atentos ao julgamento. O primeiro voto, do desembargador Gebran Neto, seguiu de uma alta de 1,19% na bolsa brasileira. Pouco depois das 16h30, o voto do desembargador Leandro Paulsen, que confirmou a condenação de Lula, reanimou os investidores, levando a mais um avanço de 1,51%. De olho nas dúvidas e preocupações do mercado sobre o placar, algumas corretoras ofereceram aos clientes uma conferência por telefone com um especialista para fazer um balanço do resultado do julgamento.
No fim do pregão, o Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em alta de mais de 3%, superando os 83 mil pontos pela primeira vez na história. Já o dólar terminou o dia em queda de 2,43%, cotado a 3,16 reais para venda, maior desvalorização percentual da moeda norte-americana desde maio. O principais destaques da Bolsa nesta quarta-feira foram as empresas públicas: as ações da Eletrobras, cujo papel preferencial disparou 9,69% (22,65 reais) e as ações da Petrobras, que avançaram 5,74%, a 19,34 reais. Na Vale, a alta foi de 2,23%, a 41,78 reais.
"No mercado, nunca agradeceram o dinheiro que ganharam comigo", disse há algumas semanas o próprio Lula diante dos comentários de analistas financeiros preocupados por uma possível vitória eleitoral do ex-presidente em outubro. A julgar por esta quarta-feira, eles seguem ganhando com o petista.
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