Tostão: “Não temos um armador para a Copa, mas ninguém tem Neymar”
Para analista, Espanha, França e Alemanha despontam como fortes adversárias do Brasil Ano termina com lesão de Gabriel Jesus durante jogo do Manchester City neste domingo
Faltam menos de seis meses para a estreia do Brasil na Copa do Mundo da Rússia, no dia 17 de junho do ano que vem, mas pode-se dizer que o time titular da seleção de Tite já está pronto: Alisson, Daniel Alves, Marquinhos, Miranda e Marcelo; Casemiro, Paulinho e Renato Augusto; Philippe Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus - isso se correr tudo bem com a recuperação do jogador, que se lesionou neste domingo numa partida pelo Manchester City e pode ficar até dois meses sem jogar. Thiago Silva, Fernandinho e Willian correm por fora, mas o fato é que, entre os 23 possíveis convocados, poucas vagas ainda estão indefinidas. E essas convicções são fruto de um trabalho que, desde de que o atual treinador assumiu, em setembro de 2016, não deixou dúvidas sobre o sucesso e a volta da boa reputação da seleção brasileira no cenário internacional.
Em 2016, o aproveitamento foi arrebatador: seis jogos e seis vitórias. A estreia contra o Equador, em Quito, já foi 3 a 0; depois, vitórias como 5 a 0 na Bolívia e 3 a 0 na Argentina, no Mineirão, convenceram de vez. Foram 17 gols feitos e apenas um sofrido. Em 2017, o aproveitamento caiu com o dobro de jogos, mas Tite não sofreu nenhuma derrota nas Eliminatórias: em seis jogos, quatro vitórias, como 4 a 1 contra o Uruguai em Montevidéu e 3 a 0 no Chile. A única derrota foi diante da Argentina, em um amistoso de junho, por 1 a 0. Ao todo, 11 jogos, sete vitórias e três empates; 21 gols feitos e quatro sofridos. A defesa merece um destaque: foi o melhor aproveitamento em gols sofridos da história da seleção. “Construímos essa solidez defensiva através de um sistema em que todos trabalham de forma conjunta. Temos como proposta a busca incessante pela retomada da posse de bola”, explicou o treinador Tite. “[Em comparação com o trabalho anterior] a evolução foi surpreendente”, analisa o campeão mundial em 1970, Tostão. “Os resultados foram acontecendo muito rapidamente e a confiança logo cresceu”.
Tostão, no entanto, ressalta as deficiências dos adversários que Tite teve nesse pouco menos de um ano e meio. “O Brasil só enfrentou seleções fortes sul-americanas, basicamente, o que na minha opinião diminuíram bastante a qualidade. Isso precisa ser levado em conta”, argumenta o ex-jogador. “O único jogo de alto nível contra europeus foi o da Inglaterra, que estava com vários reservas e se limitaram a defender; e a seleção não conseguiu ganhar”.
Em 2017, o Brasil contou também com a afirmação de vários jogadores importantes em grandes clubes europeus. Paulinho, que era titular de Tite enquanto ainda estava na China, virou peça relevante na equipe do Barcelona. Éderson e Alisson, os dois goleiros, são titulares indiscutíveis de Manchester City e Roma, respectivamente. Coutinho é referência no Liverpool, que também tem Roberto Firmino como titular. “É um ótimo momento individual também”, comenta Tostão. “Eles estão jogando na seleção no mesmo nível que jogam em seus clubes”. O entrosamento também conta: Marcelo e Casemiro são titulares na defesa do Real Madrid, Jesus joga ao lado de Fernandinho, Danilo e Éderson no City e o PSG conta com quatro brasileiros no seu time titular: Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Neymar.
Tostão pontua, por isso, sobre como o treinador se aproveitou da experiência de seus jogadores no futebol europeu. “O Tite não fez nada revolucionário. Ele apenas seguiu o modelo do mundo todo”. Para o ex-jogador, o treinador trouxe conceitos modernos de jogo aos quais os jogadores que atuam na Europa estão familiarizados; não foi uma inovação, mas algo fundamental para o sucesso da seleção. “Tem uma declaração do Daniel Alves na qual ele fala dessa semelhança”, afirma Tostão. “E isso foi para todos os atletas. As táticas, a troca de passes, a eficiência, as jogadas em velocidade… São todos conceitos que eles já trabalham em seus clubes”.
Dentre os que ainda não se firmaram entre os convocados de Tite, alguns nomes tiveram uma queda de produção no último ano. Douglas Costa saiu do Bayern para tentar jogar mais na Juventus, mas segue apenas como uma opção no banco de reservas. David Luiz, que terminou a temporada 2016-17 como titular e campeão inglês no Chelsea, teve problemas com o treinador Antonio Conte e também virou suplente. E Renato Augusto, apesar de ter sua vaga na Rússia quase confirmada, segue na China e vê sua titularidade ameaçada por Willian, que pode formar um quarteto com Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus. Aqui no Brasil, outros nomes ficaram mais longe da Copa depois de um ano abaixo da expectativa: Fágner, Diego, Lucas Lima, Rodrigo Caio e Diego Souza até figuraram nas convocações recentes de Tite, mas não alcançaram regularidade em seus clubes. Por outro lado, alguns destaques pouco ou nenhuma vez testados, como o lateral Fabinho, os volantes Allan, Arthur e Hernanes e os atacantes Luan, Richarlison e Malcom podem ter uma chance. “Desses jogadores, alguns podem ir para a Copa”, diz Tostão, “mas nenhum deles será titular. Eles não têm o mesmo nível dos que jogam em clubes europeus. Gosto muito do Arthur, é um que teria condições, mas é muito novo e falta pouco tempo [para o Mundial]”.
O ex-jogador de Cruzeiro e Vasco lista, também, três fragilidades que a equipe de Tite apresentou durante esse ano e meio que o preocupam na busca pelo sexto título mundial. “Há uma preocupação com relação ao Neymar”, afirma Tostão. “Se ele não joga, a seleção cai muito de produção. O Brasil é um time que se destaca pela qualidade individual e é muito forte no ataque por causa dele”. No meio-campo, outro receio: “Não temos um armador. Temos jogadores fortes na marcação, então há pouco domínio de bola. Contra seleções grandes, podemos ser envolvidos no meio-campo”. Por fim, o elenco também preocupa o tricampeão. “Se perdemos alguns jogadores importantes, acho que os reservas estão bem abaixo do nível dos titulares, como Diego e Lucas Lima”, exemplifica Tostão. “Me preocupa que eles sejam escalados em jogos importantes”.
Comparando com outras seleções, o camisa 9 de 1970 também vê as favoritas passando pelo mesmo problema do Brasil. “Espanha, França e Alemanha também têm reservas bem abaixo do nível dos titulares. A França é quem tem mais opções do meio para frente, mas ainda assim tem dificuldades em outras posições”. As três são as maiores candidatas ao título para o ex-craque, ao lado da equipe de Tite. “A nossa seleção não é a grande favorita, mas recuperou o prestígio internacional e está ao lado dessas três”. Pelo viés otimista, Tostão afirma que quem mais pode fazer diferença nesta Copa do Mundo é o camisa 10 brasileiro. “Nenhuma delas [França, Alemanha ou Espanha] tem um jogador tão decisivo quanto o Neymar”.
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