Luan: “Tenho o sonho de jogar na Europa, mas não tenho pressa”
Craque do Grêmio elogia Cristiano Ronaldo e diz que final contra o Real Madrid é o jogo de sua vida
No hall do luxuoso Park Rotana Hotel, em Abu Dhabi, ao lado do estádio que será palco da final do Mundial de Clubes e do aeroporto da cidade, os torcedores do Grêmio tiram fotos com Renato Portaluppi. Em um dos balcões perto do refeitório do hotel, alguém deixou uma camisa do time para os jogadores assinarem. O cozinheiro do Grêmio, Jaime Maciel, cumprimenta com amabilidade. Ele é também o cozinheiro da seleção brasileira, mas o time gaúcho tomou-o emprestado para levar a Abu Dhabi. "Uma nutricionista viaja sempre com a gente. Mas nesta viagem a gente não quis arriscar e trouxe também o Jaime", comenta João Paulo Fontoura, o assessor de imprensa. "Esse cozinheiro é muito bom", diz Luan rindo após terminar o jantar. O atacante de 24 anos conversa com três jornalistas espanhóis batendo um papo descontraído e amável no qual acaba até mostrando suas tatuagens. Após o desfalque do meia Arthur por lesão, Luan, artilheiro e indicado melhor jogador da Copa Libertadores passada, é a grande esperança da torcida tricolor para o jogo contra o Real Madrid. O atacante conta aos jornalistas espanhóis alguns detalhes da sua vida.
Pergunta: Seu pai morreu quando você tinha cinco anos. Como sua mãe se desdobrou para criar você e seu irmão?
Resposta: A falta de um pai para um menino é muito importante. Mas minha mãe sempre me ajudou. Ela tentou fazer papel de pai e mãe. Devo tudo a ela porque sempre me incentivou a jogar, sempre me apoiou, então graças a ela também eu consegui estar onde eu estou hoje.
P: Com que sua mãe trabalhava?
R: Ela fazia uns bicos como empregada doméstica.
P: Quais são as principais lembranças de sua infância?
R: Eu jogando bola na rua, na escola. Faltava na aula para jogar bola, sempre com meus amigos.
P: É verdade que um dia quebrou o braço e jogou com uma proteção escondida?
R: Sim, caramba, poucas pessoas sabem disso. Eu tinha 15 ou 16 anos, na escola. Um dia antes do principal campeonato da escola, brincando, eu quebrei o braço. Fui no médico e engessei o braço inteiro. Aí voltei, peguei uma faca e cortei até o cotovelo. E joguei com uma camisa de manga comprida. Ganhamos com dois gols meus.
P: Seu início foi no futebol de salão, certo?
R: Sim. A vida inteira jogando futebol de salão, não tive muito contato com o campo. Era mais difícil. Eu sempre fui pelo salão porque era mais fácil, então deu tudo certo. Comecei meio tarde a jogar no campo.
P: Como foi o salto para os gramados?
R: Com 18 anos, eu comecei a jogar no campo. Foi muito rápido, só alguns meses e já estava no Grêmio. Era para ser mesmo. Fiz a escolha certa.
P: Se adaptou rápido ao campo?
R: O mais difícil foi o posicionamento. A dimensão é diferente, então foi mais o posicionamento. Mas, com a bola, não tive problemas.
P: O que te agradou mais nessa mudança?
R: O espaço. Para mim, como jogo mais na frente, tinha mais espaço no campo, para driblar, para fazer as jogadas.
P: O que mais gostava no futebol de salão? E no futebol de campo?
R: No salão era que eu fazia gol toda hora. Era muito rápido. No campo, a dimensão, a liberdade e a proporção de ser reconhecido no Brasil inteiro.
P: O que comprou com seu primeiro salário?
R: Eu comprei uma chuteira. Era da Adidas. Quando vim para o Grêmio, usava uma emprestada. Aí eu comprei uma. E mandei para a minha mãe o resto do dinheiro.
P: Conseguiu realizar o sonho de comprar uma casa para sua mãe?
R: Comprei. Quando tive condições, foi a primeira coisa que eu fiz.
P: Em sua cidade?
R: Sim, em São José do Rio Preto.
P: Quem eram seus ídolos de infância?
R: Tinha o Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. Para mim, dois fenômenos.
P: O que apreciava no Ronaldo?
R: Eu gostava de tudo. Ele não era só finalizador. Fazia gols e grandes jogadas, isso que me fascinava.
P: Você o conheceu?
R: Não, o Ronaldo não. O Ronaldinho sim, conheci. Só falta o Ronaldo agora. São meus ídolos no futebol.
P: Os argentinos dizem que seu estilo de jogo se assemelha ao do Riquelme. Já os brasileiros apontam semelhanças com o estilo do Kaká...
R: Acho que os dois são jogadores fantásticos. Acompanhei os dois, mas eu tenho minhas características. Deixo mais para as pessoas falarem. Não consigo me definir num estilo próprio, quero estar ali perto do gol e ajudando meus companheiros, isso que importa para mim.
P: O que acha que ainda precisa melhorar?
R: Em tudo. Tenho sempre que melhorar. Não posso me acomodar com o que eu tô vivendo agora, tem sempre que querer mais. Sempre vou treinar e trabalhar para aperfeiçoar as qualidades que tenho.
P: O que significam suas tatuagens?
R: Nem sei quantas tenho. Tenho uns meninos jogando bola, tenho o nome da minha mãe, uma rosa, uma carpa, um leão, uns salmos da Bíblia, umas frases, tenho das Olimpíadas... Não sei quantas são.
P: Você já está há uma semana nos Emirados Árabes. Quem já te escreveu mensagens?
R: Minha mãe. Todas as mensagens dela me deixam muito feliz, dela estar orgulhosa do que me tornei e do que estou vivendo. Ela vive junto. Para mim, as mensagens dela são as que mais importam.
P: Ronaldinho ligou ou escreveu para vocês?
R: Não. Eu conversei algumas vezes com ele, o sobrinho dele [Diego Assis] é meu amigo, então a gente às vezes se encontra. Mas nada muito de futebol. É um cara fantástico; já o admirava dentro de campo e fora, pela pessoa que ele é, admiro mais ainda.
P: Qual o melhor conselho que sua mãe te deu?
R: Seguir sempre meu coração. Para mim, é onde eu estiver feliz. Que ela sempre está comigo.
P: O confronto com o Real Madrid é o jogo da sua vida?
R: Com certeza. É a partida principal aqui pelo Grêmio. Tô com muita expectativa e espero que a gente, como time, possa fazer um grande jogo e sabemos que é muito difícil, mas temos condição de vencer. Estamos preparados para fazer nosso jogo e ser campeão
P: Renato Gaúcho disse que jogou mais que Cristiano Ronaldo. O que você acha?
R: Eu não vi ele jogar, então não posso opinar. Não tenho como comparar os dois.
P: Mas você viu o Cristiano jogar...
R: É o melhor do mundo. Um jogador fantástico, não só dentro de campo, mas fora também. Acho que é um exemplo para todos os jogadores... Então fico feliz de poder enfrenta-lo. Queria estar jogando junto, mas a gente sabe das qualidades dele. Mas amanhã temos que fazer o nosso papel. Temos que entrar para honrar essa camisa e buscar esse título.
P: Por que você ainda não foi para a Europa?
R: Eu sempre tive a cabeça boa, não me preocupei com isso. Tenho o sonho de jogar na Europa, mas não tenho pressa. Acho que eu vou no momento certo. Teve [proposta] agora no meio do ano, mas eu tinha a convicção que nós poderíamos ser campeões da Libertadores e eu poderia jogar o Mundial. Para mim, foi uma chance de atingir um nível maior do que eu estava e assim poderia ter oportunidade de outros clubes.
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