_
_
_
_

A CPI moldada para constranger a Lava Jato e blindar Temer

Comissão pede indiciamento de integrantes da Procuradoria e investigação de Janot. Apesar de constarem nas delações, nomes de Temer, Lula, Aécio e Dilma foram poupados

Moreira Franco, Temer e Padilha.
Moreira Franco, Temer e Padilha.Joédson Alves (EFE)
Mais informações
A reforma da Previdência vai aumentar a desigualdade?
Os frustrados com a reforma da Previdência prometem levar a batalha à Justiça

Chegou ao fim nesta quinta-feira a CPMI da JBS. Uma comissão parlamentar mista de inquérito criada para constranger os principais investigadores da cúpula política do Brasil e retirar o foco das investigações da Lava Jato contra uma série de autoridades públicas, como o presidente Michel Temer e dois de seus ministros, Moreira Franco e Eliseu Padilha.

O relatório, que inicialmente pedia o indiciamento do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de seu antigo chefe de gabinete, Eduardo Pelella, acabou dando um passo atrás, mas, ainda assim, colocou os procuradores contra a parede. Elaborado pelo peemedebista Carlos Marun – um deputado da tropa de choque do ex-deputado Eduardo Cunha e de Temer – o relatório pediu que o Conselho Superior do Ministério Público investigasse Janot e Pelella. O relator admitiu que faltou materialidade de provas contra os procuradores. “Não fiz apenas uma análise jurídica, mas também comportamental. Em mantendo o indiciamento reconhecendo a materialidade, talvez estivesse cometendo o mesmo erro que foi cometido pelo senhor Janot e pelo senhor Pelella: o açodamento”.

Apesar de a delação da JBS ter revelado o pagamento irregular de 600 milhões de reais a representantes de 28 partidos e de ter citado nominalmente 1.829 políticos que foram eleitos nos últimos anos, nenhum deles aparece como possível responsável pelo recebimento de recursos ilícitos ou de ter cometido qualquer crime. O espírito de corpo, mais uma vez, prevaleceu no relatório de Marun. Além de Temer, Moreira e Padilha, foram poupados no relatório final, apesar de constarem da delação da JBS, nomes como: os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP), os governadores Fernando Pimentel (PT-MG) e Reinaldo Azambuja (PSDB-MS), o ex-governador André Puccinelli (PMDB-MS), o deputado Zeca do PT (MS) e o ex-deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Rocha Loures (PMDB-PR) e Geddel Vieira (PMDB-BA).

O documento seria votado nesta quarta-feira, porém, com a sessão do Congresso Nacional, os trabalhos foram adiados para a quinta. Na sexta-feira, Marun deverá ser empossado na Secretaria de Governo, o ministério responsável pela articulação do Planalto com o Legislativo. A ascensão de Marun é uma espécie de promoção para um defensor que atuou com tanto afinco a favor de Temer. A mudança de seu relatório final foi também uma tentativa de não fechar portas com alguns deputados que poderiam votar junto com Temer no Congresso.

O fim da CPMI causou desconforto entre representantes da base governista. “Várias pessoas importantes que deveriam ser investigadas não foram ouvidas. As que aqui vieram ficaram caladas”, afirmou o deputado Fernando Francischini (SD-PR), um dos sub-relatores da CPMI. Entre os que se negaram a se manifestar em seus depoimentos estão os irmãos Wesley e Joesley Batista, ex-controladores da JBS. Convidado para depor, Rodrigo Janot recusou o convite.

No relatório, votado nesta quinta com quórum baixo, Marun pede que os órgãos de fiscalização indiciem os envolvidos direta ou indiretamente na delação da JBS. São eles: Os irmãos Batista, o ex-procurador Marcelo Miller (suspeito de intermediar o acordo de delação da JBS), e dos ex-diretores da empresa Ricardo Saud e Francisco de Assis e Silva, o advogado Willer Tomaz e o procurador Ângelo Goulart Vilela. As acusações feitas pela Comissão têm como base o depoimento do ex-executivo da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán, que prestou depoimento à distância aos integrantes da CPMI.

A primeira reação ao relatório foi do senador oposicionista Randolfe Rodrigues (REDE-AP), que recentemente trocou ofensas com Marun na CPMI, quando o chamou de “lambe-botas” de Temer. Como resposta, o deputado chamou o senador de “vira-lata da banda podre do Ministério Público”. Randolfe informou que recorrerá ao STF para evitar a “tentativa de intimidação” aos procuradores. “O desfecho da CPI foi absolutamente previsível: fez vista grossa aos negócios sujos dos irmãos Batista, que envolvem membros do governo anterior e do atual, e se dedicou a inverter a relação entre acusados e acusadores, enxovalhando de modo oportunista o instituto da delação premiada e pondo a Lava-Jato no banco dos réus”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_