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Caso Odebrecht: Cinco empresários das maiores construtoras do Peru são detidos

O ex-presidente do conselho de administração da Graña y Montero, José Graña Miró Quesada, está entre os executivos que devem passar 18 meses em prisão preventiva

José Graña Miró Quesada (esquerda), na comissão investigadora da Lava Jato
José Graña Miró Quesada (esquerda), na comissão investigadora da Lava JatoCongreso de Perú

Um juiz expediu nesta segunda-feira uma ordem de 18 meses de prisão preventiva contra cinco empresários peruanos associados à construtora brasileira Odebrecht no segundo e terceiro trecho da rodovia Interoceânica Sul. Entre eles está José Graña Miró Quesada, que foi durante décadas o presidente do conselho de administração da Graña y Montero, a principal construtora do Peru, até renunciar em fevereiro. É, além disso, o acionista majoritário do Grupo El Comércio. O juiz ordenou a prisão domiciliar de um dos diretores, internado em uma clínica para tratamento de um câncer.

“O Peru testemunhará se a Justiça trata com o mesmo critério todos os cidadãos no país”, disse na manhã de domingo o promotor do caso, Hamilton Castro, ao pedir ao juiz a prisão preventiva de cinco empresários das maiores construtoras peruanas que formaram um consórcio com a Odebrecht. Dezesseis horas mais tarde, o juiz Richard Concepción Carhuancho emitiu uma ordem de captura para quatro deles, incluindo Graña Miró Quesada.

Castro, que comanda a equipe anticorrupção a cargo das investigações sobre o pagamento de propinas da Odebrecht, quis evitar que Graña e outros quatro executivos das construtoras JJ Camet Contratistas Generales e Ingenieros Civiles y Contratistas Generales (ICCGSA) abandonassem o país, como ocorreu com o empresário Gustavo Salazar, ex-presidente do Clube Regatas, quem tinha recebido dinheiro da construtora como intermediário de um governador regional. Graña e sua família possuem 11% das ações do Grupo El Comércio, dono do jornal El Comércio, juntamente com outros 167 acionistas, segundo uma investigação do site jornalístico Ojo Público.

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O juiz emitiu a ordem de busca e captura para os investigados pelos delitos de conluio agravado e lavagem de ativos, já que as empresas peruanas, juntamente com a gigante brasileira, supostamente pagaram 15 milhões de dólares (49 milhões de reais) em propinas ao ex-presidente Alejandro Toledo para a concessão da construção de dois trechos da rodovia Interoceânica Sul, que une a costa do Peru com o oeste do Brasil. Além de Graña, foram detidos Fernando Camet, presidente da JJ Camet; José Castillo Dibós, diretor-geral da ICCGSA, e Hernando Graña Acuña, outro membro do conselho de administração da Graña y Montero.

Prisão domiciliar

O juiz Concepción ordenou, além disso, a prisão domiciliar de Gonzalo Ferraro Rey, outro diretor da Graña y Montero, que está internado em uma clínica para tratamento de câncer. O magistrado estabeleceu como condições para Ferraro “a custódia policial com dois efetivos e a proibição de se comunicar com seus coinvestigados e com o delator premiado [Jorge Barata, ex-representante da Odebrecht no Peru]”. Além disso, solicitou um celular para que, pelo WhatsApp, a Procuradoria possa monitorar sua permanência na clínica.

Em fevereiro, José e Hernando Graña renunciaram a seus cargos depois que as ações da empresa caíram na Bolsa de Valores de Lima e a reputação da empresa veio abaixo. A renúncia, explicou então a empresa em um comunicado, deveu-se à rescisão do contrato do Gasoduto Sul Peruano, à queda das ações e às falsas acusações feitas pelo ex-representante da Odebrecht no Peru”.

Castro considerou que as atas das empresas associadas com a Odebrecht para a obra provam que aceitaram o pagamento de subornos ao então presidente Toledo (2001-2006), como relatou Barata no Brasil em janeiro. “As demais empresas tinham conhecimento, não detalhes; sabiam que tínhamos pago e que tinham que assumir o que lhes corresponderia”, afirmou o ex-representante da Odebrecht no Peru.

As atas indicam que as construtoras peruanas renunciaram a uma parte de seus lucros pelos “riscos adicionais” que a empresa brasileira teve de assumir nesse projeto. A administração da Justiça ocorre em um terreno sob influência do jogo político. As três primeiras pessoas contra quem as autoridades emitiram ordens de prisão depois das revelações de Barata foram Toledo, o também ex-presidente Ollanta Humala e sua mulher, Nadine Heredia. Os dois últimos estão na prisão.

A pressão do Fujimorismo sobre os procuradores

O partido fujimorista Força Popular, que tem maioria no Congresso peruano, apresentou em novembro uma acusação contra o procurador-geral Pablo Sánchez por não investigar a empresa Graña y Montero e as outras construtoras. Sánchez teve de revelar informações sobre a investigação de Hamilton Castro. A ameaça surgiu depois da retomada de uma investigação contra um ex-congressista fujimorista.

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