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Trump e Theresa May trocam farpas após publicações islamofóbicas no Twitter

Presidente dos EUA chocou políticos britânicos ao retuitar nesta semana vídeos publicados pela líder do grupo ultranacionalista 'Britain First'

O presidente Donald Trump
O presidente Donald TrumpKEVIN DIETSCH / POOL (EFE)
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A química do presidente dos Estados Unidos com a extrema direita se tornou evidente nesta quarta-feira, dia 29 de novembro. Donald Trump reproduziu em sua conta do Twitter três vídeos que alimentam a islamofobia publicados pela líder do grupo ultranacionalista britânico 'Britain First', conhecido pela divulgação de conteúdos xenófobos. O aval de um governante da primeira potência mundial a esse tipo de movimento é insólito, mas não incomum em se tratando de Trump, que já instigou o extremismo muitas vezes.

A classe política britânica ficou estupefata. A primeira ministra britânica, Theresa May, expressou seu rechaço por meio de seu porta voz: "'Bristish First' quer dividir as comunidades pelo uso de um discurso de ódio que vende mentiras e provoca tensões. Os britânicos rejeitam unanimemente a retórica enviesada da extrema direita, que é a antítese dos valores que este país representa: decência, tolerância e respeito. É um erro que o presidente tenha feito isso”, afirmaram em Downing Street.

Eles causam ansiedade às pessoas que respeitam a lei. Os britânicos rejeitam, majoritariamente, a retórica preconceituosa da extrema direita, que é a antítese dos valores que este país representa: decência, tolerância e respeito", informou o The Gardian. E Trump respondeu a ela com dureza à noite por meio do Twitter: “Theresa, não foque em mim, foque no terrorismo islâmico radical que está acontecendo no Reino Unido. Conosco está tudo bem!”, alfinetou na rede social.

O ataque acontece meses depois da mensagem enviada ao prefeito de Londres, Sadiq Khan, depois do atentado jihadista perpetrado em junho na capital londrina. Naquela ocasião, porém, não estava respondendo a ninguém: simplesmente criticou o fato de Khan ter pedido calma. Desta vez, a rusga com o Reino Unido, um tradicional aliado de Washington, ocorreu em função do tratamento dado por Trump a mensagens islamofóbicas procedentes de um grupo extremista britânico.

A chegada de Trump à Casa Branca depois de uma campanha marcada por mensagens racistas e contra o Islã foi recebida há um ano como uma “vitória” pelo supremacismo norte-americanos, que depois de muitos anos tinha encontrado um candidato a seu gosto. Assim que chegou ao poder, defendeu um veto migratório para cidadãos de vários países, a maioria deles de população eminentemente muçulmana, alegando ameaça terrorista. E sua falta de atitude em relação aos nazistas e à Ku Klux Klan depois da violência racista em Charlottesville (Virginia) despertou espanto. Este último episódio, mesmo tendo passado dos limites, é coerente com a trajetória de Trump.

Um dos vídeos que Trump retuitou mostra de forma confusa como um grupo de pessoas – um deles segurando uma bandeira do Estado Islâmicosupostamente empurra um menino do alto de um telhado. No segundo, um homem fala em árabe enquanto destrói uma estátua da Virgem Maria. No terceiro, intitulado “Um imigrante muçulmano dá uma surra em um menino de muletas na Holanda”, um jovem ataca de maneira violenta e sem motivo aparente um menino branco. É desconhecida a origem de todas as gravações e a identidade de quem aparece nelas, exceto o agressor do jovem de muletas. A Embaixada da Holanda nos EUA explicou na própria quarta-feira em sua conta do Twitter que essa pessoa nasceu e cresceu no país e que tinha cumprido pena pelo ato. “Os fatos realmente importam. Quem cometeu o ato violento desse vídeo nasceu e cresceu na Holanda. Foi condenado e cumpriu pena sob a lei holandesa”, afirma o tuíte.

A mulher que os publicou é a vice-presidenta do Britain First, Jayda Fransen, que não esconde sua islamofobia. Em perfil do Twitter é possível encontrar o vídeo de sua participação em uma manifestação contra muçulmanos na localidade britânica de Luton. Fransen, de 31 anos, foi acusada no início do mês de “comportamento e palavras ameaçadoras, abusivas ou insultantes” em função de um discurso que pronunciou na Irlanda do Norte. Deverá comparecer diante de um tribunal em Belfast em 14 de dezembro para responder pelas acusações.

A cobertura que o presidente dos EUA deu a essa extremista deixou boquiaberto o Reino Unido. O líder do trabalhismo britânico, Jeremy Corbyn, também expressou sua rejeição: “Espero que nosso Governo condene os retuítes da extrema direita de Donald Trump. São abomináveis, perigosos e uma ameaça para nossa sociedade”, escreveu na rede social.

Britain First esteve em evidência em junho do ano passado, pouco antes do referendo sobre o Brexit, quando a deputada trabalhista Jo Cox foi assassinada por um ultradireitista que, segundo testemunhas, gritou o nome do grupo, que quer dizer “Grã-Bretanha primeiro”. Depois de saber a notícia, seu líder, Paul Gorlding, condenou o ataque. Meses depois uma deputada trabalhista pediu que o Parlamento debatesse tornar a organização ilegal. Brendan Cox, viúvo da jovem deputada assassinada, escreveu nesta quarta-feira que “Trump legitimou a extrema direita em seu próprio país, agora tenta fazer o mesmo no nosso. Difundir o ódio tem consequências e o presidente deveria estar envergonhado de si mesmo”.

Na quarta-feira dia 29 de novembro, lisonjeada pelo respaldo do homem mais poderoso do mundo, Fransen compartilhou dezenas de artigos sobre o assunto. O nome do grupo, ‘Britain First’, coincide com um dos grandes lemas nacionalistas da campanha trumpista, ‘America First’. Durante a campanha o então candidato republicano já alimentou a islamofobia, com frases como “o Islã nos odeia” – equiparando a religião ao terrorismo – ou o chamamento de proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos como prevenção diante da ameaça jihadista. Essas palavras são agora uma das provas em análise nos tribunais quanto ao veto migratório.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, avalizou o comportamento do presidente nesta manhã. Em declarações a um grupo de jornalistas, disse que a questão é se esses vídeos são reais, porque nesse caso “a ameaça é real”. “Creio que o objetivo do presidente é promover fronteiras fortes e uma segurança nacional fortes”, reforçou. Essas palavras confirmam mais uma vez que as mensagens de Trump não são um excesso verbal, nem uma ocorrência passageira.

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