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Kim Kardashian: “Trump faz com que cada dia tenhamos piores notícias que no anterior”

Não precisou saber cantar, atuar nem desfilar para se tornar a ‘mulher marca’: é uma provocação em si mesma. Hoje possui mais de 100 milhões de seguidores

Assistir ao programa-piloto da série Keeping up with the Kardashians, emitido em 2007, é um exercício antropológico quase necessário para quem deseja entender 2017, a começar pelo ocupante da Casa Branca. Kylie e Kendall Jenner, agora supermarcas em si mesmas, eram na época meninas pré-adolescentes; Caitlyn Jenner se chamava Bruce. Não existia nenhuma das cinco crianças Kardashian – em breve oito, se forem confirmados os rumores – e Kim... Kim Kardashian era (muito pouco) conhecida por ser a amiga de Paris Hilton e por um vídeo sexual que tinha vazado. No capítulo, ela ensaia como explicará isso no programa de Tyra Banks e tenta com essa frase: “Porque estava excitada e me dava vontade.” Se isso não é feminismo sex-positive, o que mais pode ser?

Pergunta. Dez anos se passaram e, com as carreiras que têm atualmente, já não precisariam filmar o reality show. Por que continuam gravando?

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Resposta. Porque, quando filmamos, somos realmente quem somos. Isso nos une muito como família. Sabemos que temos essa obrigação profissional que nos faz estar lá e nos serve para estar juntos. Se passássemos o dia todo fazendo nossas coisas, não nos veríamos tanto. Enquanto nossas vidas se tornam cada vez mais loucas e surrealistas, o programa é o que nos traz de volta à Terra.

P. O programa ajuda a processar o que acontece em suas vidas?

David Slijper

R. A equipe da série é muito boa fazendo-se passar por um observador invisível e seguir nossos movimentos, mas somos conscientes. Às vezes pensamos: “Puxa, estamos no meio de uma briga e temos que gravar juntos nos próximos dias”. De modo que é terapêutico nesse sentido, pois compreendemos que temos que resolver as coisas.

P. Dizem que você é a Olivia Pope dos Kardashian, a que pacifica e soluciona os problemas.

R. Sempre desempenhei esse papel. Os membros de minha família me procuram com seus problemas para que eu resolva. Por outro lado, quis fazer o programa mais do que minhas irmãs. Kylie e Kendall eram muito pequenas, e Kourtney não queria... Sou muito consciente de que, se você não tem um grande sistema de apoio, é duro aguentar toda a atenção da mídia e tudo o que isso envolve. Tenho que fazer minha parte.

P. Sua mãe é fascinante, administra todas as suas carreiras, mas também é alvo de muitas críticas.

R. Não recebe o reconhecimento que merece porque não se importa e está sempre ocupada trabalhando. Mas todos nós a respeitamos muito e somos muito conscientes de que devemos nossas carreiras a ela.

P. Seu marido não aparece muito na série. Ele traz ideias?

R. Ele era fã da série antes de me conhecer. E, quando aparece no programa, é sempre de acordo com seus próprios termos. No episódio em que me pediu em casamento, tudo foi filmado com câmeras diferentes, com as suas câmeras. E todos os capítulos anteriores ao nosso casamento em Paris foram gravados com iPhones e pequenas câmeras que nós mesmos operávamos.

P. Ele se reuniu com Trump, na Trump Tower, quando o presidente acabava de ser eleito. Você o apoiou nessa decisão, sendo muito crítica em relação ao presidente?

R. Naquele momento, teria apoiado qualquer pessoa que quisesse fazer mudanças no mundo e se reunisse com a máxima autoridade do país. Confio nele. E teria incentivado qualquer um a se reunir com o presidente dos Estados Unidos. Quando alguém chega ao poder, você espera que tome as melhores decisões para o país e para as pessoas. E quando vê que isso não acontece, é devastador. Hoje, seria uma história diferente. Não sou seguidora do presidente. Há muito caos no mundo, e dá muito medo viver numa época em que não nos sentimos seguros e na qual o presidente de nosso país faz com que cada dia tenhamos piores notícias que no anterior. Respeito as opiniões do meu marido. Não são as que as pessoas acham que são só porque ele se reuniu com o presidente.

P. Acha que sua família contribuiu para mudanças de atitudes sobre coisas que enfrentaram? Aí estão seus casamentos inter-raciais, a causa trans...

R. Quando gravamos um capítulo, pensamos que as pessoas podem aprender algo ao mesmo tempo que nós. Sempre fico feliz quando as pessoas se aproximam e me dizem que as ajudamos a passar por um percalço, sobretudo se é um tema que não esteja sendo discutido em nenhum outro lugar. Acredito que nos mostramos abertos e vulneráveis, e transmitimos isso.

P. Falemos da temporada em que Caitlyn Jenner realizou a mudança de sexo. Como acha que sua família lidou com a situação?

R. Essa foi a temporada mais difícil de gravar. Em parte porque toda a transição estava sendo muito dura para minha mãe, e eu estava preocupada com minhas irmãs pequenas. É muito forte quando você vê alguém próximo, que você conhece, embarcar numa viagem tão importante e não está segura de como o mundo vai perceber isso. Te gera muito nervosismo. Foi duro ver que as pessoas não entendiam no início, quando não sabiam toda a verdade. Nem sequer alguns membros da família sabiam. Houve muito caos, e fizemos o melhor que pudemos para tentar explicar a todos com compaixão e aceitação.

P. Qual é a sua relação com Caitlyn agora?

R. Ela é família e sempre será. É o pai de minhas irmãs e sempre a respeitarei.

P. Você foi muito aberta falando de como suas gravidezes foram difíceis. Existe uma imagem muito idílica de um processo que para muita gente é duríssimo por diferentes razões?

R. Para mim, estar grávida não foi o que esperava. Em nada se pareceu com a experiência que minha mãe e minha irmã tiveram. Eu não podia acreditar que não estivesse sentindo o que as outras mulheres dizem que sentem. Em certo momento, pensei: “Não devo ser a única. Deve haver outras mulheres por aí que estão passando a mesma coisa.”

P. Seus filhos já eram famosos quase antes de serem concebidos. Você tem regras sobre a exposição deles?

R. No programa há muitos limites, claro. As crianças podem aparecer um pouco, mas não podem ser as protagonistas. Por outro lado, adoro gravar com elas porque assim as vejo durante todo o dia. E elas também podem brincar com os primos.

P. Acredita que você e suas irmãs ajudaram a modificar o ideal de beleza nos Estados Unidos? Não são loiras, nem anglo-saxãs, têm curvas...

R. Esse é um de nossos maiores orgulhos. Quando as pessoas nos dizem que as ajudamos a se sentirem bem em sua própria pele.

P. Certo, são responsáveis por muitas tendências. O contouring, essa fixação que têm com a cor bege... Se tivesse que destacar uma contribuição do clã Kardashian ao mundo da moda, qual seria?

R. Talvez fazer com que as curvas estejam na moda.

P. Quando lançou sua linha de beleza, era importante para você abranger todos os tons de pele?

R. O importante era que todos os meus fãs pudessem usar os produtos. Recebi um monte de mensagens antes de criar os kits para contouring de gente que me dizia que não podia encontrar as cores adequadas para seu tom de pele. Era preciso criar uma gama que fosse do tom mais claro ao mais escuro.

P. Nem todo mundo se atreve a usar uma maquiagem tão intensa. O que aconselha aos que querem começar?

R. Sempre incentivo as pessoas a provar coisas novas e diferentes maneiras de aplicar a maquiagem. Adoro fazer vídeos do Instagram (tem 104 milhões de seguidores) explicando como utilizar os produtos. Quando você experimenta algo novo, tem que fazer várias vezes até confiar em suas próprias habilidades.

P. Quando você apareceu na capa da revista Forbes, publicou no Twitter com uma hashtag que dizia: “Nada mal para uma garota sem talento.” Era essa a sua resposta aos que dizem que você é famosa por ser famosa, que não sabe atuar, cantar nem nada parecido? Acha que as pessoas a subestimam?

R. Já não presto muita atenção nesse tema. Trabalhei muito duro para chegar aonde cheguei, e espero que isso seja notado. Quando escrevi a hashtag, estava brincando com meu amigo Jonathan. Queria uma mensagem que fosse engraçada e engenhosa.

P. Agora que mencionou um de seus amigos, quem são? Você tem amigos fora do show business, amigos de infância, de antes de ser famosa?

R. Eu e meus irmãos temos uma relação que ninguém mais pode entender, de modo que estou contente por eles serem meus melhores amigos. Também tenho minha amiga Allison, que conheço desde o berçário. Falo com ela todos os dias.

P. Você tem uma relação especial com Riccardo Tisci. Em sua opinião, quem mais está fazendo coisas interessantes na moda?

R. Realmente admiro o que meu marido está fazendo. Adoro ver como suas criações e sua paleta de cores influem nas outras marcas. Riccardo é o melhor. Donatella é uma das minhas favoritas; também é um clássico. E é genial tudo o que Demma (Gvasalia) está fazendo.

P. Seu primeiro livro artístico, Selfish, reunia todos os seus selfies. São uma nova forma de arte, uma ferramenta para empoderar?

R. Os selfies são certamente algo muito importante na cultura pop, e estou feliz de tê-los colocado no livro. Mas agora já não faço fotos de mim mesma. No último ano, tentei viver um pouco mais longe do meu telefone. Há ocasiões em que nem sequer o levo comigo. Se vou a algum lugar, procuro viver o momento.

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