Copa Refugiados: o futebol como ponte para a integração social de imigrantes
Quarta edição do torneio levanta bandeira contra a xenofobia e abre espaço para as mulheres. Pacaembu recebe final entre Marrocos e Nigéria neste domingo
Em meio ao caos do comércio popular na rua 25 de Março, centro de São Paulo, nasceu o time de refugiados marroquinos. Depois do expediente, eles começaram a treinar para participar pela primeira vez da Copa Refugiados, que acontece desde 2014 e, neste ano, reuniu mais de 250 imigrantes na capital paulista. Mesmo em sua estreia, Marrocos surpreendeu e vai protagonizar a final da competição contra a Nigéria neste domingo (24 de setembro), às 15h, no Pacaembu. “É um sonho disputar esse título”, diz o meia Hassan Eusen, que vive no Brasil há cinco anos. “Vamos fazer de tudo para vencer e dedicar o troféu ao nosso país e a todos os brasileiros que nos apoiam.”
A Copa Refugiados foi lançada no mesmo ano da última Copa do Mundo realizada no Brasil pelo congolês Jean Katumba, um engenheiro civil que buscou refúgio em São Paulo após sofrer ameaças de morte e perseguição política em seu país. Torcedor do Corinthians, Katumba fundou a ONG África do Coração, que acolhe refugiados na cidade, e decidiu fazer com que a paixão pelo futebol, comum entre tantas nacionalidades, funcionasse como motor de integração para a comunidade migrante. “Esse é um torneio organizado por refugiados. O futebol nos dá a chance de mostrar que vamos muito além dos estereótipos, que podemos agregar valores à sociedade brasileira. Ainda há quem olhe para o refugiado com desconfiança. Mas, na hora que a bola rola, as diferenças somem e todos somos iguais”, afirma.
Marrocos e Nigéria chegaram à final após superar outras 14 equipes (Angola, Benin, Camarões, Colômbia, Gâmbia, Gana, Guiné Bissau, Guiné, Iraque, Mali, República Democrática do Congo, Síria, Tanzânia e Togo) em fases eliminatórias disputadas em parques de São Paulo, no último fim de semana. Assim como os marroquinos, Ajari Mavis, técnico do time da Nigéria, também está confiante na conquista. “Meus jogadores tiveram um ótimo desempenho. Vamos buscar o título. Só que, mais importante que a vitória, é a forma como a torcida brasileira recebeu a gente. Nos sentimos muito acolhidos.”
Mulheres também desempenham papel central na competição. Além das arquibancadas, as refugiadas foram encorajadas a participar em modalidade com times mistos. Cada equipe é apadrinhada por uma mulher brasileira, que dá suporte aos jogadores desde o transporte para os jogos à montagem dos times em abrigos públicos de imigrantes. “Entendemos que a mulher não deve ficar só na torcida, mas também participar diretamente do jogo e da organização do torneio. Lutamos contra a xenofobia, o racismo e o machismo, também”, diz Katumba.
Com o apoio da Prefeitura de São Paulo e ACNUR, a agência da ONU para refugiados, a Copa já conseguiu levar jogos para grandes estádios brasileiros, como a Arena do Grêmio, em Porto Alegre, e agora o Pacaembu. Os ingressos para a final são gratuitos e podem ser retirados com antecedência na sede da África do Coração ou em frente a portaria principal do estádio antes da partida, no domingo. Os portões abrem a partir das 13h. Quem quiser contribuir com a ONG, pode levar um quilo de alimento não perecível para doação.
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