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Guerra e perseguição tiram de suas casas 24 pessoas por minuto em todo o mundo

Agência da ONU para os refugiados afirma que em 2015 existiram quase seis milhões de desabrigados forçados a mais do que em 2014

Campo de refugiados em Faluya (Iraque).Foto: reuters_live | Vídeo: Reuters
Belén Domínguez Cebrián

O drama dos refugiados não só continua, como aumenta progressivamente. No ano passado, 14,5 milhões de pessoas abandonaram suas casas pela primeira vez por conta de conflitos e perseguições, com um total de 65,3 milhões de pessoas que fugiram de suas casas ao redor do mundo pela perseguição. Isso se traduz no fato de que, em 2015, 24 pessoas por minuto pagaram o necessário para escapar de sua cidade, de seu país, rumo a outro lugar no qual se sentem a salvo. Em 2014 foram 30 por minuto (máximo desde 2003) e em 2005 somente seis pessoas por minuto, de acordo com o relatório de tendências anual apresentando na segunda-feira pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

As cercas no leste da Europa, os muros entre os Estados Unidos e o México, as políticas de contenção nos países de origem, em sua maioria da África subsaariana – como foi anunciado pela Comissão Europeia há duas semanas –, as devoluções da Grécia e, até mesmo, o fechamento temporário de várias fronteiras interiores na União Europeia não conseguiram frear os fluxos migratórios das 65,3 milhões de pessoas que se sentem perseguidas em seus países e cujas vidas correm perigo, são 5,8 milhões a mais do que em 2014. “Não é uma crise de números, mas uma crise de solidariedade”, critica o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon.

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Somalis, afegãos e sírios representam 54% dos refugiados em todo o mundo apesar, por exemplo, do empenho da UE em conceder proteção política exclusivamente aos eritreus, aos iraquianos e aos sírios. A Turquia, com 2,5 milhões de refugiados – em sua maioria sírios que fogem do sexto ano de guerra em seu país –, é pelo segundo ano consecutivo o anfitrião que abriga mais refugiados, seguida pelo Paquistão (1,6 milhão), Líbano (1,1 milhão), Irã (979.400), Etiópia (736.100) e Jordânia (664.100), segundo a ONU. Mas a densidade de população nesses países é diferente e o Líbano encabeça a lista de maior país receptor com 183 para cada 1.000 habitantes. A Turquia, que tem mais refugiados em seu território em números absolutos, abriga dentro de suas fronteiras 32 para cada 1.000 habitantes.

Um dado que chama a atenção é que, em 2015, metade dos refugiados no mundo era composta por crianças e adolescentes. Além disso, o número de menores desacompanhados – cuja situação já motivou alertas de órgãos como Médicos Sem Fronteiras, Save the Children e Unicef – cresceu “significativamente”, passando de 34.300 em 2014 para 98.400 em 2015. O Acnur, no entanto, manifesta nesse documento o temor de que as cifras reais sejam muito superiores, já que diversos países não apresentam dados sobre os menores de idade.

São pessoas como as irmãs sudanesas Victoria, de 16 anos, Justine, de 14, Temelego, de 7, e Hellen, de apenas 6, que vivem atualmente como refugiadas na República Democrática do Congo. “No dia em que a guerra começou meu pai não estava em casa, então fomos embora sem ele”, conta uma das meninas. Sua mãe já havia morrido.

Na Suécia e na Alemanha – dois dos países que mais refugio concederam nos últimos anos –, as solicitações de asilo feitas por menores de 18 anos chegaram a quintuplicar entre 2014 e 2015, ano em que a UE recebeu mais refugiados que nunca, quase um milhão.

Milhões de cidadãos procuram proteção, e 2015 foi o ano recorde em pedidos de asilo, segundo o Acnur. 2,45 milhões de pessoas solicitaram proteção em 174 países, um aumento de 48% com relação ao ano anterior. A Alemanha lidera o ranking dos destinos favoritos, com quase 450 solicitações de asilo a cada mil habitantes. Em seguida vêm EUA, Suécia, Rússia, Turquia e Áustria, onde o Governo socialista da legislatura anterior decidiu limitar a entrada de refugiados e adotar quotas nas autorizações de asilo a serem concedidas a partir de meados de 2016.

Possíveis soluções

“A oferta de ajuda e proteção aos refugiados e a gestão eficaz da migração é um desafio que exige uma resposta global. A UE não fecha os olhos a esta crise e continuará participando dos esforços mundiais para enfrentá-la”, disseram o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, e os comissários (ministros) de Imigração, Desenvolvimento e Assuntos Humanitários, em comunicado conjunto divulgado neste domingo.

Para o Acnur, uma solução imediata e duradoura seria o retorno voluntário dos refugiados aos seus países. Essa hipótese, porém, é pouco popular entre quem precisa tomar essa decisão. Em 2015, 201.400 pessoas regressaram voluntariamente para suas casas. “É um aumento significativo em comparação com as 126.000 que voltaram um ano antes”, ressalta a ONU.

As duras condições da guerra impossibilitam os civis de abandonarem suas casas por seus próprios meios. Por isso, o Acnur promove também o reassentamento como uma solução de longo prazo para proteger a vida das pessoas em perigo. Há hoje 33 países que oferecem essa via de proteção gerida pela ONU, seis a mais que um ano atrás. Mas o pacto entre a UE e Turquia, pelo qual a cada cidadão sírio devolvido da Grécia para a Turquia outro seria reassentado num país do bloco europeu – hoje está em dúvida.

EM CIFRAS

B. D. C, Madri
  • Há 3,7 milhões de apátridas distribuídos por 78 países ao redor do mundo.
  • 86% dos refugiados se encontram nos países industrializados.
  • Em 2015, 3,2 milhões de pessoas esperavam obter a condição de asiladas pelas autoridades dos países onde fizeram as solicitações.
  • Mais de metade dos refugiados no mundo provém de apenas três países: Síria, Afeganistão e Somália.
  • Em 78 países, há 98.400 crianças e adolescentes desacompanhados na condição de refugiados. É o número mais alto desde que o Acnur começou a compilar informação a respeito, em 2006.
  • O Líbano acolhe o maior número de refugiados em proporção à sua população: 183 por 1.000 habitantes.

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