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Guillermo del Toro conquista Leão de Ouro: “Quis filmar uma ode ao amor e ao cinema”

Mexicano conquista o Leão de Ouro do festival de Veneza com 'La forma del agua'

Guillermo del Toro com o Leão de Ouro.
Guillermo del Toro com o Leão de Ouro.Domenico Stinellis (AP)
Tommaso Koch

Nos contos de fadas tradicionais, o monstro costuma estar condenado. É o mau por excelência, e precisa ser derrotado. Mas Guillermo del Toro nunca foi convencional. Por isso filmou então “uma fábula estranha”. Em La Forma del Agua, a jovem não procura príncipes porque já está apaixonada pelo ser mais inquietante. “Ele me vê e não fica com pena de mim por ser incompleta”, afirma no filme. O idílio entre uma faxineira muda e a criatura aquática presa nas instalações secretas onde ela limpa o chão todos os dias enfeitiçou o Festival de Veneza do início ao fim: estreou sob aplausos no segundo dia. E conquistou o Leão de Ouro no evento que encerrou a Mostra no sábado. O filme irá inaugurar o Festival de Sitges, na Espanha, em 5 de outubro.

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“Quis filmar uma ode ao amor, a força mais poderosa, e ao cinema”, explicou Del Toro em um encontro com um grupo de jornalistas. Após alguns anos e filmes irregulares, o mexicano veio à disputa com um rótulo que poderia ser um peso. “É seu melhor trabalho desde O Labirinto do Fauno”, avisou o diretor do festival, Alberto Barbera. Mas nem mesmo a expectativa prejudicou a trajetória de La Forma del Agua.

Del Toro, no final das contas, concordou com Barbera. “Algumas vezes os projetos te dão satisfação quando os termina, porque saem exatamente como você queria. Podem agradar ou não ao público, mas já valeram a pena”, contou. O diretor estava tão convencido que o iniciou vários anos antes, por sua conta. Pagou até escultores e desenhistas para que fizessem estátuas e desenhos que o ilustrassem. E foi então aos estúdios Fox para vendê-lo. A empresa disse sim a tudo, com exceção do preto e branco. Ainda assim, o mexicano manteve cores escuras. Decidiu, por exemplo, que o vermelho quase não apareceria.

Ambientado em plena Guerra Fria, o filme mistura poesia e reivindicação, segundo Del Toro: “Sempre acreditei que a fantasia é um gênero político. Muitos de nós temos ideias fixas e o conto de fadas é um antídoto. Quis que o filme fosse emoções e imagens, mais do que palavras”. O cineasta colocou sua mensagem junto com as da tela: “Como mexicano, sei o que significa ser visto como o outro. É um filme de 1962, mas atual. Falar de ‘tornar a América grande novamente’ é como retornar a essa época. Racismo, diferenças de classe... Enfrentamos os mesmos problemas”.

O diretor procurou uma terceira via para contar o amor entre a Bela e a Fera. Sem puritanismo excessivo, “e certamente sem sexo” e sem a caça de perversão. Caminhou pela trilha do meio, da normalidade, se é que isso existe ao se falar de monstros. No fundo, para Del Toro são o pão de cada dia: sua mente nunca deixa de concebê-los, ao mesmo tempo que a coleção de raridades e estátuas de criaturas fantásticas que guarda em sua casa não para de crescer. Mesmo assim, os monstros precisarão se apertar: é preciso abrir lugar ao Leão de Ouro.

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