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Cinco escritoras para você conhecer no dia da visibilidade lésbica

Muitas autoras tiveram sua sexualidade apagada ou distorcida pela história

Patrícia Highsmith, na década de 1980.
Patrícia Highsmith, na década de 1980.Jesús Císcar

A literatura é uma representação da sociedade e ao mesmo tempo, cumpre um papel importante de mudança de paradigmas. Muitas vezes, ela esteve, inclusive, à frente da própria sociedade que representava, traçando futuros possíveis. Esse ambiente também foi, por muito tempo, um terreno árduo para mulheres. Especialmente se elas não fossem heterossexuais. E por isso, para conseguir algum reconhecimento em suas obras, elas tiveram sua orientação sexual disfarçada ou apagada da história. "Ainda hoje há muito pudor em relação a mulheres lésbicas. Em muitas notícias há a informação de 'amigas', raramente de esposas ou companheiras", afirma Michele Henriques, cofundadora do clube de leitura Leia Mulheres, que incentiva a discussão de obras de autoras femininas.

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Isso aconteceu até mesmo com a origem do termo “lésbica”. Lesbos é uma ilha grega, terra natal da poetisa Safo, nascida séculos antes de Cristo. Nos trechos de suas obras que chegaram até a atualidade, Safo faz relatos do amor entre mulheres. Alguns historiadores, porém, levantaram a possibilidade de que ela não fosse lésbica, o que é interpretado como uma tentativa de “heterossexualizar” a escritora.

Apesar da descaracterização, elas romperam barreiras, mudaram valores e fizeram história na literatura.

Virginia Woolf

Reconhecida mundialmente como um ícone feminista, Virginia Woolf, que foi casada com um homem, teve ao longo de quase uma década um relacionamento com Vita Sackville-West. O romance, que muitas vezes é esquecido quando se trata da biografia da escritora, foi registrado através de cartas que elas trocavam e os maridos de ambas tinham conhecimento da relação. No trecho de uma das missivas, Woolf escreve: “Eu tenho sentido sua falta. Eu realmente sinto. Eu devo sentir sua falta. Se você não acredita, você é uma coruja de orelhas pontudas...”. Sackville-West foi, inclusive, inspiração para o livro Orlando, lançado em 1928.

Safo de Lesbos

Inspiração para termo lésbica, Safo foi uma poetisa grega de grande influência na idade Antiga, tendo sido chamada de “décima musa” por Platão. A maior parte de sua obra se perdeu durante a Idade Média porque a Igreja Católica considerou que era muito erótica. Nela, é possível encontrar poemas de conteúdo homoafetivo. Naquele tempo, Safo criou uma escola só para mulheres, o que demonstra que ela exercia certo poder dentro da Ilha de Lesbos.

Como não há muitos registros históricos, sua vida, por vezes, se confunde com a arte. Conta-se que ela se apaixonou por suas alunas, a quem chamava de "companheiras". Nos fragmentos que sobreviveram à censura existem declarações, como no poema Adeus a Atis, que ficou conhecida na história como a maior amante de Safo.

O Amor agita meu espírito                                                                     como se fosse um vendaval                                                                        a desabar sobre os carvalhos.

Alice Walker

Em sua infância, Alice Walker sofreu um incidente com uma arma de fogo, brincando com seus irmãos e perdeu a visão do olho direito. O acidente fez com que ela se isolasse do mundo, buscando refúgio na escrita. Assim surgiu um dos ícones da literatura do século XX. A autora de A cor púrpura, 1982 (um romance que também aborda a homossexualidade feminina) foi casada por nove anos com o ativista Melvyn Leventhal e tiveram uma filha.

Na década de 1990, Walker viveu um romance com a cantora Tracy Chapman. Apesar disso, ela não gosta de ser rotulada de lésbica. Em entrevistas já afirmou ser “curiosa”.

Patricia Highsmith

Imagine um romance que conta a história de um amor lésbico e que tem um final feliz. Em uma era de livros acessíveis, direcionados e fanfics pode ser mais fácil. Mas Patricia Highsmith imaginou isso na década de 1950, quando era impensável, tanto que ela assinou Carol ou O Preço do Sal, sob um pseudônimo. A obra foi adaptada para o cinema em 2015 e concorreu ao Oscar de Melhor Filme.

A história de uma vendedora que se apaixona por uma mulher mais velha que faz compras na loja foi inspirada em uma experiência vivida pela autora, quando ela trabalhava temporariamente vendendo brinquedos e atendeu uma mulher que buscava uma boneca para presentear sua filha no Natal. “Eu olhei pra ela e quando ela olhou pra mim, instantaneamente, eu a amei”, afirmou a autora.

Cassandra Rios

A paulistana Cassandra Rios, também conhecida como “Safo de Perdizes”, foi a primeira autora brasileira a atingir a marca de um milhão de livros vendidos. Mas alcançar essa meta não foi fácil, já que ela também foi a artista mais censurada durante o período da ditadura militar. Na década de 1970, dos 36 livros que havia lançado até então, 33 estavam com a comercialização proibida, pois eram considerados impróprios. Um tema comum nas mais de 40 obras que ela escreveu é a homossexualidade feminina.

Para driblar a censura, ela criou dois pseudônimos masculinos e escreveu algumas histórias com personagens heterossexuais para provar que a perseguição se dava pelo fato de que seus romances eram essencialmente lésbicos. Foi taxada de escritora de pouca qualidade por conta de seu trabalho essencialmente erótico. Porém, foi defendida dessas críticas por ninguém menos que Jorge Amado. Existe um documentário que narra a vida da autora através da perspectiva de pessoas que conviveram com ela.

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