_
_
_
_
_

O que aprendi lendo somente livros escritos por mulheres

Não sinto que esteja renunciando a algo, mas sim que se abriu diante de mim um panorama totalmente novo

Em março tropecei com um artigo que encorajava a parar de ler livros escritos por homens brancos, heterossexuais e cisgêneros [não trans] durante um ano. Na hora, achei um exagero. Pensei: “Bom, eu leio muitas autoras, por exemplo”. Disse isso em voz alta. Meu parceiro me olhou. Levantamo-nos do sofá e fomos olhar lombadas nas estantes.

Olhamos uns 200 livros até nos convencermos. Cerca de 30 tinham sido escritos por mulheres. Eu não podia acreditar.

Naquele momento eu decidi que, por um tempo, leria apenas livros escritos por mulheres. Eu achei mais fácil do que me por a averiguar se um autor ou autora é gay, negro ou transexual; para saber se é mulher, o nome costuma bastar. As mulheres são metade da população (além disso, “minha” metade!); leio 50 livros por ano, como é possível que eu quase não leia nada escrito por mulheres?

E lá fui eu para a minha pilha de livros a ler e primeiramente retirei os livros escritos por uma autora (12 de 40). Em seguida, pedi recomendações no Twitter. E a partir daí comecei, simplesmente, a prestar atenção e anotar nomes.

María Bairros lendo
María Bairros lendoCésar Viteri

Já se passaram seis meses e li cerca de vinte títulos escritos por mulheres. Não tenho nenhuma data prevista para terminar essa pequena experiência, ainda falta tanto por ler! E isso não me custou trabalho algum. No começo pensei que seria muito difícil abrir mão dos meus autores favoritos, ou que me custaria encontrar boas autoras nos gêneros que eu mais gosto, como ficção científica; não aconteceu nada disso. Não sinto que esteja renunciando a algo, mas sim que se abriu diante de mim um panorama totalmente novo que me surpreende a cada dia.

Minha descoberta foi, sem hesitação, Alice Munro (que vergonha, “descobrir” uma vencedora do prêmio Nobel de 85 anos); passei todo o verão imersa em seus relatos, extremamente comovida com histórias que pensava que não poderiam me interessar de forma alguma (O Canadá rural do período entre guerras? Que chatice!). Na ficção científica, a vietnamita Aliette de Bodard escreveu-me um mundo pungente de naves espaciais astecas e colônias chinesas na América do Norte. As super-heroínas de quadrinhos de G. Willow Wilson e Kelly Sue DeConnick me fizeram rir e me deliciar como uma adolescente. Eu tenho, de repente, um punhado de escritoras novas que vou recomendando com entusiasmo a todo mundo por aí, e quando vejo algum título de um escritor que eu gosto, penso, “Bah! Haverá tempo...” e volto à minha mulherada.

Mais informações
Malala: “Conto minha história não porque seja única, mas porque não é”
“As mulheres da África têm uma luta a travar pela real emancipação”
Coisas que meu namorado aprendeu ao ser tratado na web como mulher
Internet descobre o que é ser mulher: 5 vídeos sobre assédio e elogio nas ruas
Manicure cor machista

(Cuidado, as escritoras não são seres de luz pura e também fazem livros péssimos, como a trilogia Divergente, que torna Jogos Vorazes uma obra-prima literária...).

Mas existe realmente uma diferença entre a literatura escrita por homens e por mulheres? Acho que sim. Para começar, parece que as mulheres escrevem mais sobre mulheres. Há mais protagonistas do sexo feminino, e como há mais, são mais variadas, e como são mais variadas, são mais interessantes, mais humanas, mais de verdade. Estamos acostumados a que os protagonistas de quase tudo sejam homens e superamos esse detalhe para nos identificar com nossos personagens favoritos, mas é tão, tão refrescante abrir um livro e encontrá-lo cheio de mulheres de todos os tipos!

Teria encontrado todas essas novas abordagens, novos mundos, pontos de vista de personagens novos, simplesmente obrigando-me a ler autores novos, sem importar se são homens ou mulheres? A intuição me diz que não, que há algo mais, e penso continuar a ler até isso ficar claro. Em todo caso, não quero perder aquilo que metade da população tem a contar, e depois de tantos anos lendo homens com apenas algumas exceções, creio que posso continuar a ler escritoras por muito, muito tempo.

Ainda estou pendente de ampliar um pouco a experiência e começar a prestar atenção aos outros aspectos mencionados no início. Agora eu tenho certeza que valerá a pena afastar-me um pouco mais dos mesmos livros e autores de sempre e tomar emprestadas outras perspectivas com as quais observar o mundo.

Se alguém quer alguma sugestão de livros e autoras, reproduzimos abaixo a lista que a autora do artigo tem no Goodreads de obras escritas por mulheres:

168 Hours: You Have More Time Than You Think, de Laura Vanderkam

A Room of One's Own, de Virginia Woolf

Alice Munro's Best: Selected Stories, de Alice Munro

All Clear (All Clear, #2), de Connie Willis

Allegiant (Divergent, #3), de Veronica Roth

Ancillary Justice (Imperial Radch, #1), de Ann Leckie

Ancillary Sword (Imperial Radch, #2), de Ann Leckie

Bellwether, de Connie Willis

Blackout (All Clear, #1), de Connie Willis

Broken Monsters, de Lauren Beukes

Caperucita en Manhattan, de Carmen Martín Gaite

Capitana Marvel 2, de Kelly Sue DeConnick

Capitana Marvel: Anhelando volar (100% Capitana Marvel, #1), de Kelly Sue DeConnick

Capitana Marvel: Más alto, más lejos, más rápido, más…, de Kelly Sue DeConnick

Captain Vorpatril's Alliance (Vorkosigan Saga, #15), de Lois McMaster Bujold

Come as You Are: The Surprising New Science that Will Transform Your Sex Life, de Emily Nagoski

Divergent (Divergent, #1), de Veronica Roth

Eichmann en Jerusalén, de Hannah Arendt

El ciclo de Xuya, de Aliette de Bodard

El espíritu de la navidad, de Connie Willis

Eleanor & Park, de Rainbow Rowell

Espejo Roto, de Mercè Rodoreda

Fangirl, de Rainbow Rowell

Frankenstein, de Mary Shelley

Galileo's Middle Finger: Heretics, Activists, and the Search for Justice in Science, de Alice Dreger

Hasta el infinito y más allá: Mati y sus mateaventuras, de Clara I. Grima

Hyperbole and a Half: Unfortunate Situations, Flawed Coping Mechanisms, Mayhem, and Other Things That Happened, de Allie Brosj

Impossible Things, de Connie Willis

Insurgent (Divergent #2), de Veronica Roth

Japuta y sus movidas #1, de Marta González Villarejo

Japuta y sus movidas #2, de Marta González Villarejo

Jonathan Strange & Mr Norrell, de Susanna Clarke

Kitchen, de Banana Yoshimoto

La aventura del abrigo amarillo, de Adela Torres

La cámara sangrienta, de Angela Carter

La elegancia del erizo, de Muriel Barbery

Lumberjanes, Vol. 1: Beware the Kitten Holy, de Noelle Stevenson

MaddAddam (MaddAddam, #3), de Margaret Atwood

Miss Buncle's Book, de D. E. Stevenson

Mistakes Were Made (But Not by Me): Why We Justify Foolish Beliefs, Bad Decisions, and Hurtful Acts, de Carol Tavris

Moxyland, de Lauren Beukes

Ms. Marvel, Vol. 1: No Normal, de G. Willow Wilson

Ms. Marvel, Vol. 2: Generation Why, de G. Willow Wilson

Ms. Marvel, Vol. 3: Crushed, de G. Willow Wilson

Nimona, de Noelle Stevenson

On Photography, de Susan Sontag

Oryx and Crake (MaddAddam, #1), de Margaret Atwood

Persepolis: The Story of a Childhood (Persepolis, #1-2), de Marjane Satrapi

Por cuatro duros. Cómo (no) apañárselas en Estados Unidos, de Barbara Ehrenreich

Possession, de A.S. Byatt

Pretty Deadly, Vol. 1: The Shrike, de Kelly Sue DeConnick

Problemas del primer mundo, de Laura Pacheco

Ranma 1/2 vol. 1, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 2, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 3, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 4, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 5, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 6, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 7, de Rumiko Takahashi

Ranma 1/2 vol. 8, de Rumiko Takahashi

Rimrunners (The Company Wars, #3), de C.J. Cherryh

Shades of Milk and Honey (Glamourist Histories, #1), de Mary Robinette Kowal

Smile or Die: How Positive Thinking Fooled America and the World, de Barbara Ehrenreich

Stranger Things Happen, de Kelly Link

Stupeur et tremblements, de Amélie Nothomb

Teoría King Kong, de Virginie Despentes

The Art of Asking; or, How I Learned to Stop Worrying and Let People Help, de Amanda Palmer

The Awakening and Selected Short Stories, de Kate Chopin

The Gate to Women's Country, de Sheri S. Tepper

The Ghost Bride, de Yangsze Choo

The Goblin Emperor, de Katherine Addison

The Golden Notebook, de Doris Lessing

The Handmaid's Tale, de Margaret Atwood

The House of Shattered Wings, de Aliette de Bodard

The Hundred Thousand Kingdoms (Inheritance, #1), de N.K. Jemisin

The Property, de Rutu Modan

The Secret World Chronicle, de Mercedes Lackey

The Shining Girls, de Lauren Beukes

The Talented Mr. Ripley (Ripley, #1), de Patricia Highsmith

To Kill a Mockingbird, de Harper Lee

Zoo City, de Lauren Beukes

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_