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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Paola Carosella, pelo direito de usar o capital erótico sem ser importunada

Chef argentina é a verdadeira dona da história do ‘MasterChef’, que teve final nesta terça

Os jurados do Masterchef, da Band.
Os jurados do Masterchef, da Band.Carlos Reinis/Band

Barack Obama toma o microfone, dá uma piscadela para a câmera e cantarola um sucesso de Stevie Wonder. A plateia se derrete diante do homem mais poderoso do mundo. Tudo vai parar nas redes e ela arrasta mais milhares de simpatizantes com seu importante capital erótico.

Recupero uma imagem comum da era Obama e o conceito de capital erótico, da britânica Catherine Hakim, para falar da chef Paola Carosella, que estrelou nesta terça-feira mais uma final do reality da Band, MasterChef. Explico-me: assim como Obama, Paola, que sem dúvida é melhor chef e a dona da narrativa do programa, dispõe também de abundante capital erótico ―Hakim diz que além dos nossos recursos econômicos, sociais e culturais com os quais lutamos por um lugar no mundo, há mais um: os eróticos, que envolvem tanto aptidões adquiridas, como estilo, como aquilo que chegou a nós por pura sorte, como traços de nascença.

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Pois bem. A diferença é que enquanto Barack Obama não perde nem um milímetro de seu poder ou autoridade porque fazia e faz uso de seu capital erótico, Paola não escapa de constrangimentos, o mais emblemático deles na última semana imposto pelo próprio colega de programa. Está claro, para os aficcionados no reality, que a chef argentina é quem conduz, com seus comentários que combinam observações afetuosas e avaliações técnicas, a competição. Está igualmente claro que também se assiste ao programa acompanhando com curiosidade suas mudanças de figurino. Ela é uma mulher com estilo e nisso também é uma influência. E daí? O fato de ela se apresentar como uma mulher atraente e sedutora não deveria abrir qualquer espaço para que Erick Jacquin se visse no direito de perguntar, numa filmagem para seu Instagram, se ela já tinha transado em cima da mesa da cozinha. "Muita gente já não te considera uma grande chef, uma grande cozinheira, mas uma puta gostosa. O que você tem a dizer?" Ao colega com quem ela divide não só o palco como contas publicitárias, ela teve a cabeça fria de responder: "Eu sou as duas coisas. Eu sou uma mulher bonita e eu sou uma grande cozinheira".

A formulação de Jacquin, com esse mas e o pacote inteiro, não sobrevive a qualquer análise, mas a resposta de Paola, que muito ativa nas redes sociais preferiu não polemizar sobre o episódio, é uma defesa simples, mas necessária. Chega desse limitado modelo de liderança feminina, seja em qual área for. Chega especialmente de abrir mão da sexualidade, de se apresentar como avó recatada ou senhora anódina para ter algum espaço na política, por exemplo —sabemos como Marta Suplicy foi punida também por recusar o script. Que todas as mulheres possam usufruir de seu capital erótico se assim desejarem, como Obama faz. Na final exclusivamente feminina do MasterChef, a lição maior é de Paola Carosella, que, como boa argentina, diz ter em Freud sua religião e parece preparada. Ela se nega a se ajustar e, mesmo sem escolher o confronto aberto, ela reivindica seu capital erótico.

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