Promessa sobre 2018, ajuda a Aécio e reformas: as razões do PSDB para ficar com Temer
PSDB decidiu em uma reunião que sufocará a rebelião interna para permanecer na base governista
A Executiva Nacional do PSDB resolveu que, por ora, não abandonará Michel Temer. E decidiu colocar um novo marco para tomar uma posição: o de que seguirá com o Governo até o surgimento de qualquer fato novo que agrave a crise do presidente. Com a resolução tomada no final da tarde desta segunda-feira, o partido sinaliza que prefere enfrentar o desgaste de estar dividido – há semanas integrantes da legenda pregam o rompimento – para salvar um apoio do PMDB nas eleições de 2018 e um discurso em apoio às reformas. Também pesa na balança o fato de que a crise que arrastou o Planalto também atingiu em cheio os próprios tucanos: o então presidente da legenda, Aécio Neves, assim como Temer, teve áudios comprometedores divulgados na delação da gigante JBS. Abandonar o Governo pelas revelações de Joesley Batista seria referendar as acusações do empresário contra o próprio Aécio. Por isso, está na mesa de negociação uma possível salvação para o senador da sigla, agora afastado, que corre o risco de perder seu mandato. Oficialmente, entretanto, o partido nega qualquer barganha.
A decisão de um PSDB dividido ocorreu três dias depois Temer conseguir uma vitória no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A decisão do tribunal, que poderia cassar a chapa Dilma-Temer por abuso de poder político e econômico, retirando o presidente do comando do país, era o marco anterior dos tucanos para um possível desembarque, que poderia implodir a base governista, com a saída dos 46 deputados tucanos, e criar um efeito manada, entre outros partidos. No final do mês passado, PSB já havia decidido se retirar do Governo, apesar de seu único ministro, Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), ainda continuar no cargo.
O racha no PSDB sobre o apoio ao Governo Temer é evidente desde que a gravação feita pelo executivo da JBS, Joesley Batista, desestruturou o Governo. Segundo um levantamento feito há uma semana pelo site Poder360, 31 deputados da sigla defendem a saída da base. Por conta disso, parlamentares chegaram a ponderar se deveriam, ou não, manter a reunião da Executiva para esta segunda-feira, porque isso acentuaria a imagem de fragmentação do partido. Mas os caciques, que nas últimas semanas se reuniram com o presidente, preferiram dar um sinal ao Governo que ainda se mantêm fiéis, com o discurso de que permanecem, em nome das reformas. No entanto, a principal delas, a da Previdência, teve sua tramitação seriamente prejudicada com o aprofundamento da crise. Eles também negam, oficialmente, que o apoio tenha qualquer relação com 2018 ou com Aécio, que deve enfrentar um processo no Conselho de Ética do Senado, por ter sido flagrado pedido 2 milhões de reais à JBS –verba que ele assegura que serviria para pagar seu defensor na Lava Jato. O colegiado de senadores pode decidir se salva ou não o mandato do mineiro. Sem mandato, Aécio ficaria mais exposto à possibilidade de prisão. Por fim, os tucanos dizem que um abandono do Planalto os colocaria em uma posição esdrúxula: de um lado apoiar a pauta de reformas do Governo e, de outro, fazer oposição a Temer ao lado de sua sigla rival, o PT.
Pela manhã, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, já indicava qual deveria ser o posicionamento do partido. "O compromisso do PSDB é com o crescimento da economia e do emprego", afirmou o tucano, que se tornou o principal nome da sigla, e mais provável presidenciável em 2018, desde que Aécio Neves foi afastado do Senado pelo Supremo Tribunal Federal. "Nosso compromisso é com as reformas. A questão se vai ter ministro ou não no Governo é secundária", continuou o governador paulista. Na reunião desta segunda, ele voltou a repetir, publicamente, a fidelidade do partido com as reformas. Seu afilhado político, o prefeito João Doria, também pediu que o partido mantenha o compromisso com a governabilidade e as reformas.
Os principais nomes do PSDB defenderam a postura de estamos com o Governo, por ora. A posição foi adotada, inclusive, por aliados de Temer. "O PSDB não fará qualquer movimento agora no sentido de sair do Governo", ressaltou José Serra, ao final da reunião, que afirmou que é preciso olhar para o que vem no futuro e ponderou que o partido pode mudar de ideia depois. O depois, no atual cenário político, pode ser nas próximas semanas, quando o procurador-geral, Rodrigo Janot, deve apresentar a denúncia contra o presidente por conta da delação da JBS.
O senador Tasso Jereissati, presidente interino do partido, fez afirmações no mesmo sentido. "Vamos continuar no Governo do Temer acompanhando diariamente os acontecimentos, sem renunciarmos às nossas convicções anteriores", afirmou. Ele destacou ainda que defende que o partido, que ingressou com a ação no TSE para investigar a chapa Dilma-Temer, recorra da decisão dos ministros de inocentar PT e PMDB das acusações de abuso do poder político e econômico. "Uma das nossas convicções é a de que houve corrupção, com certeza, durante a campanha de 2014 usando dinheiro público nas eleições. Questionado se o PSDB, diante disso, apoiava agora um partido que havia cometido corrupção na campanha, ele afirmou: "O PSDB está dentro deste Governo, com seus ministros. Em nome não do Governo, não somos defensores do Governo, mas em nome da estabilidade e das reformas que são necessárias", destacou. "Com certeza existe uma incoerência nisso [em apoiar um Governo e, ao mesmo tempo, insistir em sua cassação]. Mas é a incoerência que a história nos colocou." Na próxima semana, a executiva do partido se reunirá novamente.
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