Trump acusa, sem provas, a imprensa de acobertar atentados na Europa
Casa Branca promete divulgar uma lista de ataques que não teriam sido adequadamente noticiados
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu mais um passo em sua ofensiva contra os meios de comunicação ao acusá-los, sem provas, de omitir a cobertura de atentados na Europa. O ataque foi parte do seu primeiro discurso às Forças Armadas, nesta segunda-feira, após alertar sobre a ameaça jihadista e prometer derrotá-la. “Viram o que aconteceu Paris, em Nice. Em toda a Europa está ocorrendo”, disse. “Chegou ao ponto em que nem se noticia mais. Em muitos casos, a desonestíssima imprensa não quer cobrir. Têm suas razões, e vocês entendem”, acrescentou, dirigindo-se a um grupo de oficiais.
Em sua visita à base aérea de MacDill (Flórida), onde se reuniu com os responsáveis pela campanha contra o Estado Islâmico, Trump não entrou em detalhes. Mas seu porta-voz, Sean Spicer, prometeu posteriormente que a Casa Branca divulgará uma lista de ataques que considera “não terem recebido a cobertura que mereciam”.
O porta-voz, que mantém uma relação tensa com a imprensa, queixou-se de que os jornalistas estariam dando mais destaque a alguns protestos do que a atentados que são impedidos pelas autoridades. Disse que o mesmo acontece com algumas das decisões tomadas por Trump nas duas primeiras semanas do seu mandato. O republicano enfrenta uma avalanche de críticas e um bloqueio judicial por causa do veto temporário que impôs à entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, uma medida que acompanha o seu discurso de pulso firme contra a imigração, que adotou quando candidato.
Como já fez durante toda sua campanha, Trump mantém como presidente os ataques à imprensa. “Estou envolvido numa guerra com a mídia. Eles [jornalistas] estão entre os seres humanos mais desonestos da Terra”, disse o mandatário na sede da CIA, no segundo dia de seu Governo.
Sean Spicer acusou, naquela ocasião, os jornalistas de terem escondido o verdadeiro número de espectadores presentes à posse. A assessora Kellyanne Conway justificou essa discrepância alegando que o Governo teria em mãos “fatos alternativos”, que ela não detalhou.
“Estou envolvido numa guerra com a mídia. Eles [jornalistas] estão entre os seres humanos mais desonestos da Terra”, disse Trump
Na semana passada, Conway voltou a criar polêmica ao dizer que, durante o Governo de Barack Obama, dois iraquianos se radicalizaram e foram os mentores “do massacre de Bowling Green”, mas que a maioria das pessoas não sabe disso por não ter sido informada pela imprensa. A verdade, porém, é que esse massacre nunca aconteceu, como a própria Conway admitiu depois. Dois cidadãos iraquianos foram detidos em 2011 na localidade de Bowling Green (Kentucky), mas nunca cometeram um atentado nos EUA.
Respaldo à OTAN
Por outro lado, Trump abandonou suas críticas à OTAN, aliança militar qualificada por ele há algumas semanas como “obsoleta”. No seu discurso da Flórida, disse “apoiar fortemente” a aliança atlântica, mas insistiu no apelo a todos os seus membros para que ampliem sua contribuição. Só cinco dos 28 países participantes investem pelo menos 2% do seu orçamento em defesa, como sugere a organização.
A Casa Branca anunciou no domingo que Trump havia conversado por telefone com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, e irá em maio à cúpula da organização. Nesse telefonema, ambos teriam falado sobre “como estimular todos os aliados da OTAN a cumprirem os compromissos de gastos de defesa” e encontrar uma solução pacífica para o conflito no leste da Ucrânia, alvo de ambições territoriais russas.
Numa entrevista uma semana antes da sua posse, que ocorreu em 20 de janeiro, o republicano descreveu a OTAN como uma organização “obsoleta”, por ter sido fundada há “muitos e muitos anos”. As declarações de Trump inquietaram os sócios europeus da OTAN, criada em 1949 como um guarda-chuva de defesa coletiva contra a ameaça soviética. Durante a campanha eleitoral, o republicano questionou o compromisso de defender os aliados da OTAN em caso de ataque e disse que a aliança deveria se empenhar mais na luta contra o terrorismo.
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