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Em visita à CIA, Trump diz estar em guerra contra os meios de comunicação

Republicano manteve o tom combativo da campanha em seu primeiro dia completo como presidente

Donald Trump, com a esposa e seu vice-presidente, neste sábado na Catedral Nacional de Washington.
Donald Trump, com a esposa e seu vice-presidente, neste sábado na Catedral Nacional de Washington.KEVIN LAMARQUE (REUTERS)

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos desde sexta-feira, atacou a imprensa em seu primeiro ato público no cargo. Em visita à sede da Agência Central de Inteligência (CIA), cujas práticas ele comparou com a Alemanha nazista na semana passada, disse que os jornalistas estão entre os seres humanos "mais desonestos da Terra". Também lhes acusou, sem provas, de mentir sobre o número pessoas presentes na cerimônia de posse desta sexta-feira, em Washington D. C., e sobre outros detalhes de sua chegada na Casa Branca.

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Era sua primeira jornada completa como presidente, mas parecia que a campanha eleitoral não tinha terminado: as mesmas palavras, os mesmos ataques. Não importa que já seja presidente, nem que o lugar que lançasse a mensagem contra a mídia fosse um lugar tão solene como a sede da CIA em Langley (Virgínia).

"Estou 1000% com vocês. O motivo pelo qual vocês são minha primeira visita é que estou em uma guerra contra os meios de comunicação. Estão entre os seres mais desonestos da Terra", disse Trump, com um tom irônico e combativo. Entre o público era possível escutar aplausos e risos. "Deram a impressão de que havia uma briga com a comunidade de inteligência", acrescentou.

Trump se referia às informações sobre sua disputa com os serviços de inteligência, aos quais desqualificou durante as semanas posteriores de sua vitória, em 8 de novembro. Os ataques aos meios, os quais ele e muitos conservadores identificam com as elites progressistas, são um recurso constante e eficaz em seus discursos.

A Administração Trump começou seu mandato de quatro anos com gestos simbólicos e uma forte contestação em seu país, com dezenas de milhares de norte-americanos protestando contra ele no centro de Washington. O Governo começa também com apenas dois postos, dos 15 departamentos do Governo, confirmados pelo Senado. Seus dois antecessores imediatos – Barack Obama e George W. Bush – tinham confirmado sete a esta altura.

O dia começou entre líderes religiosos e terminou com espiões. Cada gesto, cada palavra, cada mensagem na rede social Twitter – seu meio de expressão predileto – será examinada com uma lupa em busca de sinais de uma presidência que rompe com todas as tradições e que desconcertou grande parte os EUA e do mundo.

Não houve decisões políticas de envergadura desde que, ao meio-dia da sexta-feira, o republicano Trump assumiu o cargo e depois fez um dos discursos de posse mais incendiários que se recordam nos 225 anos de história de pronunciamentos do tipo neste país.

Na sexta-feira assinou um decreto para começar a desmantelar o Obamacare, lei de saúde assinada pelo democrata Barack Obama, que proporcionou cobertura de saúde para 20 milhões de pessoas que não dispunham de plano de saúde, e um anátema para os republicanos.

Outro gesto das primeiras horas foi o memorando pedindo o congelamento dos regulamentos federais adotados pela Administração Obama. O novo portal da Casa Branca eliminou as referências às mudanças climáticas e só ficou, num documento sobre as prioridades do presidente, sua promessa de eliminar o Plano de Ação do Clima adotado por Obama, que impõe restrições às emissões poluentes.

Em seus primeiros dias no cargo, em 2009, Obama assinou ordens executivas determinando o fechamento da prisão de Guantánamo e proibiu o uso da tortura. Em seu primeiro dia de trabalho como presidente, o dia posterior à posse, no dia 21 de janeiro, telefonou para o presidente do Egito, o primeiro-ministro de Israel, o rei da Jordânia e o presidente da Autoridade Palestina.

No caso de Trump, ao coincidir o primeiro dia completo de trabalho com um fim de semana, é previsível que a segunda-feira seja o primeiro dia real do trabalho a todo vapor na nova Casa Branca.

No sábado, seguindo a tradição de seus antecessores, Trump participou de uma cerimônia religiosa em seu primeiro dia como novo presidente dos Estados Unidos. Ao lado da família e de seu vice-presidente, Mike Pence, e de representantes cristãos, muçulmanos e sikhs, participou de uma cerimônia inter-religiosa na Catedral Nacional de Washington.

Na ocasião, falaram mais de uma dezena de líderes religiosos. Greg Laurie, um pastor cristão da Califórnia, pediu “proteção divina” às Forças Armadas. “Abençoemos a todos cujas vidas estão ligadas às nossas”, disse Jesse Singh, líder dos Sikhs da América.

Trump, cristão ligado à igreja presbiteriana, não é conhecido por sua religiosidade, mas em sua fulgurante ascensão política recebeu o apoio de milhões de eleitores evangélicos e de influentes líderes fundamentalistas cristãos.

Após a cerimônia, Trump tinha agendada uma visita à sede da CIA em Langley (Virginia), nos arredores de Washington, com o indicado para dirigir a agência de inteligência, o congressista Mike Pompeo. A visita envia uma mensagem forte. Trump passou semanas questionando a comunidade de inteligência depois desta ter acusado a Rússia de roubar e-mails do partido Democrata com o objetivo de ajudar os republicanos nas eleições presidenciais.

O novo presidente comparou, na semana passada, seus espiões com a Alemanha nazista depois do vazamento de um relatório com supostos vínculos comprometedores dele com Moscou. A dureza das críticas é incomum, como também é o fato de o antigo diretor da CIA, John Brennan, ter criticado Trump publicamente alguns dias antes da posse.

Em seu primeiro dia completo como presidente, os EUA digerem o discurso de posse de Trump. Em seu editorial deste sábado, o jornal The New York Times esgrime que é uma reavaliação “distorcida” da história norte-americana em que se ignoram as injustiças do passado e os êxitos mais recentes. Na mesma linha, o The Washington Post argumenta que o discurso projetou uma visão pessimista e sombria que não corresponde à realidade do país.

No discurso se percebe a influência de Steve Bannon, o estrategista-chefe de Trump que dirigia uma publicação de referência para a direita norte-americana mais radical. “Foi uma declaração sem enfeites dos princípios básicos do seu movimento populista e, em parte, nacionalista”, diz Bannon numa entrevista ao Post

O assessor vê paralelismos com a retórica do ex-presidente Andrew Jackson (1829-1837). E solicita a compará-lo com o discurso feito nesta semana no Fórum de Davos pelo presidente chinês Xi Jinping que, em contraste com Trump, apresentou-se como o líder mundial da globalização e do livre comércio. “Você verá duas visões diferentes do mundo”, diz Bannon.

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