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Um tremor próximo à superfície e destruidor

Terremoto da madrugada de quarta-feira atinge uma das áreas de maior risco sísmico da Itália

Os bombeiros e as equipes de resgata inspecionam edifícios destruídos em Amatrice.Vídeo: FILIPPO MONTEFORTE (AFP) / EL PAÍS VÍDEO

Todos os Apeninos, do norte da Itália, na região de contato com os Alpes, até a Calábria, são uma das áreas sísmicas mais ativas na Europa. “É mais do que provável que ocorram tremores dessa magnitude na região e podemos classificar o da madrugada como um terremoto relativamente moderado em comparação com outros ocorridos na Itália”, diz de Granada Jesús Ibáñez, professor de Física da Terra do Instituto Andaluz de Geofísica. “Não podemos dizer que a comunidade científica estivesse esperando por ele, porque não há como sabê-lo, mas também não é uma surpresa”, diz o pesquisador.

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O terremoto da madrugada foi especialmente destruidor porque ocorreu muito próximo à superfície da região. Seu hipocentro estava somente a quatro quilômetros de profundidade. “Os tremores superficiais costumam causar danos maiores, mas seu raio de ação é mais reduzido”, diz Jesús Ibáñez.

Para o pesquisador do CSIC Antonio Villaseñor, que trabalha em sismologia no Instituto de Ciências da Terra Jaume Almera de Barcelona, esse terremoto é “muito semelhante” ao detectado há 19 anos na região da Úmbria e Las Marcas, e que teve uma magnitude de 6 graus. “[O da madrugada] tem a particularidade de se encontrar na metade de duas rupturas das falhas causadas pelos terremotos de 1997 e de 2009, em L’Aquila”. Assis está ao norte da região afetada e L´Aquila está ao sul.

Ao contrário do terremoto de L´Aquila de 2009, não foram detectados tremores premonitórios no da madrugada de quarta-feira

Apenas 50 quilômetros separam L´Aquila de Amatrice, uma das localidades mais afetadas pelo tremor. Poucas horas depois do ocorrido, o chefe do Departamento de Proteção Civil da Itália declarou que o tremor da madrugada de quarta causou um “desastre como o de L´Aquila”, mas segundo os pesquisadores os dois fenômenos não são iguais. “São diferentes: no caso de L´Aquila existiram terremotos premonitórios de grande intensidade, de até quatro graus na escala Richter, alguns dias antes, que levaram a um tremor maior. Nesse caso ocorreu um principal e depois vieram as réplicas”, diz Jesús Ibáñez.

Para Antonio Villaseñor, somente com uma organização “enorme, muito cara” os tremores premonitórios poderiam ser aproveitados como previsão, e somente em alguns casos. “A detecção de uma grande quantidade de terremotos durante alguns dias, além disso, não significa que irá ocorrer um maior no final”. Esse tipo de organização existe em locais muito sísmicos, como a falha de San Andrés, nos Estados Unidos, e outras da Itália, mas não na área em que ocorreu o último tremor.

Grandes tremores registrados das 9h (UTC) de 23 de agosto até as 4h40 (UTC) de 24 de agosto.
Grandes tremores registrados das 9h (UTC) de 23 de agosto até as 4h40 (UTC) de 24 de agosto.DAVID ALAMEDA / USGS / GOOGLE MAPS

Dentro da região sísmica do Mediterrâneo, a Itália ocupa um espaço próprio. Como o resto do sul da Europa, o país sofre a subducção da placa tectônica africana sob a europeia, mas também dois fenômenos geológicos locais: a compressão, que eleva a cadeia dos Apeninos, e a expansão das bacias dos mares Tirreno, Adriático e Jônico.

Os povoados de Amatrice e Accumoli, dois dos mais afetados, foram destruídos por outro terremoto em 1639

Como resultado, ocorrem na Itália terremotos superficiais ao longo de toda a sua geografia montanhosa, de Veneza e Údine, norte do país, até a Sicília. Essa linha concentra a maior parte dos terremotos, mesmo que o maior tenha ocorrido em Messina em 1908, que teve uma magnitude de 7,2 graus e causou 120.000 mortos.

Um grande antecedente na região

Os povoados de Amatrice e Accumoli, dois dos mais afetados, foram destruídos por outro terremoto ocorrido em 1639. Para o sismólogo Andrea Tertulliana, o ocorrido da madrugada de quarta-feira é “idêntico” ao ocorrido há quatro séculos, em declarações ao jornal La Reppublica. O pesquisador se referiu a outro tremor, ocorrido em 1703, que também atingiu a região da Norcia.

A imprensa da época descreveu o grande terremoto do século XVII indicando que o mais forte de seus tremores “durou quinze minutos “ e que “muitos mortos ficaram soterrados sob os escombros”. Tertulliana lembrou que o último terremoto ocorreu em uma região “considerada de altíssimo risco sísmico, na qual os tremores ocorrem com frequência”.

Magnitude não é o mesmo que intensidade

A magnitude é uma das variáveis que medem os terremotos. Concretamente, a energia liberada, expressada em joules. Mas, para evitar o uso de números enormes, Richter e outros pesquisadores criaram nos anos trinta do século passado uma escala que reduziu essas grandes cifras a números mais tangíveis. A escala foi evoluindo com o tempo e hoje os sismólogos utilizam a chamada magnitude do momento, que relaciona a energia liberada com a força e a distância em que se libera. É um dos primeiros conceitos que podem ser calculados após um tremor ser detectado.

A aceleração sísmica também é medida, ou seja, quanto e com que rapidez o terreno que sofre o terremoto se move. No caso do ocorrido na Itália, foi em uma região montanhosa e suas encostas amplificaram seu tamanho e os danos. No caso da Itália a variável da aceleração ajuda a determinar as áreas de maior risco sísmico. De acordo com o Departamento de Proteção Civil do Governo italiano, as regiões afetadas são classificadas dentro das categorias um e dois da escala de periculosidade.

Por último, a medição da intensidade do terremoto reflete os danos causados, em função do tipo de construções e do terreno. É expressada em uma escala de números romanos, de I (terremoto não sentido) a XII (completamente devastador).

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