A semana mais difícil para Donald Trump
Em cinco dias, republicano perde 15% das intenções de voto entre o eleitorado masculino
Após vários dias de polêmicas e erros, o candidato republicano Donald Trump enfrenta sua semana mais difícil na atual campanha eleitoral. O magnata nova-iorquino perdeu o primeiro lugar nas pesquisas do Estado de Wisconsin, que realiza eleições primárias nesta terça-feira e até agora parecia uma vitória segura no calendário de Trump. Pela primeira vez, além disso, caem os percentuais de apoio a Trump, tanto nesta fase da disputa, das eleições primárias, como para a eleição geral de novembro, cresce o número de eleitores que têm uma opinião negativa sobre ele e diminui o percentual daqueles que o avaliam positivamente.
O que aconteceu na última semana?
Trump protagonizou até agora uma campanha infestada de polêmicas, mas o candidato nunca se envolvem em tantas como nos últimos dias. Começou a péssima semana com uma controvertida foto da mulher do candidato Ted Cruz, seu rival pela indicação republicana. Depois, seu diretor de campanha, Corey Lewandowski, foi acusado de agressão leve a uma repórter e terá de comparecer perante um juiz.
O terceiro passo foi sugerir numa entrevista que, além de defender a proibição do aborto nos Estados Unidos, as mulheres que interromperem suas gestações, caso isso se torne ilegal, “merecem algum tipo de castigo”. O candidato tentou se corrigir, propondo num só dia três tipos de leis para regulamentar o aborto (legalizado em 1973 nos EUA).
No final da semana, ele se reuniu em Washington com os líderes do Partido Republicano, depois de acusar o Comitê Nacional de tratá-lo “injustamente”. Reservadamente, conforme revelou nesta segunda-feira o The Washington Post, um assessor da sua campanha criticou o establishment da capital, num gol metafórico para Trump contra a elite política e a mídia.
O pior candidato presidencial em décadas
Esse comunicado interno da campanha de Trump respondia a várias pesquisas que retratam o candidato como o pior aspirante à presidência dos Estados Unidos em décadas. “Os republicanos estão num buraco”, antevê Larry Sabato, do Centro para a Política da Universidade da Virgínia. Os cálculos desse especialista anteveem uma derrota de Trump nas eleições de novembro, especialmente caso enfrente Hillary Clinton.
O candidato repete publicamente que está “à frente de Clinton em muitas pesquisas”, mas os levantamentos que são divulgados o desmentem repetidamente. Segundo a média elaborada pelo site The Huffington Post com mais de 30 pesquisas nos dois últimos meses, o republicano só superou a democrata em uma ocasião – e tampouco ganharia de Bernie Sanders.
Segundo uma pesquisa do Post, 67% dos eleitores têm uma opinião negativa sobre Trump. O percentual sobe para 80% no caso dos eleitores mais jovens, e para 85% entre os hispânicos. Metade dos republicanos tampouco gosta dele. De acordo com o Post, se trata do candidato com maior rejeição nos últimos 32 anos.
E, apesar de os últimos acontecimentos levarem a crer que esse cenário é resultado dos ataques de Trump contra as mulheres, os dados do Ipsos apontam outro fator: em apenas cinco dias, o republicano perdeu 15% de votos entre seus principais seguidores, os homens. “Um candidato deve parecer presidencial para chegar à Casa Branca, e humilhar as mulheres não ajuda a chegar lá”, diz uma análise recente do instituto de pesquisas.

Wisconsin já não é uma vitória segura
O próximo Estado a realizar primárias conta com um importante setor de trabalhadores industriais e uma minoria de votantes evangélicos, dois fatores que até agora favoreceram o magnata. Wisconsin adota votações abertas, ou seja, em que o eleitor pode votar mesmo sem estar filiado ao partido. Mas todas as circunstâncias que favoreciam Trump até agora podem terminar nesse Estado. As últimas pesquisas o colocam em média 6,5 pontos atrás de Cruz, e suas repetidas críticas a Scott Walker, ex-candidato republicano e governador de Wisconsin, tampouco o ajudaram.
Se Cruz afinal obtiver a vitória nesta terça-feira, continuará mais de 200 delegados atrás de Trump, mas terá demonstrado que pode prolongar a disputa até a Convenção Republicana de 18 de julho.
E entre os democratas?
Hillary Clinton e Bernie Sanders chegam a Wisconsin envoltos numa polêmica sobre as doações feitas à candidata por pessoas vinculadas ao setor das energias fósseis. “Estou farta das mentiras da campanha de Sanders”, reagiu a democrata diante das denúncias. Seu rival também a acusou que impedir a realização de novos debates antes da votação em Nova York, Estado por onde ela foi senadora e onde o aspirante pode dar um importante golpe na campanha dela, em 19 de abril. Segundo as últimas pesquisas, o senador de Vermont supera Clinton por uma média de três pontos em Wisconsin.