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Ex-guerrillera das FARC vira estrela na televisão colombiana

Ela participou de um concurso de dança e agora espera seguir caminho como atriz

Sally Palomino
Ana Pacheco no programa ‘Dançando com as Estrelas’.
Ana Pacheco no programa ‘Dançando com as Estrelas’.RCN TV
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Ana Pacheco esteve nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) dos 14 até os 16 anos. "Era o caminho habitual de muitos jovens que viviam em zonas próximas dos acampamentos da guerrilha”, explica, agora com 26 anos. Sempre esteve na base. Atuava principalmente como cozinheira e preparava comida para 50 a 100 guerrilheiros. Nunca carregou um fuzil nem participou de um atentado, afirma. Uma década depois, leva o título de ex-guerrilheira famosa depois que posou nua com uma ex-detetive (encarregada de perseguir o grupo armado) na revista Soho e participou de um dos programas de televisão líderes de audiência na Colômbia: Bailando con las Estrellas (Dançando com as Estrelas). “Entrei porque o vi como uma segunda oportunidade”, disse ao EL PAÍS dias antes de ser eliminada da competição.

Sua intenção era melhorar suas condições econômicas pelo bem-estar de suas duas filhas, de dois e oito anos, diz. E para conseguir isso aceitou que sua condição de ex-guerrilheira fosse divulgada no horário nobre colombiano. Pacheco dançou ao lado de Daniela Ospina, a esposa do jogador James Rodríguez, do saltador Orlando Duque, de La Tigresa del Oriente (estrela do YouTube), e outros tantos personagens. “São oportunidades que surgiram e que agarrei porque quero seguir em frente.” Embora esteja há 10 anos longe da guerrilha, reconhece que não lhe havia ocorrido pensar que ter estado ali poderia lhe trazer fama. “Tento encarar isso de modo tranquilo”, diz.

Antes de aparecer pela primeira vez em público, trabalhava em uma fábrica de calças no sul de Bogotá. Tinha um horário de trabalho de oito horas e ganhava apenas o necessário para sustentar a família. Agora aparece na televisão nacional e diz que é cada vez mais reconhecida na rua: “Meu sonho não termina aqui, gostaria de contar de alguma forma a história da minha vida”, seja como atriz ou apresentadora. O que não esclarece é o quanto sua economia melhorou depois que se tornou um personagem público.

Pacheco tem consciência do ruído midiático ao seu redor desde que apareceu na Soho, e que agora se multiplicou com suas participações em Bailando con las Estrellas. As conversas nas redes sociais vão do insulto de quem considera que ela não deveria estar na televisão aos que opinam, como ela, que essa é uma nova maneira no caminho para a reconciliação depois de 50 anos de guerra. “O país tem de entender que cometemos um erro, mas que agora temos muito por fazer. Os desvinculados e desmobilizados merecem novas oportunidades.” Insiste em mencionar o termo “desvinculados” porque se aplica aos que, como ela, deixaram a guerrilha ainda menores de idade. “Eu fugi quando tinha 16 anos porque sabia que não podia continuar fazendo os meus pais sofrerem.” Em seu discurso também inclui uma mensagem de reconhecimento aos menores de idade na guerrilha. Dá seu caso como exemplo da adesão quase obrigada das crianças que crescem rodeadas pela violência e com poucas possibilidades de progredir. “Há muitos menores nas matas com vontade de sair e ter uma oportunidade”, afirma. Um relatório do Ministério da Defesa no ano passado revelou que em 14 anos mais de 14.000 menores se desvincularam de grupos armados ilegais na Colômbia. Um total de 66% havia estado nas Farc e 17%, no ELN.

“É preciso acreditar na reconciliação agora que o país vai mais adiante”, diz Pacheco, que conta como foi atuar ao lado de Jhon Frank Pinchao, um ex-sequestrado das FARC, que também é parte do elenco do programa. “A princípio pensei que não iria me aceitar, mas nos tornamos amigos. Temos uma relação bonita”, conta. Insiste em dizer que apesar do rótulo de estrela, como a batizaram na televisão, quer deixar uma mensagem sobre a inclusão de um guerrilheiro em todas as esferas da vida civil, até nos palcos.

Ana Pacheco.
Ana Pacheco.CANAL RCN

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