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Descontentamento social irrompe na França com greves de taxistas, controladores de voo e professores

Governo nomeia mediador para aplacar violência contra serviços de transporte particular, como o Uber

Polícia antidistúrbios e taxistas no anel periférico de Paris nesta terça-feira.Foto: reuters_live | Vídeo: Aurelien Meunier Getty Images

Esta foi uma terça-feira sombria para a França. As greves não foram maciças, mas conseguiram perturbar o tráfego aéreo e urbano e, sobretudo, deixaram à mostra o descontentamento social. Taxistas, controladores de tráfego aéreo e funcionários públicos (na maioria, professores) foram os protagonistas dos protestos. O quase estancamento da atividade econômica e o desemprego, que continua subindo, provocam mal-estar social contra o qual o Governo socialista se mostra impotente. O primeiro-ministro Manuel Valls prometeu nomear um mediador para solucionar os problemas dos taxistas, que não são novos.

Os protestos mais violentos ocorreram entre os taxistas, com 2.000 motoristas mobilizados. Seus problemas se acumulam. O negócio diminui, as licenças para operar são caras –entre 40.000 e 350.000 euros (176.000 e 1,55 milhão de reais)– e sofrem a concorrência de empresas de transporte particular, como o Uber e outras, que oferecem melhores serviços e a preços mais competitivos. A queima de pneus paralisando o tráfego em Paris, os choques violentos, os bloqueios nos aeroportos e as chamadas “operações tartaruga”, como a realizada no anel periférico de Toulouse conseguiram um enorme impacto na população. A polícia interveio em uma vintena de ocasiões e deteve catorze pessoas.

Valls se apressou a convocar os taxistas a seu gabinete para tentar acalmar os ânimos. Prometeu nomear um mediador e analisar a situação para chegarem a uma solução em conjunto no prazo de três meses. Mas os problemas dos taxistas são profundos. À crise se soma um sistema antigo (semelhante ao espanhol, com um mercado de licenças de segunda mão) que resiste mal à nova concorrência. A Lei Thévenoud, de 1 de outubro de 2014, tentou modernizar o setor e adaptá-lo ao mercado atual, mas não conseguiu. Segundo essa lei, os serviços de transporte com carros particulares (como o do Uber) não podem utilizar os sistemas de geolocalização (por isso, o UberPop está proibido) e tampouco serem chamadas pelos clientes em plena rua. Ainda assim, a cifra do negócio não para de crescer nesse segmento enquanto o táxi perde participação no mercado.

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A crise na França está se traduzindo em uma taxa de desemprego inédita no país (10,6% da população ativa) e um sentimento generalizado de cansaço e desesperança no futuro, como refletiu a sondagem anual do Centro de Pesquisas Políticas da Science-Po. Um total de 65% dos franceses afirma não ter confiança alguma na política, seja da direita ou da esquerda. Em tal ambiente, a promessa de Valls de resolver os problemas dos taxistas não surtiu efeito no curto prazo. O presidente da Federação Nacional de Taxistas, Ahmed Senbel, destacava a inoperância depois de ter sido recebido por uma longa lista de políticos nos últimos tempos, enquanto muitos taxistas, dizendo estar cansados de negociar, mantinham o bloqueio pela tarde no aeroporto de Orly e prometiam continuar ali durante a noite.

A greve dos controladores de voo, convocada pelos dois principais sindicatos do setor para esta terça e a quarta-feira, conseguiu durante seu primeiro dia o cancelamento de 20% dos voos de percurso médio. A companhia Easy Jet, que opera fundamentalmente em Orly, foi uma das mais prejudicadas, com o cancelamento de 35. A Aeroportos de Paris (ADP) afirma que todos os passageiros afetados tinham sido avisados a tempo para que não fossem inutilmente ao aeroporto.

Os sindicatos consideram que a bonança que o setor aéreo está registrando não está sendo traduzida em melhorias no trabalho e nos salários de seus afiliados. Em troca, queixam-se os sindicatos, está havendo uma redução de funcionários e de poder aquisitivo.

A mesma perda de poder aquisitivo mobilizou os funcionários públicos de diversos setores, entre os quais se destacam os professores e o pessoal da saúde. Os três grandes sindicatos (CGT, FO e Solidários) convocaram os protestos. No caso dos professores ainda há o mal-estar pela reforma escolar do Governo. Segundo o Ministério da Educação, a taxa de grevistas no segundo grau foi de 22,32% e no primeiro, 12,24. Pararam também 3,66% dos não docentes. A reforma do collège (alunos do segundo grau, entre 11 e 15 anos) entrará em vigor em setembro. Prevê a redução do ensino das línguas mortas e maior autonomia aos centros educacionais, com novas modalidades de ensino.

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