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A corrida dos 100.000 metros livres atrás das manifestações em São Paulo

Ciclo de manifestações iniciado em 2013 seguiu com força neste ano. A grande novidade são as pautas de direita nas reivindicações

Imagens mostram a diversidade de manifestações em SP neste ano.
Imagens mostram a diversidade de manifestações em SP neste ano.
Marina Rossi
Enviada especial ao Masp -

No dia 9 de janeiro, o Movimento Passe Livre foi ao centro da cidade de São Paulo protestar contra o aumento da tarifa do ônibus, reajustada naquele mês de 3,20 para 3,50 reais. A Polícia Militar e a Tropa de Choque reprimiram o ato. Ao menos 32 pessoas foram detidas, e a região do Teatro Municipal ficou enevoada pelo gás branco das bombas da PM. Era a primeira manifestação de 2015 na capital paulista.

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O MPL foi às ruas por mais de um mês, com ao menos um ato por semana. Os manifestantes "casaram" o prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT), com uma catraca. Foram protestar em frente à casa dele, marcharam na região central e na periferia e queimaram catracas de isopor. A tarifa segue, até hoje, a 3,50 reais. E o MPL não voltou mais às ruas de São Paulo. Deu lugar a outros movimentos. Como os ativistas ligados a movimentos culturais e ao meio ambiente, que cobravam a abertura do Parque Augusta. Em janeiro, ocuparam o local e ali ficaram por quase dois meses, até que a reintegração de posse os obrigou a deixar o parque. Não sem antes marcharem até a Prefeitura para se manifestar contra a construção de prédios no valioso terreno na área nobre da cidade.

Foi em março que a presidenta Dilma Rousseff viu na avenida Paulista a maior concentração de gente pedindo o impeachment. Mas a mesma avenida também foi palco, posteriormente, daqueles que eram contra a sua saída. Houve diversidade de movimentos e demandas, apontando para uma nova era de manifestações no país, inaugurada em 2013.

Não significa que antes disso ninguém ia às ruas. Mas os movimentos nas ruas estavam mais ligados a reivindicações trabalhistas, com greves, por exemplo, lideradas por sindicatos e marchas organizadas por partidos e categorias profissionais, como metalúrgicos, por exemplo. "Foi em 2013 que uma nova fase foi inaugurada", diz Pablo Ortellado, professor de políticas públicas na USP e um dos autores do livro 20 centavos: a luta contra o aumento. "Junho de 2013 foi uma explosão de uma nova geração de manifestantes desvinculados de partidos e fora da agenda do PT. E aos poucos a gente vai retomando esse grau de mobilização."

Adrian Gurza Lavalle, professor da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) concorda. Para ele, a novidade não é o fato de as pessoas estarem nas ruas, mas sim as características desses manifestantes. "A peculiaridade desse novo ciclo é que, pela primeira vez, o PT está do outro lado. Há um forte tom apartidário e um descrédito nas instituições", diz. "Outra novidade é a direita na rua, reivindicando pautas de direita. Isso significa que, pela primeira vez, a direita ou suas pautas conseguiram se desassociar da ditadura."

A avenida Paulista virou um verdadeiro protestódromo, tendo o vão do Museu de Arte de São Paulo como ponto de partida. Por ali passaram os que defendem a volta da ditadura. E os que pediram a legalização da maconha; os ambientalistas; os que foram ao rachado ato do Dia do Trabalho;  os contrários à lei da terceirização e ao ajuste fiscal, que passaram gritando “Fora Levy”. Os professores da rede estadual de ensino também foram às ruas. Depois, foi a vez dos alunos.

As mulheres também tomaram a avenida. Contrárias à aprovação de um projeto de lei que complica o atendimento de vítimas de estupro, elas marcharam duas vezes em São Paulo. E foram as primeiras a bradar, em massa, pelo 'fora Cunha'. Envolvido em investigações por corrupção e noticiado ao longo do ano como autor de diversas manobras na Câmara, ninguém gritou tão alto pela saída do presidente da Câmara como as mulheres.

Uma nova manifestação pró-impeachment já está, inclusive, marcada para o ano que vem: dia 13 de março. Em São Paulo, na avenida Paulista, é claro. Para Lavalle, é difícil prever se esse movimento ganhará ou perderá forças. "Não sabemos se isso tem sobrevida. Depende de vários fatores", diz. "O quanto você consegue mobilizar atores muito diversos em torno de uma agenda anti-petista é uma incógnita ainda."

Diversidade

Neste ano, as ruas foram diversas. “Isso aqui vai virar o Chile”, gritaram os estudantes, em alusão à Revolta dos Pinguins, movimento dos secundaristas chilenos em 2006. “Isso aqui parece a Venezuela”, entoaram alguns do movimento pró-impeachment, tentando comparar o governo petista ao chavismo. “Volta pra Cuba”, berraram os confusos.

Chutando baixo, foram ao menos 115 quilômetros percorridos, e corridos, atrás de manifestantes pela reportagem de EL PAÍS, somente em São Paulo. E não só a avenida Paulista foi palco para manifestações. Outras regiões da cidade, incluindo a periferia, e o nobre Morumbi, também ouviram protestos pelas suas vias. Em muitos, a polícia reprimiu. Em outros, tirou selfie com os manifestantes.

Até o fechamento desta reportagem, Dilma Rousseff continuava a presidenta do Brasil. Eduardo Cunha, da Câmara. A tarifa do ônibus segue a 3,50 reais em São Paulo. O projeto de lei que dificulta o acesso a atendimento de vítimas de estupro ainda tramita na Câmara. A maconha não foi legalizada, embora o Supremo Tribunal Federal tenha realizado o primeiro grande debate jurídico sobre o assunto. Os professores ainda ganham mal. Mas a reorganização escolar foi, ao menos, suspensa.

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