_
_
_
_

Ofensiva na Câmara para complicar atendimento a vítima de abuso sexual

PL 5069/13, de autoria de Eduardo Cunha, foi aprovado em comissão e precisa ir a plenário

Marina Rossi
Instalação em Pristina em homenagem a mulheres vítimas de abuso sexual da Guerra do Kosovo.
Instalação em Pristina em homenagem a mulheres vítimas de abuso sexual da Guerra do Kosovo.Embaixada da Noruega

Enquanto parte da sociedade se organiza para trazer à tona a questão do abuso sexual nas redes sociais, o Congresso brasileiro, mais uma vez, anda para trás. A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira um projeto de lei que complica e limita o atendimento às vítimas de violência sexual, sob patrocínio da bancada religiosa que deseja dificultar ainda mais casos em que o aborto é legal no Brasil

Mais informações
Um mapa aponta os lugares mais perigosos para as mulheres no Brasil
Qual é a graça, Alexandre Frota?
“O Estado não pode tutelar o corpo das mulheres”
Menina paraguaia de 11 anos estuprada pelo padrasto dá à luz
Ataques sexuais, um crime “com menor potencial ofensivo”

O PL 5069/13, de autoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e outros 12 deputados prevê que uma vítima de abuso sexual ou estupro terá que realizar um boletim de ocorrência e fazer um exame de corpo de delito para, só então, ser atendida em uma unidade de saúde. Pesquisas mundiais apontam, porém, que a maioria das mulheres que sofreram abuso não dão queixa na delegacia, por, dentre outras razões, medo do agressor.

O texto também modifica o tipo de atendimento que essa vítima receberá no hospital, vetando, por exemplo, que ela receba orientações sobre aborto legal —no país, somente em casos de estupro, de risco para a mãe ou e para fetos anencéfalos (com má-formação cerebral). "Além disso, ela só poderá receber medicamentos que não forem abortivos", explica a deputada Maria do Rosário (PT-RS), contrária ao projeto. Mas o texto não define o que é abortivo. "Ficará a critério do médico julgar se a pílula do dia seguinte, por exemplo, é abortiva ou não. Se ele achar que é, a mulher não poderá receber".

Para a deputada, o projeto de lei, que ainda deve ser votado pelo plenário, servirá para uma posterior proibição da pílula do dia seguinte, vendida hoje legalmente em qualquer farmácia. "Isso é a antessala da proibição da pílula do dia seguinte para as mulheres."

O texto aprovado na CCJ nesta semana não é o único que conta com o apoio do conservador Cunha. Acossado pelas acusações contundentes de corrupção feitas no âmbito da Lava Jato, o integrante da bancada evangélica tem no lobby religioso um poderoso aliado. O temor é que, sob pressão, Cunha acelere pautas conservadoras como manobra diversionista e como forma de galvanizar o apoio desse grupo parlamentar. Ainda esperam para entrar em votação: o projeto de Lei (PL) 7443/2006, que determina a inclusão do procedimento dentre os crimes considerados hediondos; o PL 1545/2011, que impõe ao médico que praticar o aborto, fora das hipóteses previstas em lei, uma pena de prisão que vai de seis a 20 anos; a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 164/2012, que diz que a inviolabilidade do direito à vida é garantia de todos “desde a concepção”, incluindo, portanto, o feto. Por fim, está o PL 5069/2013, que passa a considerar crime contra a vida o anúncio de substância ou objeto destinado à interrupção da gravidez e a orientação de gestantes para o procedimento, com pena de até dez anos de reclusão.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_