Não é “confronto”, é repressão
É possível que um estudante de 15 anos, de bermuda, 'enfrente' um policial, cassetete na mão e uma arma de fogo na cintura?
É possível que um estudante de 15 anos, de bermuda, chinelo e mochila, enfrente um policial, com colete à prova de tiros, um cassetete na mão e uma arma de fogo na cintura? Que tipo de enfrentamento é esse?
Quando dezenas de policias devidamente paramentados partem para cima de alunos menores de idade com a truculência que tem a Polícia Militar, isso não é confronto, mas repressão.
Sejamos coerentes: a polícia reprime manifestantes. E não entra em confronto com eles. A não ser que estejamos falando de manifestantes que sejam bandidos de alta periculosidade capazes de enfrentarem a polícia. Estudantes só conseguem, no máximo, correr dela. Isso quando as tiras das havaianas não soltam no meio do caminho.
Nos últimos dias, quanto mais o governo Alckmin falou em diálogo, mais a polícia reprimiu os adolescentes nas ruas e nas escolas. Essa atitude da PM, que não condiz com o discurso proferido pelo Governo, só contribui para o aumento da tensão com os estudantes. E a possibilidade de haver, de fato, uma negociação parece ficar ainda mais distante.
Soma-se a isso o já conhecido histórico de abusos da Polícia Militar. Em junho de 2013, a violência da PM para reprimir manifestantes deixou um fotógrafo cego de um olho e dezenas de feridos. O confronto, neste caso, tem sempre o mesmo perdedor.
Na língua portuguesa, confrontar significa pôr frente a frente; enfrentar. O dicionário Aurélio também define confronto como briga. E usa um título de uma reportagem dos resquícios da ditadura, quando, em 1985 o já extinto Jornal do Brasil escreveu "quatro pessoas ficaram feridas e 14 foram detidas em longo confronto de policiais com milhares de manifestantes." Há 30 anos dizia-se que manifestantes e a polícia entraram em confronto.
Já reprimir, significa sustar a ação ou movimento de; conter, reter, moderar, coibir (...). Essas palavras são mais coerentes com a ação da PM quando é acionada para controlar a manifestação dos secundaristas. Quando um batalhão munido usa bombas de efeito moral para conter um punhado de estudantes, ou arrasta meia dúzia deles para a delegacia mais próxima para encerrar uma manifestação.
Das jornadas de junho pra cá, São Paulo foi tomada outras dezenas de vezes por manifestações, principalmente na região central da cidade. Algumas delas contaram com a presença de black blocs, grupo de mascarados que tem como tática provocar a polícia que, neste caso sim, entra em confronto com o grupo e acaba por reprimir todo o resto da marcha. Essa é a diferença.
Nos últimos dias, as manifestações dos estudantes em São Paulo contrários à reorganização escolar não têm a participação dos black blocs. Ainda assim, elas estão terminando em repressão, o que demonstra que, no mínimo, a secretaria de Segurança Pública não aprendeu ainda a lidar com manifestações. Talvez nunca aprenda. Mas nós já não podemos ignorar a grande diferença entre confrontar e reprimir.
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