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Anonymous declara guerra ao Estado Islâmico: quem são e o que querem

Coletivo de ciberativistas garante ter desativado 9.200 contas de Twitter de jihadistas

Vídeo: L. M. RIVAS / Á. PLASCENCIA
José Manuel Abad Liñán

O Anonymous não é nada mais específico do que um enxame, presumivelmente enorme, de hackers conectados na web e felizes por esconderem seus nomes e suas habilidades para a glória maior do coletivo. O WikiLeaks, a grande organização de vazamento de informações, os converteu em ativistas políticos em 2010. Até então, eram uma mera “marca de usuários conhecidos por passar trotes em restaurantes, perseguir pedófilos e protestar contra a Igreja da Cientologia”. Assim a jornalista Parmy Olson, da revista Forbes, define o cibercoletivo, que no fim de semana se atreveu pela segunda vez a ameaçar o Estado Islâmico. Seu livro We are Anonymous é o resultado de sua amizade com Topiary, um dos astros entre os hackers.

Página falsa de 'The Sun' criada pelo coletivo de 'hackers' LulzSec.
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Em dezembro de 2010, a Amazon, PayPal, Mastercard, Visa e o banco suíço Postfinance rejeitaram transferir doações à organização de Julian Assange; os ciberativistas se lançaram contra seus portais eletrônicos com o aríete dos ataques DDoS, um martelar constante de visitas a uma página de Internet que fica bloqueada por não dar vazão a todos os acessos. Os ciberativistas convocaram seus milicianos com esta frase categórica: “Como se unir à puta colmeia”. Segundo alguns especialistas, os hackers não teriam feito mais do que ampliar o alcance de uma ação anterior, destinada a apoiar a página de downloads Pirate Bay, para criar sua Operation Payback, seu particular olho por olho dente por dente contra os inimigos de Assange.

A colmeia de mascarados surgiu em algum momento em torno de uma página na Internet para freaks e conteúdos quase pornográficos: o portal de imagens japonês 4chan. Ativo desde 2003 e ainda hoje com uma aparência amadora, é guardião de conteúdos ousados, como os desenhos lolicon, um mangá de lolitas acima do tom. Nessas catacumbas da web, ao abrigo da perseguição dos Estados Unidos, contataram futuros membros do Anonymous, segundo Olson. A partir de 2009, incorporam a máscara de tom gozador com que o inglês Guy Fawkes e os demais integrantes da Conspiração da Pólvora tentaram em 1605 fazer voar pelos ares a Câmara dos Lordes, na Inglaterra. Um romance gráfico primeiro e, depois, um filme, V de Vingança, o catapultam ao imaginário popular.

Contra o Anonymous, o "Ciberexército Islâmico"

Segundo o portal da empresa de segurança Site Intel Group, um autodenominado Ciberexército Islâmico (ou ICA) respondeu ao Anonymous chamando-os de "idiotas" e dando instruções básicas para qualquer usuário avançado da Internet sobre como se defender. O ICA reivindicou recentemente um ciberataque contra páginas de Internet dos ministérios franceses da Defesa, Relações Exteriores e Cultura, sem maiores danos.

O coletivo reivindicou –ou lhe atribuíram, sem que tenha apresentado desmentidos– ataques a sites oficiais da China e à página da Justiça britânica, da qual se acredita que tenha roubado 1.700 gigas de informação. Também atacou o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) em protesto pela perseguição de um ativista. Na Espanha, atacou as páginas da Câmara dos Deputados, do PSOE e da SGAE com a tentativa de aprovação da chamada Ley Sinde. No México, protestam contra a demissão da jornalista Carmen Arístegui.

Em 2010 convocaram seus ‘milicianos’ com esta frase categórica: "Cómo unir-se à puta colmeia"

Comprometeram-se contra o Estado Islâmico pouco depois dos atentados ao Charlie Hebdo, em janeiro. Sua vingança chegou em forma de vazamento: revelaram na Internet uma lista com 9.200 tuiteiros, supostamente interessados no EI ou vinculados ao grupo. A ameaça redobrou agora, depois dos atentados de sexta-feira: o Anonymous, por meio de seu característico vídeo (usam com frequência o mesmo, mudando o texto), anuncia o maior ciberataque contra os jihadistas: “A guerra irrompeu, preparem-se. O povo francês é mais forte que tudo”. Despede-se dando os pêsames aos familiares das vítimas e afirmando: “Somos Anonymous, somos legião. Não perdoaremos, não esqueceremos. Aguardem-nos”. Além da máscara, a voz que usam em seus comunicados, criada por um sintetizador, Loquendo, se transformou em uma de suas insígnias.

Apesar do anonimato, a polícia conseguiu identificar alguns dos anonymous mais proeminentes. Entre eles, os do coletivo LulzSec, um cibercorpo de elite colaborador do Anonymous, que, na base de rastrear flancos frágeis das grandes páginas da web, conseguia entrar nelas, extrair dados e zombar de sua pompa e ostentação. É o caso da companhia de tecnologia Sony: em junho de 2011, garantiram ter roubado um milhão de perfis de usuários do portal SonyPictures.com, embora a empresa tenha estimado a dimensão do botim em uns 35.000. O desejo de ridicularizar, uma das marcas do Anonymous desde suas origens, o levou também a piratear a capa do jornal The Sun para publicar o descobrimento do cadáver de seu dono, Rupert Murdoch.

Fixaram altas metas. Tinham predileção pela CIA e a Agência Nacional contra o Crime, do Reino Unido. Piratearam suas páginas, mas represálias não tardaram a chegar: em maio de 2011 o FBI, outra de suas vítimas, sequestra durante 24 horas o líder da LulzSec, Hector Xavier Monsegur, Sabu, o converte à sua causa e o reintegra à LulzSec como informante.

Assim desmascarou outros membros, como Jeremy Hammond, um hacker de Chicago que havia roubado os dados bancários de 860.000 clientes da empresa de serviços de inteligência e espionagem Stratfor, e depois os publicou no WikiLeaks. Foi preso em 2012 e cumpre 10 anos de prisão desde novembro de 2013. O FBI o incluiu em sua lista de terroristas. Sua escola online para hackers, Hack This Site, continua atualmente fora do ar. Acabaram sucumbindo também Jake Davis, ou Topiary, Ryan Cleary, um adolescente com síndrome de Asperger, o ex-soldado Ryan Ackroyd e Mustafá Al-Bassam ou T-flow, ligado à causa dos jovens da primavera árabe da Tunísia.

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