Pronto para virar?
EL PAÍS traz uma lista de sugestões para curtir a 11ª edição da Virada Cultural
Vem aí mais uma Virada Cultural a São Paulo, repleta de atrações gratuitas, muitas ao ar livre, com um maior alcance territorial na cidade (ainda que com um perímetro reduzido no centro para evitar distúrbios) e ganas de que o paulistano assuma de vez que seu lugar é nas ruas.
De 18h do sábado, dia 20 de junho, às 18h do domingo, dia 21, serão 1.500 atrações. A seleção musical, prato principal no menu, conta com opções para agradar todos os gostos: da cantora de axé Daniela Mercury ao rapper Emicida, da dupla caipira Zé Mulato e Cassiano à cantora portuguesa de fado Gisela João e do pagodeiro Belo e ao cantor Caetano Veloso.
Uma festa portuguesa, com certeza
Brasil e Portugal “casaram-se” no passado e, depois de tanto tempo juntos, esqueceram de pôr os olhos um nos atributos do outro. “Típico de um longo casamento”, acredita o cônsul português Paulo Lourenço, instalado no Brasil há três anos. Pensando em chacoalhar essa relação tão presa ao passado, o Consulado de Portugal em São Paulo se aproximou da Secretaria de Cultura da cidade e propôs que se associassem para compor uma homenagem portuguesa no marco da Virada Cultural, que nos últimos anos se tornou o principal evento de tomada das ruas paulistanas pela cultura.
“Faz todo o sentido para nós, já que São Paulo é a maior cidade de língua portuguesa do mundo, e a Virada, uma grande oportunidade de vivenciar o espaço público através de uma programação cultural que poderá reapresentar Portugal aos brasileiros”, afirma Paulo. Não foi nem preciso fazer terapia de casal: a cidade topou, e os portugueses serão os primeiros homenageados do evento, que até hoje não havia experimentado esse caráter temático – explorado em feiras literárias.
No marco desta Virada, que conta este ano com 1.500 atrações gratuitas, acontece portanto o Experimenta Portugal, concentrado em um palco fixo no Parque do Ibiraquera. A programação, idealizada pelo produtor cultural Bruno Assami, se distribui em quatro eixos – inovação, gastronomia, turismo e cultura – e se destaca em especial pelas atrações musicais.
Contrariando o fluxo mais comum até hoje, de artistas brasileiros indo tocar em Portugal, virão cativar os brasileiros as jovens cantoras Carminho e Gisela João, representantes do tradicional fado português, que anda na moda em Portugal, porém com nova roupagem. A elas, juntam-se as bandas Mpex, Black Mamba e Souls of Fire, a cantora Mimicat (sensação portuguesa do momento) e o DJ Rui Vargas.
À mesa, a Virada lusitana acontece espalhada em restaurantes típicos da cidade, que promoverão trocas de experiências entre chefs portugueses e brasileiros, além de degustações de comidas tradicionais e vinhos. Para falar de turismo, que é um grande atrativo de Portugal – onde, só no ano passado, circularam oito milhões de turistas brasileiros –, livros e filmes relacionados ao país serão exibidos com o objetivo de apresentar destinos além de Lisboa e Porto.
Paulo Lourenço destaca que, há quatro, cinco anos, teve início um ciclo intenso de intercâmbio econômico e cultural entre brasileiros e portugueses. Participar com holofotes da Virada Cultural, para ele, serve para registrar na mente do paulistano que isso está acontecendo. Mas é verdade que os dois lados passaram décadas sem se sentir atraídos. “Acho que isso se deve ao peso da história, de um passado que impedia ver o presente. Da mesma maneira, dá para notar que os dois países vivem em um contra-ciclo econômico: quando um está em crise, o outro não. Essas crises geram fluxo de pessoas de cá para lá e vice-versa. Também está o fato do Brasil ser um país grande, ainda muito voltado para dentro”, explica o cônsul.
Além da música, haverá também uma intensa agenda de cinema, e de gastronomia – que ganha destaque este ano, graças à recente onda paulistana da comida de rua –, além de atividades voltadas às crianças dentro da Viradinha, instalada no domingo no entorno da Praça Rotary, onde fica a Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato.
A festa começa oficialmente com um show da Orquestra Paulistana de Viola Caipira, regida pelo maestro Rui Torneze, no palco junino da Praça da República. Termina com um bis de Abraçaço, show-performance de Caetano, e no meio disso há muito mais. Não dá para não mencionar duas homenagens: a Portugal, que vive nova lua de mel com o Brasil (leia ao lado), e à Jovem Guarda, berço do rock nacional que celebra 50 anos em 2015.
Dentro desse vasto leque de possibilidades, o EL PAÍS preparou uma lista de sugestões tão ecléticas quanto a própria alma paulistana. Prepare um bom par de sapatos e uma roupa em camadas (para suportar do calor do meio dia ao frio da madrugada) e fique pronto para virar.
SÁBADO
18h - Orquestra Paulistana de Viola Caipira/Arraial da Inezita Barroso - Praça da República (abertura oficial da Virada)
Bom começar do começo e, além de tudo, louvar o espírito caipira que é uma marca paulista e, de certa maneira, também muito paulistana.
19h - Galinhada/Galinhódromo - Praça Roosevelt
A já tradicional Galinhada organizada por chefs da cidade em tom informal (e preço idem) terá espaço permanente nesta Virada, das 19h do sábado às 3h do domingo. Vale lembrar que o prato é típico do menu caipira brasileiro.
21h - Daniela Mercury com Márcia Castro - 30 anos do Axé/Palco Júlio Prestes
O axé, um dos ritmos nacionais mais queridos, está entrando na casa dos 30, e Daniela Mercury saberá dar uma boa festa para levantar o ânimo do gênero.
22h - João Bosco/Parque do Ibirapuera
Música popular brasileira de qualidade está garantida com o show desse cantor mineiro que deverá cantar hits de sua carreira, como “O Bêbado e o Equilibrista”. Para quem perder essa apresentação, o músico também participa da reunião de todos os grupos, em um abraço simbólico ao prédio do Theatro Municipal, no domingo, às 11h30.
* uma opção simpática neste mesmo horário é uma roda de samba com Dani Mattos e Toque de Bambas, que acontece no Cemitério da Consolação na companhia de sambistas mortos e enterrados lá, como Paulo Vanzolini.
23h - Sonido Gallo Negro (México)/Palco Casper Líbero
Esse grupo mexicano mostra seu “ritmo selvagem” em um palco desta Virada que foi dedicado especialmente à cultura musical dos vizinhos latinos. Fique de olho também em Anita Tijoux, Babel e outros mais.
DOMINGO
0h - Mimicat/Parque do Ibirapuera
Diva da música (jovem) portuguesa, é uma das boas surpresas da nova cena musical de Lisboa, que passeia pelo jazz, pelo blues e pelo soul com estilo.
1h30 - Hair/CineSesc
Pince um filme da programação cinematográfica. Pode ser Hair, dirigido por Milos Forman em 1979, que levará você de volta ao ritmo da década de 70 - nos vários sentidos do termo.
6h - Roda de Samba do Quilombo/Sé-XV de Novembro - Palco Geraldo Filme
Que tal um sambinha de café da manhã? Se estiver cansado, samba é o que não falta na programação. Procure outro horário para não perder especialmente as apresentações de samba de raiz.
8h - Cardápio de Dança - Liga da Dança Dura/Largo São Bento
Uma mistura de dança formal e improvisação, inspirada nos movimentos urbanos e bastante interativa com a plateia.
9h - Trupe Pé de História - Tablado -Biblioteca Monteiro Lobato (Viradinha)
A Viradinha acontece só no domingo, mas é intensa e variada. Quem tiver crianças em casa, acorda cedo de qualquer jeito e pode logo pular da cama para acompanhar uma contação de histórias.
11h - Mamaço
Em pleno século XXI, há quem se incomode com mulheres que amamentam em público. Sendo assim, quem tiver um bebê para pendurar no peito pode gentilmente marcar seu espaço e comparecer a esse ato materno-político de primeira importância.
12h - Festival Latino/Largo da Batata
Para curtir a culinária e o artesanato da América Latina.
14h - Coral indígena Guarani Ara Ovy
A oferta de corais deste ano é vasta. Que tal um coral indígena para variar o repertório até mesmo de quem é íntimo dos corais?
16h30 - Gonzagão – A Lenda/Palco Princesa Isabel - Musicais
Nesse palco só de musicais, com os melhores hits brasileiros encenados nos últimos anos. Gonzagão é garantia de embalo e merece o voto.
18h - Gilson Peranzzetta/Praça Dom José Gaspar (Piano na Praça)
Termine a festa em mais introspectivo com uma apresentação de piano clássico. E comece a pensar na vida real, que recomeça na segunda-feira.
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