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França começa a sair do confinamento com abertura de escolas e circulação reduzida

Volta das atividades, a partir de segunda-feira, não será igual no país. Governo espera fazer 700.000 testes por semana

O colégio particular Institut Sainte Geneviève, em Paris, se prepara para receber professores e alunos a partir da semana que vem.
O colégio particular Institut Sainte Geneviève, em Paris, se prepara para receber professores e alunos a partir da semana que vem.PHILIPPE LOPEZ (AFP)
Marc Bassets

A França foi dividida em duas. Uma vermelha, a outra verde. A primeira corresponde às zonas mais golpeadas pela covid-19: Paris e sua região, mais o quadrante nordeste do país, onde reside 40% da população. Na segunda, a verde, a epidemia está controlada. Nesta quinta-feira, seus cidadãos descobriram em qual das duas Franças vivem e, portanto, a que ritmo viverão a retirada do confinamento que começará na próxima segunda-feira, 11 de maio.

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Nas zonas vermelhas, as escolas intermediárias —com alunos de 11 a 14 anos— abrirão mais tarde que no resto do país, e os parques e jardins continuarão fechados. Em Paris, o transporte público ficará submetido a regra rigorosas, com multas para quem não usar máscara. Antes de 2 de junho, será reavaliada situação em cada zona para dar lugar à fase seguinte. O primeiro-ministro Édouard Philippe apresentou, acompanhado de vários ministros, as principais medidas do desconfinamento.

Sistema de testes. O final do confinamento obrigatório, que começou em 17 de março, estava condicionado à capacidade para fazer exames nas pessoas com sintomas da doença. “A França está preparada para fazer testes maciçamente”, anunciou o ministro da Saúde, Olivier Véran, em uma entrevista coletiva. Ele informou que, quando um caso positivo for detectado, as pessoas que tiveram contato com o paciente serão localizadas e então terão que se submeter a duas semanas de isolamento e fazer um exame. O Governo acredita que haverá como testar até 700.000 pessoas por semana. A detecção dos casos suspeitos por meio de um aplicativo de celular não está prevista nesta etapa.

Lenta volta às aulas. As escolas infantis e primárias, para alunos até 11 anos, reabrem em 11 de maio em todo o país, mas a volta será lenta e voluntária. Na segunda e terça-feira, os professores já voltarão aos colégios para se prepararem. A prioridade será para os alunos do último ano de pré-escolar e dos primeiros anos do primário, além de crianças com deficiências, filhos de profissionais da saúde e alunos com maiores dificuldades educacionais, agravadas pelos quase dois meses de reclusão. Haverá um máximo de 10 alunos por classe na pré-escola e 15 no primário. O ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, informou que entre 80% e 85% das escolas abrirão. Esperam-se um milhão de alunos e 130.000 professores.

Transporte em Paris. Quatro das 13 regiões da França metropolitana (ou seja, sem contar regiões ultramarinas) estão no vermelho: Île-de-France (Paris e sua região), Hauts-de-France, Grande-Leste e Borgonha-Franco-Condado. A primeira, pela densidade da capital e sua periferia e pelo impacto da epidemia, terá regras particulares, ainda mais rigorosas que no resto do país. Para usar o transporte público em horários de pico será preciso portar uma declaração de que se trata de um deslocamento por motivo profissional ou de força maior. E será obrigatório usar máscara, exceto os menores de 11 anos, sob pena de multa de 135 euros (cerca de 850 reais). Para andar na rua, como norma geral, essa proteção não será obrigatória. Na capital e sua região, os centros comerciais com mais de 40.000 metros quadrados não poderão abrir na segunda-feira. No resto da França, sua abertura depende da autorização dos préfets (representantes do Governo central nas regiões).

Liberdade de circulação reduzida. A partir de segunda já não será mais necessário, para sair à rua, levar o atestado que qualquer um podia imprimir ou baixar no celular, explicando os motivos da saída. Também as pessoas idosas ou vulneráveis poderão deixar seu confinamento, embora o primeiro-ministro tenha lhes recomendado “as regras de prudência mais rigorosas”. O atestado continuará sendo exigido para deslocamentos a distâncias superiores a 100 quilômetros do domicílio, e viagens além desse raio só serão permitidas por motivos profissionais ou de força maior. Também serão mantidas, pelo menos até 15 de junho, as restrições nas fronteiras com os vizinhos europeus. Quanto ao acesso às praias, embora a norma geral proíba, os préfets poderão permitir sua abertura a pedido dos municípios.

Comércio aberto, mas não bares e restaurantes

“A vida social e econômica pode voltar a começar”, disse o ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, na entrevista coletiva em que vários membros do Governo francês anunciaram os detalhes da desescalada a partir de 11 de maio. Le Maire explicou que todos os comércios, fechados desde 15 de março, retornarão à atividade, exceto cafés, bares e restaurantes. A decisão sobre a data da abertura será tomada no final de maio.

O imperativo econômico, segundo o Governo francês, exigia reiniciar o sistema educacional para permitir que os pais saiam para trabalhar

Na segunda-feira, segundo o ministro, voltarão a funcionar 400.000 empresas com 875.000 empregados, incluindo 77.000 barbearias, 33.000 lojas de roupa, 15.000 floriculturas e 3.300 livrarias. Em setores que funcionaram a meio gás, como a construção, o objetivo do ministro é que possam retomar a plena atividade no final deste mês. “Fico contente de que em alguns setores, como o automobilístico, as fábricas voltem a funcionar”, afirmou.

Le Maire garantiu a manutenção, durante o mês de maio, do fundo de solidariedade para pequenas empresas que tiveram que parar devido ao confinamento. E confirmou a supressão das contribuições sociais de março, abril e maio para as empresas que tenham sido obrigadas a fechar durante estas semanas.

O dilema na França, como em outros países, era em que momento ativar o botão de reinício da atividade econômica sem correr riscos sanitários excessivos. O imperativo econômico, segundo o Governo francês, exigia reiniciar o sistema educacional para permitir que os pais saiam para trabalhar, caso não tenham como fazer isso em casa. No caso de um recrudescimento da epidemia, o Governo não descarta recuar e voltar a confinar.

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