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Embarcação com imigrantes naufraga no Canal da Mancha e deixa ao menos 20 mortos

Governo francês descreve como “tragédia” o acidente com o barco que tentava chegar irregulamente à costa britânica

Um grupo de mais de 40 imigrantes a bordo de um barco inflável deixou a França na quarta-feira com destino ao Reino Unido
Um grupo de mais de 40 imigrantes a bordo de um barco inflável deixou a França na quarta-feira com destino ao Reino UnidoGONZALO FUENTES (Reuters)
Silvia Ayuso

Ao menos 20 imigrantes que tentavam chegar à costa britânica vindos da França pelo Canal da Mancha morreram nesta quarta-feira, segundo anúncio das autoridades francesas. Teme-se que o número seja ainda maior, na medida em que avança a operação de resgate. A tragédia, a pior dos últimos anos nesta área, é mais um exemplo do forte aumento deste tipo de imigração irregular, o que tem causado fortes tensões entre Paris e Londres, que são mutuamente responsáveis pela situação.

“Forte emoção diante do drama de muitas mortes após virar um barco de migrantes no [Canal] da Mancha”, tuitou o Ministro do Interior, Gérald Darmanin. Ele anunciou que estava viajando a Calais para se informar da situação. “Nada que dissermos será suficiente frente à natureza criminosa dos traficantes que organizam essas viagens. Eu vou lá”, acrescentou. O primeiro-ministro Jean Castex lamentou os “muitos desaparecidos e feridos” na “tragédia” marítima. Eles são “vítimas de traficantes criminosos que exploram seu desespero e miséria”, frisou, garantindo que acompanha a situação “em tempo real” de Paris, onde permanece isolado após ter testado positivo para covid-19 esta semana.

Três barcos e dois helicópteros estavam trabalhando no resgate, depois que um barco de pesca notificou as autoridades que “numerosos náufragos” foram vistos flutuando nas águas do Estreito de Pas-de-Calais, explicou a Prefeitura Marítima de La Mancha e do Norte Mar em um comunicado. Várias pessoas foram resgatadas, embora o prognóstico vital de várias delas seja reservado, acrescentou.

As mortes por naufrágios no Canal da Mancha são muito raras — ao contrário do Mediterrâneo — devido à vigilância dos franceses e patrulhas britânicas. Este ano, houve mais de 40.000 tentativas de travessias marítimas, em comparação com 12.000 em 2020, de acordo com fontes do Interior. As agências policiais francesas conseguiram evitar que 57% dos barcos precários usados por imigrantes saíssem até agora este ano, segundo as mesmas fontes.

Entre 2018 e 2020, apenas 11 mortes foram registradas nesta área, que é o ponto mais próximo entre as costas europeia e britânica, razão pela qual as tentativas de chegar ao Reino Unido por mar têm se multiplicado, especialmente porque a forte segurança tem dificultado o trânsito irregular pelo Eurotúnel e por balsas.

Autoridades têm alertado que o uso cada vez mais precário desses barcos poderiam levar a uma tragédia semelhante a qualquer momento. Recentemente, a rede de lojas de esportes Decathlon proibiu a venda de caiaques nesta região para evitar que essas canoas cheguem ao Reino Unido . Na noite da última sexta-feira para sábado, 243 migrantes foram resgatados por patrulhas francesas.

No início de novembro, quase 1.200 pessoas conseguiram cruzar o canal, segundo as autoridades britânicas. O recorde de travessias irregulares não para de crescer, principalmente a partir do verão.

Após uma dura troca de acusações entre Paris e Londres, que acusa a França de não fazer o suficiente para evitar que os migrantes deixem suas costas, o governo francês ordenou na semana passada o desmantelamento de Grande-Synthe, entre Calais e Dunquerque, do maior campo de migrantes irregulares nos últimos anos, o que significou o deslocamento de mais de mil pessoas. Além disso, as autoridades anunciaram a prisão de 35 suspeitos de tráfico de pessoas ou envolvidos em atos criminosos. No total, até agora em 2021, a França diz que desmantelou 30 redes de tráfico, contra 23 em 2020.

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