Trump defendeu apelo de invasores do Capitólio de “enforcar Pence” no dia 6 de janeiro

Numa entrevista que acaba de vir a público, o magnata demonstrou simpatia com as ameaças feitas por seus apoiadores na invasão ao Congresso

Washington -
Um apoiador de Trump usando uma máscara de gás em 6 de janeiro em Washington, pouco antes do ataque ao Capitólio.ROBERTO SCHMIDT (AFP)

Donald Trump fez defesa de um apelo dos manifestantes que invadiram o Capitólio em Washington no dia 6 de janeiro quando gritaram para “perdurar [seu vice-presidente] Mike Pence”. Naquele dia, Pence presidia a sessão do Senado na qual ele deveria certificar a vitória de Joe Biden nas eleições de novembro de 2020. Trump fez essa defesa ao jornalista da ABC News Jonathan Karl em uma conversa que agora vem à tona.

Trump pediu a Pence que usasse seu cargo de vice para não validar a vitória democrata. Quando ele se recusou, ele se tornou um traidor aos olhos dos seguidores do ex-presidente. Milhares deles se reuniram em 6 de janeiro em Washington para uma manifestação fora do Capitólio que levou ao ataque.

A entrevista com Karl veio a público quase oito meses depois de ter sido realizada no clube Mar-a-Lago (Flórida), o refúgio preferido do ex-presidente. Ela vem à tona em plena investigação sobre a invasão daquele dia, investigação esta que Trump tenta torpedear a qualquer custo, e bem a tempo de despertar o interesse pelo livro de Karl, Betrayal (Betrayal), cuja publicação está marcada para a próxima semana.

Na gravação, divulgada nesta sexta-feira no site da Axios, ouve-se o seguinte diálogo:

“Ele [Pence] poderia ter feito isso [evitar a nomeação de Biden] ... e bem, as pessoas estavam muito zangadas”, disse Trump.

- “Eles disseram: ‘Vamos enforcar o Mike Pence’”, acrescentou Karl.

- “É apenas senso comum, Jon. É de senso comum entender o que você se supões que se deve proteger. Como você pode permitir isso? Como você pode deixar que uma votação fraudulenta ocorra [se legitime] no Congresso? “Trump insistiu.

Mais tarde, o ex-presidente enfatiza sua teoria, que se provou falsa, de que Pence tinha a capacidade de anular os resultados de um punhado de estados indecisos, como Wisconsin, Arizona, Michigan, Pensilvânia, Geórgia e Arizona, onde Trump sustenta, sem evidências, de que houve fraude eleitoral generalizada.

Em outro ponto da entrevista, Karl pergunta ao magnata se no dia 6 de janeiro ele estava preocupado com a segurança de Pence, que teve que se refugiar dentro do Capitólio com o resto dos senadores enquanto uma multidão tomava conta do prédio. “Não, pensei que estava protegido e me disseram que estava em boas condições”, disse ele.

Nesta quinta-feira, um tribunal de apelações bloqueou temporariamente a divulgação de documentos da Casa Branca sobre o ataque, que foi solicitada em agosto por uma comissão da Câmara dos Deputados, responsável por investigar o episódio daquele dia. Uma juiza determinou na terça-feira que o Congresso tem o direito de acessar os papéis de Trump, que com a decisão do tribunal de apelações obteve uma trégua até 30 de novembro. O republicano quer que esses documentos sejam mantidos em segredo.

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